O documentário sobre o golpe que a ditadura deu no povo
“Quero saber onde foi parar o dinheiro”: essa é a pergunta feita por boa parte dos entrevistados do documentário “Golpe de Ouro”, do diretor Chaim Litewski e do produtor Cleisson Vidal, que estreia neste sábado no CineBrasilTV, às 21h30.
O foco do filme recai sobre a campanha “Ouro para o bem do Brasil”, promovida em 1964 pelos Diários Associados — então, o maior conglomerado de mídia do Brasil.
Com a intenção de auxiliar a adesão popular à ditadura militar, o conglomerado incentivou a classe média e o empresariado (com destaque para a Varig, Johnson & Johnson e Casas Pernambucanas) a depositarem dinheiro, ouro, joias e objetos de valor em cofres espalhados por diversas capitais, principalmente em São Paulo.
Em tese, as arrecadações ajudariam no pagamento da dívida externa do Brasil e, assim, teriam impacto no controle da inflação. Mas os US$ 30 milhões doados (valores em cruzeiros convertidos para a moeda de hoje pela equipe do documentário) têm destino desconhecido até agora. Uma parcela de 20% ficou para os Diários Associados, referente aos custos da campanha, e o restante foi repassado ao governo, sem transparência no uso.
Litewski e Vidal (atualmente finalizando outro documentário, “Morcego Negro”, sobre a morte de Paulo César Farias) entrevistaram doadores que se convenceram a contribuir em nome do patriotismo. Hoje, estão arrependidos. Contaram ainda com relatos de Delfim Netto e Edmundo Monteiro, um dos executivos responsáveis pela campanha no grupo. Ninguém soube precisar onde tudo foi parar.
Além das entrevistas, os cineastas vasculharam documentos da Casa da Moeda, do Banco Central, da Caixa, do BB e do governo federal. Encontraram registros de planos para comprar equipamentos hospitalares, incentivar pesquisas para cura de doenças e até construir estradas ferroviárias: nada efetivamente executado, segundo as papeladas obtidas e exibidas no longa.
O Globo