Interior de SP é uma “fortaleza tucana” há quase 30 anos

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O interior paulista é tido como a principal fortaleza tucana, fundamental para que o partido tenha vencido todas as eleições ao governo estadual desde 1994.

O governador Rodrigo Garcia (PSDB), ainda pouco conhecido e em situação de desvantagem nas pesquisas, enfrenta ameaça ao domínio eleitoral da sigla. Na última eleição ao governo, foram os votos dessa região que pavimentaram o caminho de João Doria (PSDB) ao Palácio dos Bandeirantes em 2018.

Rodrigo não tem poupado esforços para garantir esse espaço tradicionalmente tucano, seja por meio de acenos ao agronegócio e à cultura caipira, seja mantendo uma agenda intensa de viagens à região.

O atual governador tem maioria dos prefeitos do estado e a máquina ao seu lado, mas os demais candidatos também miram sua artilharia para o interior. Os esforços incluem viagens, acenos ao agro e vinculação à imagem de padrinhos políticos.

O candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo, deve apostar no conservadorismo conhecido do eleitorado do interior e na sinergia de parte do agronegócio com o bolsonarismo.

Já candidatos mais à esquerda na disputa, como Márcio França (PSB) e Fernando Haddad (PT), que costumam ir melhor na Grande São Paulo, tentarão incursões para tentar reduzir a rejeição fora dos limites da região metropolitana.

Por contar com a máquina pública, o atual governador é quem tem presença fora da Grande SP. Na última semana, Rodrigo lançou o programa Governo na Área, em que duas vezes por semana vai a cidades do interior para anunciar soluções para problemas locais.

O primeiro evento do tipo aconteceu na região de Franca (a 344 km de SP). Ali, o governador anunciou investimento de R$ 230 milhões para a implantação do Hospital Regional de Franca, inaugurou uma creche e entregou veículos.

No ano eleitoral, a atual gestão tem investimento recorde voltado a prefeituras do interior, principalmente por meio da pasta da Agricultura —a secretaria multiplicou por 15 seus gastos em 2021 com distribuição de tratores e veículos para cidades paulistas e com aumento nos auxílios e créditos para produtores rurais.

O tucano também se reuniu recentemente com associação ligada ao agro paulista. Nascido em Tanabi, na região de São José do Rio Preto, ele ainda tem investido no visual de caipira em suas redes, com direito a chapéu de caubói e fotos tocando a boiada.

Até o momento, ele vai melhor no interior. No cenário com Márcio França (PSB), Rodrigo pontua 8% nesta região, contra 4% na Grande SP, segundo pesquisa Datafolha. No estado, marca 6%.

O ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas é outro que tem performance ligeiramente melhor no interior –11%, contra 9% na região metropolitana, segundo Datafolha. Agora, quer aumentar esses números em busca de um lugar no segundo turno.

O candidato de Bolsonaro viu a possibilidade de crescer após a saída de Geraldo Alckmin (PSB) do páreo –o ex-governador será vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que concorre ao Planalto.

Carioca, Tarcísio cobiça o espólio de votos conservadores no interior do ex-governador nascido em Pindamonhangaba.

Para isso, já tem gastado sola de sapato. O evento de lançamento da chapa foi na sede do Republicanos, em São José do Rio Preto. No próximo final de semana, ele estará em São José dos Campos.

As incursões para fora da Grande São Paulo ocorrem paralelamente à tentativa de aproximação com o agro. Tarcísio é próximo do deputado estadual Frederico D’ávila (PSL), ligado ao setor, que ajuda nessa ponte.

Neste ano, em uma aula magna na Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) para celebrar o lançamento da pós-graduação em agronegócio, o ex-ministro tentou reforçar a ligação entre a infraestrutura, sua área, e o agronegócio.

“Eu quero agradecer o convite para falar de agronegócio e a relação do agro com a infraestrutura. Infelizmente, a gente é obrigado a correr atrás, por causa do pessoal do agro, o pessoal do agro é mais rápido que a gente”, disse, na abertura da palestra.

Outro que briga pelos votos de Alckmin no interior é o candidato de seu novo partido, Márcio França. Há uma pressão do PT para que França, em segundo lugar nas pesquisas, retire a candidatura e apoie o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad.

Mas o ex-governador resiste, e sua equipe pretende contar com Alckmin em sua campanha —o ex-tucano já participou de encontro para a elaboração do plano de governo de França.

O grupo político do candidato ao governo pelo PSB admite que, devido à dimensão da campanha presidencial ao lado de Lula, dificilmente haverá uma presença ostensiva de Alckmin.

No entanto, a ex-primeira-dama Lu Alckmin (PSB), recém-filiada ao partido, poderá fazer esse papel no palanque de França –ainda não se sabe se ela será candidata a algum cargo.

As viagens ao interior, no caso do ex-governador, devem ganhar intensidade só a partir do fim de abril.

No programa de governo de França, a agricultura, uma das principais pautas voltadas à região, também deve ser assunto de destaque.

Liderando as pesquisas, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) tenta reverter a rejeição que a esquerda tradicionalmente enfrenta no interior paulista.

Haddad lidera nos cenários com e sem Márcio França, atingindo 29% e 35%, respectivamente. No entanto, no interior seu desempenho fica abaixo da média (24%).

“Não acredito na tese de que o interior paulista é conservador. Acredito que a pessoa quer melhorar de vida, e se você tiver uma proposta consistente ela vai te acompanhar”, escreveu Haddad em suas redes sociais.

O petista deve visitar cidades do interior neste mês e, no fim do abril, deve participar de viagem com o ex-presidente Lula.

Embora o PT seja bastante criticado por grupos ligados ao agro, Haddad pretende se aproximar de setores da agricultura ligados a produtos alimentícios e à agricultura familiar.

Folha