Em PE, PSB e oposição disputam imagem de Eduardo Campos
A menos de seis meses da eleição estadual, o nome do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (1965-2014), morto em acidente aéreo em meio à campanha presidencial de 2014, passou a ser evidenciado em diferentes palanques políticos do estado e até a nível nacional.
Apesar de ter tido perfil ligado à esquerda ao longo de sua trajetória política, Campos era conhecido pelo diálogo com diferentes correntes e tido como hábil articulador político.
As conversas envolviam, muitas vezes, aliados e adversários para discussões de projetos de governo e montagem de alianças para palanques políticos, como o da sua candidatura à Presidência nas eleições de 2014.
No berço político de Eduardo Campos, Pernambuco, a eleição de 2022 promete uma disputa intensa. Em razão da sua alta popularidade ainda remanescente na memória do eleitor, o ex-governador deve ser relembrado por diversos atores políticos locais.
O partido de Eduardo Campos, o PSB, costuma explorar a imagem do ex-governador costumeiramente em campanhas eleitorais.
Isso se deu de maneira mais forte em 2014, logo após sua morte, mas a legenda voltou a relembrar os feitos de Eduardo nas campanhas de 2016 e 2020 pela Prefeitura do Recife, em 2018 para o governo do estado e sinaliza que fará o mesmo em 2022 na campanha estadual.
A mesma situação acontece com lembranças do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005).
O pré-candidato do PSB ao governo estadual é o deputado federal Danilo Cabral. Ele era um dos mais próximos de Campos, tanto do ponto de vista político como pessoal.
Danilo Cabral exerceu ainda os cargos de secretário da Educação e das Cidades nos governos Eduardo Campos.
Desde o lançamento da sua pré-candidatura, em fevereiro, Danilo tem recorrido à imagem do ex-governador em entrevistas e discursos. Afirma que é preciso manter Pernambuco no rumo implantado por Campos.
“Pernambuco se lembra das parcerias de Lula e Eduardo Campos. E o nosso estado quer voltar a ver a esperança andar lado a lado”, disse Danilo nas redes sociais recentemente.
Uma das estratégias do PSB deve ser a presença do prefeito do Recife, João Campos, nos palanques de Danilo.
Nos bastidores, o PSB entende que o filho de Eduardo Campos deve estar nos atos de campanha fora do expediente na prefeitura. Ou seja, à noite e nos finais de semana, João Campos poderá engrossar as caminhadas.
Apesar de ser prefeito da capital, João Campos tem eleitores no interior. Em 2018, ele foi o deputado federal mais votado da história de Pernambuco, com mais de 460 mil votos. Desses, 390 mil vieram de fora do Recife.
Outra tática do PSB é o lançamento de Pedro Campos, também filho de Eduardo, para a disputa pela Câmara Federal. Com isso, ele deve herdar o espólio eleitoral da família Campos, que busca um representante em Brasília.
Apesar de o PSB deter a engenharia maior sobre o nome de Eduardo Campos, a oposição no estado também pode relembrar os vínculos com o ex-governador.
Os quatro pré-candidatos mais competitivos já foram aliados dele: os ex-prefeitos Anderson Ferreira (PL), Miguel Coelho (União Brasil) e Raquel Lyra (PSDB) e a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade), prima de Eduardo.
No lançamento de sua candidatura, Marília relembrou, brevemente, momentos positivos da sua relação com Eduardo Campos.
Ela estava rompida politicamente com Campos quando ele morreu em 2014.
Raquel Lyra é outra liderança política que tem recorrido a Eduardo para traçar uma parte de sua trajetória na vida pública.
Nas inserções partidárias do PSDB no rádio e na televisão, fotos de Raquel com Eduardo têm sido exibidas. Também houve citação ao ex-governador no discurso da renúncia da tucana à Prefeitura de Caruaru, no último dia 31 de março.
“Com ele eu tive uma aula prática de como ser um gestor completo, pensando assertivamente na condução do governo e o carinho pelo povo”, disse.
O PSB tem prometido, em conversas internas, reagir a Raquel, bem como a qualquer outro integrante da oposição, se o uso da imagem de Campos se tornar frequente durante a campanha eleitoral, que começa em agosto.
Anderson Ferreira e Miguel Coelho, por sua vez, não deram indícios públicos até o momento de que lembrarão suas relações com Eduardo Campos.
Anderson era deputado federal no período em que Eduardo foi governador. Miguel Coelho teve pouco contato político com o ex-governador, mas foi lançado candidato a deputado estadual em 2014 com aval do então líder nacional do PSB.
Já o pai de Miguel, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), foi secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco no governo Campos e foi indicado por ele para ser ministro da Integração Nacional no primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT) —o PSB rompeu com o PT já na reta final do governo para lançar o então governador pernambucano ao Planalto.
No plano nacional, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, ao anunciar sua filiação ao PSB após sair do PSDB, reproduziu uma fala de Eduardo. “Não vamos desistir do Brasil”, escreveu o ex-tucano nas redes sociais.
A sentença foi proferida por Campos em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na noite anterior ao acidente aéreo que lhe tirou a vida.
Alckmin se filiou ao PSB com a intenção de ser vice na chapa encabeçada por Lula (PT) na disputa presidencial. O ex-presidente tinha uma relação mais que política com Eduardo Campos. O petista já disse que era como uma ligação de “pai para filho”.
Para o cientista político Adriano Oliveira, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), lembranças de fatos e personalidades do passado fazem parte de estratégias de campanhas eleitorais para ativar a memória positiva do eleitorado.
“Eduardo Campos ainda é um ator muito ativo na memória do eleitor pernambucano porque trouxe para Pernambuco um projeto de pujança. O segundo aspecto é o erro por parte de candidatos da oposição de conseguir enxergar uma estratégia que vá além da nacionalização da eleição e do ‘eduardismo'”, afirma.
Para ele, o eventual uso da imagem de Campos pela oposição não trará dividendos eleitorais. “As pessoas sabem que Eduardo era do PSB e era aliado do ex-presidente Lula. As pesquisas qualitativas apontam isso. Falta criatividade aos candidatos contrários ao PSB, com exceção de Anderson Ferreira (PL), que já assumiu o bolsonarismo em Pernambuco”.
Folha de SP