Rússia critica militarização da Ucrânia pelo Ocidente

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Foto: AFP/ Serviço de imprensa presidencial ucraniano

O embaixador da Rússia nos Estados Unidos, Anatoly Antonov, criticou o pedido de envio de armas para as forças ucranianas, que são atacadas pela Rússia há um mês. “A militarização da Ucrânia representa uma ameaça direta à segurança europeia e global”, disse, segundo relato divulgado pela embaixada, falando sobre o risco de armas caírem nas “mãos de terroristas”. O governo ucraniano pediu aos países ocidentais que entreguem “armas ofensivas” como forma de “dissuasão” contra a Rússia.

Hoje, a guerra entra em seu 28º dia, com a Ucrânia apostando em uma “defesa circular” de Mariupol, cidade portuária considerada estratégica e que está sitiada praticamente desde o início do conflito. Segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a cidade “está em ruínas”.

Sobre os diálogos por paz, Zelensky disse que as negociações com a Rússia têm sido “difíceis, às vezes escandalosas, mas avançamos passo a passo”. A Rússia, por sua vez, acusa os Estados Unidos de atrapalhar as “difíceis” negociações. “O lado ucraniano muda constantemente de posição. É difícil evitar a impressão de que nossos colegas americanos estão segurando as mãos deles”, disse o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, em um discurso a estudantes em Moscou.

Após um toque de recolher de 35 horas, a tensão continua na capital ucraniana, Kiev, que teve mais relatos de destruição. A prefeitura informou hoje que casas e prédios ficaram em chamas após o distrito de Shevchenkivskyi ser atingido.

Nesta quarta (23), haverá ao menos nove corredores de evacuação em quatro regiões do país, segundo o governo ucraniano: nas áreas de Donetsk, Zaporizhzhia, Kiev, e Lugansk.

O embaixador russo nos Estados Unidos disse que “uma parte significativa das armas” enviadas à Ucrânia pode cair “nas mãos de bandidos, nazistas, terroristas e criminosos”

“Os países ocidentais não percebem que militantes que vieram de todo o mundo para a Europa podem depois aplicar a experiência de combate adquirida na Ucrânia em qualquer lugar, inclusive em casa? Eles não compreendem os riscos da disseminação de armas de mísseis transferidas para as Forças Armadas da Ucrânia em toda a União Europeia e regiões vizinhas, bem como seu uso contra a aviação civil?”, disse Antonov.

Para o embaixador, “não há garantia de que as armas não cairão nas mãos de extremistas em seu território”. “Apelamos aos patrocinadores do regime de Kiev para que parem de incentivar o derramamento de sangue na Ucrânia e considerem seriamente as consequências de suas atividades.”

Ontem, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, já havia dito que a Rússia pode usar armas nucleares em caso de “ameaça existencial”. Peskov disse que a Rússia tem uma “doutrina de segurança interna” para o uso de armas nucleares. “Se for uma ameaça existencial ao nosso país, então podem ser usadas de acordo com nossa doutrina”, afirmou o porta-voz do governo russo. Hoje, ele classificou como “muito imprudente e extremamente perigosa” uma proposta da Polônia de enviar forças internacionais de paz para a Ucrânia.

Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, pediu “armas ofensivas” aos países ocidentais para combater as forças russas. “Nossas Forças Armadas e cidadãos estão resistindo com uma coragem sobre-humana, mas não podemos vencer uma guerra sem armas ofensivas, sem mísseis de médio alcance que podem ser um meio de dissuasão”, disse Yermak.

“Uma defesa eficaz durante muito tempo é impossível sem um sistema de defesa aérea confiável, capaz de derrubar mísseis inimigos de longo alcance”, argumentou Yermak. Mas “não entregam, assim como não enviam aviões”, lamentou. O pedido de aviões foi sistematicamente rejeitado até o momento pelos países ocidentais, que não desejam uma intervenção militar na Ucrânia por medo a ampliar o conflito com a Rússia.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte/UOL - Arte/UOL

O Ministério da Defesa da Ucrânia disse que, em Belarus, país vizinho e aliado da Rússia, “representantes das forças da oposição” interromperam parcialmente a conexão ferroviária com a Ucrânia. A informação não pôde ser confirmada de forma independente até o momento.

O ministério ucraniano também disse que equipamentos militares da Rússia e de Belarus “está sendo movimentado ativamente” ao longo do território belarusso “e acumulado ao longo da fronteira ucraniana”.

