Denúncias de assédio sexual fazem vereador bolsonarista ganhar seguidores

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Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Desde a divulgação das primeiras denúncias de assédio moral e sexual contra Gabriel Monteiro (PL), o vereador carioca conquistou 245 mil novos seguidores nas redes sociais.

É o que revela um levantamento da consultoria Bites a pedido da equipe do blog, com base no intervalo entre 27 de março, quando o “Fantástico” veiculou a primeira reportagem com acusações de assessores do parlamentar, e a última terça-feira.

Na direção contrária de outro político que caiu em desgraça, como o deputado estadual Arthur do Val (União Brasil-SP), Monteiro só viu sua popularidade crescer nas redes à medida em que novos escândalos foram revelados pela imprensa. Para Manoel Fernandes, da Bites, o vereador e ex-soldado da PM é um “case” a ser estudado.

O processo contra Gabriel Monteiro no conselho de ética da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro começou na prática nesta terça-feira, com a indicação de um relator para conduzir as investigações.

Ex-policial militar, ele foi expulso da corporação por crime de deserção, em agosto de 2020. Chegou a ser reintegrado à Polícia Militar, mas deixou as fileiras da instituição para se candidatar à vereança. Agora, está sendo acusado de estuprar funcionárias e de gravar vídeos fazendo sexo com adolescentes e até beijando na boca uma menina de 10 anos.

Antes da primeira denúncia, Monteiro já era o político mais popular nas redes sociais depois de Jair Bolsonaro. Tinha 18.095.302 de seguidores – bem mais do que qualquer governador, prefeito, deputado ou vereador e até mais do que Lula.

Desde então, a margem só se ampliou – neste período, apenas 9.731 pessoas deixaram de segui-lo, enquanto outras 245.149 passaram a acompanhá-lo. O saldo foi mais positivo no Instagram, em que ele ganhou 130 mil seguidores. No Youtube, o acréscimo foi 50 mil seguidores, enquanto no Facebook de 44 600. No Twitter, ele ganhou 21 mil seguidores.

“Em 15 anos de experiência nunca vimos algo parecido. A curva de crescimento do Gabriel Monteiro nas redes é constante e não foi afetada pela divulgação da reportagem”, diz Fernandes, da Bites.

Considerando o que aconteceu com outros políticos com forte presença nas redes que se envolveram em escândalos, o esperado seria acontecer o contrário.

“Os casos mais emblemáticos são do Arthur do Val e o da (deputada federal) Joice Hasselmann, quando ela rompeu com o presidente Bolsonaro”, compara Fernandes, para quem a estratégia de resposta as denúncias adotada pelo vereador fez toda a diferença para esse resultado.

“O que ele está fazendo é abordar o tema de frente e com bastante frequência em seu canal no YouTube. Isso talvez seja um indício de que ele está contornando as denúncias criando sua própria narrativa nas redes sociais. É possível que seus seguidores só estejam vendo seus próprios vídeos e não as denúncias”.

Do Val, conhecido como Mamãe Falei, perdeu 60 mil seguidores em cinco dias após a divulgação de áudios enviados a um grupo privado no qual faz comentários sexistas e misóginos sobre mulheres ucranianas. Ontem, o Comitê de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) votou de forma unânime pela sua cassação, que ainda tem que ser confirmada no plenário da Casa.

Joice, por sua vez, perdeu quase meio milhão de seguidores na briga pública com o clã Bolsonaro que levou à sua deposição como líder do governo no Congresso, em outubro de 2019.

O consultor da Bites observa ainda que o canal de Gabriel Monteiro no YouTube tem mais de um bilhão de visualizações – uma marca extraordinariamente alta mesmo para influenciadores digitais.

No dia seguinte após a exibição da reportagem da TV Globo, Gabriel Monteiro ganhou 118 mil seguidores, somando o crescimento no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.

Na ocasião, ele já era acusado de assediar funcionários moralmente e sexualmente, forjar vídeos divulgados no YouTube e também de gravar relações sexuais sem consentimento.

Posteriormente, surgiram denúncias de que o parlamentar organizaria orgias com menores de idade em sua mansão, na Barra. Um vídeo de Monteiro se relacionando com uma menor de 15 anos chegou a circular nas redes sociais.

A Polícia Civil o investiga ainda por suposta fraude processual por um atentado a tiros que teria sido forjado pelo vereador e sua equipe de assessores.

Desde a primeira denúncia, Monteiro já divulgou cinco vídeos se defendendo em seu canal.

De acordo com os dados obtidos pela coluna, não houve oscilação relevante nem mesmo após a divulgação de um vídeo no qual Gabriel Monteiro beija e acaricia uma criança de dez anos.

Nas gravações, ele exibe edições feitas por sua própria equipe das entrevistas que deu para sugerir que é inocente, que é alvo de perseguição da mídia e que está sendo ameaçado por uma suposta máfia de reboques que prestam serviço para a Prefeitura do Rio.

Assim como Do Val, o vereador vive uma situação delicada. É esperado que ele seja cassado pela Câmara dos Vereadores do Rio caso não renuncie.

Eleito pelo PSD, ele migrou para o PL de Jair Bolsonaro antes do surgimento das denúncias. Agora, também corre risco de ser expulso do partido, o que deixaria de fora das eleições de outubro.

O Globo