Novo chefe da PF deve blindar mais políticos

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O novo diretor-geral da Polícia Federal, Márcio Nunes de Oliveira, deve trocar o delegado que comanda a área responsável por investigar políticos e integrantes do crime organizado, a Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor). Ele também pretende promover alterações em outras cadeiras da cúpula da instituição. Na quarta-feira, Márcio Nunes passou o dia reunido com os atuais diretores e lhes informou sobre mudanças que faria no órgão.

O setor onde tramitam inquéritos de políticos estava sob o comando do delegado Luís Flávio Zampronha, que tem no currículo participação em investigações de combate à corrupção, como o escândalo do Mensalão, por exemplo. A Dicor é considerada um dos postos mais sensíveis dentre as diretorias da PF, justamente pela sua área de atuação.

O nome mais cotado para substituir Zampronha é do superintendente da PF no Ceará, Rodrigo Pellim. Ele já atuou no Mato Grosso do Sul na repressão ao tráfico de armas e drogas e foi superintendente em outros estados, como Rondônia e Rio Grande do Norte. Nos bastidores, Pellim é considerado um delegado respeitado.

Dentro da estrutura da Dicor funciona a Coordenação de Inquéritos (Cinq), responsável por todas investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça contra políticos com foro privilegiado, como o próprio presidente Jair Bolsonaro e aliados seus. O Cinq atualmente é coordenado pelo delegado Leopoldo Soares Lacerda. Segundo integrantes da PF, ainda não houve definição sobre a permanência dele no posto.

A Diretoria de Inteligência Policial (DIP), comandada pelo delegado Rodrigo Carneiro Gomes, também deve passar por mudanças. O setor é estratégico por ser responsável pelas investigações a ataques de hackeres a diversas instituições, entre elas o STF. Também cabe à área produzir relatórios de inteligência destinados ao diretor-geral da PF e a órgãos do governo federal.

Deve ser escolhido para o posto o delegado Alessandro Moretti, atual diretor da Tecnologia da Informação e Inovação da PF. Ele havia trabalhado com o ministro da Justiça, Anderson Torres, no período em que Torres era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

Essas trocas são comuns quando há uma mudança na direção-geral da PF, principalmente nos cargos mais sensíveis. Mas o novo diretor-geral também sinalizou que deve manter parte dos atuais diretores e superintendentes. Como ele está assumindo o cargo agora, em março, portanto, a menos de um ano do fim do governo, há uma avaliação interna de que o comando da PF pode ser novamente trocado em janeiro, a depender do resultado das eleições.

Nunes foi nomeado ao cargo na última sexta-feira, por uma decisão do ministro da Justiça, que resolveu exonerar do posto o então diretor-geral da corporação, Paulo Maiurino, nomeado para o cargo em abril do ano passado. Por questões burocráticas, Nunes ainda não tomou posse e, durante esta semana, deverá continuar despachando do Ministério da Justiça, onde ocupava o posto de secretário-executivo de Anderson Torres. A previsão é que Nunes tome seja empossado na semana que vem, mas ele deve definir os principais nomes de sua gestão até sexta-feira.

Nos bastidores, um dos componentes citados para a troca na cúpula do órgão é a proximidade de Maiurino com ministros do STF, em um momento de embates entre o presidente Jair Bolsonaro e a corte superior. Integrantes da gestão de Maiurino citam que houve alguns descontentamentos de Anderson Torres com o agora ex-diretor-geral da PF, o que culminou na decisão pela mudança. Maiurino assumirá o comando da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), órgão do Ministério da Justiça.

Associações de servidores da Polícia Federal apontaram preocupação com as trocas frequentes de diretor-geral, que resultam na interrupção de trabalhos em andamento e em um clima de insegurança na gestão da PF.

Folha de SP