Para a inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido, “as forças russas estão tentando cercar as ucranianas no leste do país à medida que avançam da direção de Kharkiv e Mariupol”. No norte da Ucrânia, a avaliação é de que os russos permanecem parados, “provavelmente conduzindo um período de reorganização antes de retomar as operações ofensivas em larga escala”, segundo comunicado desta quarta. A Alemanha também avalia que a ofensiva russa “estagnou”. O próprio governo ucraniano já começa a avaliar que a “fase ativa” da invasão russa terminará até o final de abril.

O Ministério da Defesa ucraniano, em um resumo das operações de hoje no conflito com a Rússia, disse que “realiza a defesa circular de Mariupol”. A cidade está cercada pelos russos, que tentam tomá-la.

Para o ministério, “o inimigo está desmoralizado em algumas áreas”, citando Mariupol como exemplo. Ele diz que, na cidade, “menos de 10% do pessoal” das forças russas “estão prontos para continuar a guerra”. “O restante do pessoal é morto, ferido, doente ou desmoralizado”.

Apesar da análise do Ministério da Defesa, o Serviço de Estado para Comunicações Especiais e Proteção da Informação da Ucrânia disseram, sobre Mariupol, que “sair da cidade por transporte pessoal é muito perigoso devido aos constantes bombardeios”. Ontem, 4.367 moradores de Mariupol, incluindo 1.247 crianças, foram evacuados de Berdyansk para Zaporizhzhia, segundo as autoridades da cidade portuária.

“Hoje a cidade ainda tem quase 100.000 pessoas em condições desumana. É um cerco total. Sem alimento, água, medicamentos, sob constante bombardeio”, declarou Zelensky, depois de insistir no apelo para que a Rússia permita a saída dos civis por um corredor humanitário.

O Pentágono afirmou que a Rússia agora ataca a cidade com artilharia, mísseis de longo alcance, a partir de navios posicionados no Mar de Azov. As forças ucranianas também reportaram combates intensos em terra com a infantaria russa, depois que se negaram a aceitar um ultimato de Moscou na segunda-feira para a rendição.

Ao menos quatro pessoas ficaram feridas, segundo informações iniciais da prefeitura de Kiev, após casas e prédios serem atingidos e ficarem em chamas em razão de um ataque nesta quarta. “As informações sobre as vítimas e a natureza da destruição estão sendo esclarecidas”, disse a prefeitura.

Na região da capital, as Forças Armadas da Ucrânia disseram que “conseguiram melhorar suas posições em Irpin”, cidade próxima a Kiev. “O inimigo cava e tenta se reagrupar.” A administração regional de Kiev também aponta melhora nas defesas na cidade de Makariv. “Bairros residenciais estão sendo bombardeados. Monumentos históricos, escolas, hospitais e fábricas estão sendo destruídos”, disse a administração, indicando também que os “grupos inimigos estão tentando reabastecer a composição”.

O prefeito de Chernihiv, Vladyslav Atroshenko, disse que forças russas estão atacando intencionalmente civis e instalações de infraestrutura, segundo relato da plataforma Ukrinform.

“Os militares russos estão atacando hospitais com fogo. Um hospital também é uma instalação de infraestrutura militar? É importante entender quais métodos são usados. Sua tática é destruir intencionalmente civis e instalações de infraestrutura. Não tem nada a ver com o fogo direcionado às instalações de infraestrutura militar”, disse Atroshenko.

De acordo com o prefeito, são realizados cerca de 40 funerais por dia agora na cidade. “De acordo com minhas estimativas, cerca de 50% dos moradores locais deixaram a cidade. Outros 50% estão ficando, mas, infelizmente, muitas pessoas entre os que ficam não podem cuidar de si mesmas”, disse Atroshenko. A cidade está sem serviços de água, gás, aquecimento e eletricidade.

A China se pronunciou hoje contra uma exclusão da Rússia da próxima reunião de cúpula do G20, uma ideia sugerida pelos Estados Unidos devido à invasão da Ucrânia. “A Rússia é um país membro importante [do G20] e nenhum membro tem o direito de expulsar outro país”, afirmou à imprensa o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin.

Ontem, Jake Sullivan, conselheiro de Segurança do presidente americano, Joe Biden, mencionou a possibilidade de exclusão da Rússia do grupo, que tem uma reunião prevista para o fim do ano na Indonésia. O governo chinês, próximo ao russo, não condenou a invasão da Ucrânia.

Os países ocidentais preparam novas sanções contra a Rússia e se reunirão amanhã (24) em Bruxelas em três âmbitos diferentes: OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), G7 e um encontro de cúpula europeu, no dia em que a guerra completará um mês.

Uol