Moro ainda tenta subir na vida nas costas de Lula

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Ele voltou. Atravessou o túnel do tempo e desembarcou em 2022, vinte anos depois, para tirar de novo o Brasil do buraco.

Fizera isso no já longinquo 2002, quando disputou pela quarta vez a Presidência. E venceu.

Lula deixou o poder em 2010 com 87% de aprovação. Jamais governante nenhum deste país conseguiu feito igual. E, no mundo, tampouco. Não de verdade, sem manipulação. Dado concreto: 87% de aprovação.

Por isso, ele fará o que fez em 2002: não alimentará gente que o ataca para aparecer.

Moro já usou demais a imagem, o nome, a honra e a vida de Lula em benefício próprio e quer fazer isso de novo. Doria baba puro fel o tempo todo. Ciro é só rancor, arrogância e maledicência.

Dar resposta a isso? Pra que? Não há o que responder além de pare de falar mal de mim e diga o que vai fazer pelo povo. Gente que promete milagres falando mal do outro e quando assume não faz nada, já temos. Elegemos em 2018.

Quer dizer, a maioria elegeu. Porque eu não elegi esse cara. Não sou burro.

Confira, abaixo, a reportagem sobre como Lula resolveu tratar os oportunistas.

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Folha de SP – 31 de março de 2022

Em meio a um dia conturbado no cenário político nacional, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ignorou os anúncios dos pré-candidatos Sergio Moro e João Doria (PSDB) e adotou uma linha “paz e amor” em ato político na Bahia.

“Eu vou evitar falar mal dos outros. Eu vou falar bem de nós”, afirmou ou ex-presidente logo no início de seu discurso na solenidade de lançamento da pré-candidatura do ex-secretário da Educação Jerônimo Rodrigues (PT) ao Governo da Bahia.

Nesta quinta-feira (31), o presidenciável Sergio Moro assinou ficha de filiação à União Brasil e disse que abriu mão “neste momento” de disputar o Planalto. Doria, que havia indicado a aliados que desistiria da disputa, recuou e afirmou que mantêm a sua pré-candidatura.

Lula e Jerônimo Rodrigues, pré-candidato do PT ao governo da Bahia
Lula e Jerônimo Rodrigues, pré-candidato do PT ao governo da Bahia – Ricardo Stuckert / Divulgação
Lula repetiu que ainda não decidiu se será candidato ao Planalto, mas projetou um governo sem rancores caso seja eleito.

“Eu não posso governar com ódio, não posso governar querendo vingança contra ninguém. Tenho que governar com o coração. Governar com coração de mãe e tratar daqueles que mais precisam”, disse.

O petista ainda fez referências à Lava Jato, mas não citou Moro: “Estava vendo companheiro com uma placa aí que ele estava estava escrito assim: ‘Lula, me perdoe, porque eu acreditei na Lava Jato’. […] Eu não preciso te perdoar, porque você foi enganado. Eu já perdoei até quem te enganou, porque nós vamos vencer essa gente”,

bém evitou fazer referências aos potenciais adversários do PT ao governo da Bahia, e não citou os pré-candidatos ACM Neto (União Brasil) e João Roma (PL) : “Eu nem sei quem são os nossos adversários”, disse o petista.

A postura amena em relação a ACM Neto contrasta com campanhas anteriores na Bahia, quando Lula e o ex-prefeito de Salvador trocaram rusgas e críticas públicas.

Na pré-campanha ao governo da Bahia neste ano, ACM Neto adotou uma estratégia de palanque aberto, tem evitado críticas a Lula e terá em sua coligação apoiadores do petista.

Lula destacou que apoiará Jerônimo Rodrigues na corrida pelo governo baiano e se referiu ao pré-candidato baiano como “esse Jerônimo que ainda nem conheço bem”. Também destacou o trabalho do PT na Bahia, que governa o estado há quatro mandatos: “Estamos governando a Bahia há 16 anos. Então, temos o que mostrar ao povo baiano”, afirmou.

O ato com Jerônimo Rodrigues, teve como objetivo central dar uma demonstração de força e de unidade. Cerca de 3.000 pessoas participaram do lançamento da pré-candidatura em uma casa de shows de Salvador, incluindo caravanas de eleitores que virão de cidades do interior.

Foram distribuídos adesivos com as fotos de Lula, Jerônimo Rodrigues e Otto Alencar, que será o candidato a senador na chapa governista. Alto-falantes tocavam jingles em ritmo de axé.

No início da tarde, houve tumulto e parte da militância forçou os portões para entrar na casa de eventos. Parte deles admitiam desconhecer o pré-candidato a governador: “Não sei nada sobre ele”, disse o nutricionista Ícaro Ferreira, 33, que trazia no peito um adesivo com o slogan “time de Lula”.

Em discurso na solenidade, o senador Jaques Wagner (PT) destacou a necessidade de voto casado nas eleições nacional e estadual.

“Lula vai dizer que é um político que tem lado. Tenho certeza que ele vai dizer ‘aqui eu tenho um time’. Para que ninguém tenha dúvida”, afirmou.

O governador Rui Costa (PT) prometeu a Lula uma larga margem de votos no estado: “Você terá na Bahia no mínimo 70% dos votos no primeiro turno. O Lula precisa da Bahia, a Bahia precisa do Lula”.

O desempenho do ex-secretário nas urnas será crucial para alavancar a votação de Lula na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país e fundamental para que o petista abra uma vantagem de votos para compensar possíveis reveses em outros estados.

Também discursou na solenidade o vereador em Salvador e pré-candidato a vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que até esta quarta-feira (30) fazia parte da base aliada do prefeito Bruno Reis (União Brasil) e em janeiro participou lançamento da candidatura de ACM Neto (União Brasil) ao governo do estado.

A escolha de Jerônimo Rodrigues como candidato a governador aconteceu em meio a uma série de atritos internos na base aliada do governador Rui Costa (PT) que resultaram no rompimento do PP do vice-governador João Leão, um dos principais aliados do governo desde 2009.

A primeira opção do PT para a sucessão era o senador Jaques Wagner, que desistiu da disputa em fevereiro. A segunda escolha recaiu sobre o senador Otto Alencar, que também declinou da missão. Só então Jerônimo Rodrigues foi escolhido candidato a governador.

Nesta quarta (30), o pré-candidato petista fechou uma aliança com o MDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima. A parceria é vista como importante para mitigar a perda de aliados que migraram para a candidatura de ACM Neto.

Com 56 anos, Jerônimo Rodrigues nunca disputou cargos eletivos. Tem uma trajetória política ligada à universidade, aos movimentos sociais e à burocracia do governo. Seu principal desafio nos próximos meses será se tornar conhecido. Pesquisas internas apontam que cerca de 85% dos eleitores baianos não conhecem o pré-candidato a governador do PT.

O desafio dos próximos seis meses será consolidar o nome do petista como candidato ao governo com a força do ex-presidente Lula e do grupo político que governa a Bahia há 15 anos.

Folha de SP