Paulinho da Força diz que Centrão vai aderir a Lula

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Presidente do Solidariedade, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP), por pouco não abandonou a aliança acertada com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva há cerca de dez dias, depois de ter sido vaiado por militantes do PT durante um evento de centrais sindicais para o qual havia sido convidado por Lula. O episódio, porém, foi contornado num encontro com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e com o próprio pré-candidato petista à Presidência.

Em entrevista ao GLOBO, Paulinho, que durante anos presidiu a Força Sindical, afirmou que Lula lhe prometeu proteção. Em outras palavras, o ex-presidente garantiu que o deputado não será mais atacado pela militância e que o espera ao seu lado no dia 7 de maio, quando será lançada a chapa presidencial formada por Lula e Geraldo Alckmin (PSB), o vice.

— Ele chamou para si a responsabilidade — disse Paulinho.

O deputado afirma ter ouvido de Lula que as presenças dele, Paulinho, e de Alckmin no palanque são fundamentais para mostrar que o petista aderiu a uma “frente ampla” que transcende a esquerda. No passado, Paulinho da Força foi um dos maiores defensores do impeachment de Dilma Rousseff (PT) e apoiou a candidatura de Aécio Neves (PSDB), em 2014.

Antes de selar as pazes e postar uma imagem de mãos dadas com Lula, na terça-feira passada, o deputado se reuniu justamente com o tucano Aécio Neves, a quem classifica como “grande amigo”, e o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB). No mesmo dia, veio a público uma gravação em que o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), tentava convencer Paulinho a abandonar o petista e aderir ao projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Embora tenha recusado a oferta, o parlamentar do Solidariedade diz considerar Bolsonaro um candidato difícil de ser batido.

Ele acredita, no entanto, que se Lula vencer, os partidos do centrão, grupo político em torno do qual o Solidariedade orbita, vão estar “em seis meses” com o novo presidente.

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— Tem gente que não gosta e não sabe ser oposição — justificou.

Leia a entrevista:

Como é que foi a conversa com Lula e Gleisi?

Foi muito boa e produtiva. No final, a gente chegou à conclusão de que o caminho está traçado agora. Nós combinamos uma reunião da Executiva [do Solidariedade] no próximo dia 3 para fazer um ato de apoio à candidatura dele.

Lula concordou com quase tudo o que falamos. O principal é o tamanho da aliança. Falei para ele que a aliança precisa ir além das esquerdas. Ele falou que essa é justamente a vontade dele e por isso trouxe o Geraldo Alckmin, que nunca foi considerado um homem de esquerda. Eu reclamei que ele não tinha falado mais sobre isso nas últimas reuniões. Ele disse que achava que o tema da ampla aliança estava superado, mas concordou que era preciso retomar.

O que o senhor falou com ele sobre a promessa de revogação da reforma trabalhista, que o PT tem defendido?

Eu disse a ele que essa é uma discussão boba. Quem conhece o Congresso Nacional sabe que não funciona desse jeito. Eu sempre fui oposição à reforma, mas essa discussão de revogar joga contra ele hoje. O que nós precisamos é corrigir a reforma. A correção de três ou quatro artigos já resolve muita coisa. E ele disse que concorda comigo.

A defesa da revogação, então, é só um discurso para agradar a esquerda?

Sim. E é um esforço que vai contra nós.

Como ex-presidente Força Sindical, o senhor combinou com o ex-presidente a volta do imposto sindical?

Não, definitivamente, essa pauta está sepultada. O que nós queremos é outra coisa. O nosso propósito é ter liberdade de negociação entre trabalhadores e empresário, sem a interferência do governo. E isso já está pautado num projeto já existente. Pedi a ele também que faça uma nova política por salário mínimo, correção para o pagamento das aposentadorias e uma legislação para legalizar os milhões de trabalhadores que apareceram com os aplicativos de entregas e trabalham quase como escravos, além de uma reforma moderna na estrutura sindical.

O que o senhor achou das vaias que recebeu no evento das centrais sindicais?

O problema não foi as vaias. Eu já fui vaiado em estádio lotado, estou acostumado. O problema foi o contexto. O que eu fiquei chateado é que não teve nenhuma defesa de quem estava falando, especialmente do Lula. [Ele me disse] ‘Olha, eu estava preocupado é que o Alckmin fosse vaiado’. Está bom, e aí eu que paguei o pato, estava defendendo o Alckmin e sobrou para mim.

Eu disse para ele o seguinte: ‘para não acontecer mais esse tipo de coisa, é melhor cada um fazer o apoio de um lado, por conta própria. Vou fazer o seu apoio no dia 3 e aí estou liberado para não ir no dia 7’. Aí ele me disse: ‘não, dia 7 é responsabilidade minha. Todo mundo que for me apoiar tem que estar do meu lado. Quero você aqui comigo, porque é isso que eu quero mostrar ao Brasil — a possibilidade de uma grande aliança para ganhar a eleição e governar’. Eu até já tinha marcado algumas coisas para fazer no dia 7, mas agora desmarquei.

E, se houver vaias de novo, o que fará?

Ele disse que não vai ter mais. Tem gente do PT que acha que a eleição está ganha, e eu digo: ‘não está’. O governo é igual cobra, até morto é perigoso. Parece que ele está paralisado, com desemprego e inflação, mas não está morto. É importante perceber que a eleição não está ganha e que é preciso da união de todos para ganhar. Então, eu acho que esse episódio pode ter servido como um aprendizado.

O PT, então, acha que a eleição já está ganha?

A direção do PT não tem essa visão. Agora, parte da militância acha que não precisa de mais ninguém.

E o senhor chegou a fazer alguma retratação sobre as suas falas contra a Dilma ?

Eu não tenho nenhum sentimento de culpa com essa história de tirar a Dilma. Ela não brigou comigo, brigou com o Brasil. A culpa foi dela, que não tinha nenhuma relação com a política. Ela não era minha mãe para me dar bronca. Eu perdi a paciência com ela logo no começo do mandato

E como vai ser se ela estiver no palanque contigo no dia 7?

Eu vou dar ‘bom dia’. Frente ampla é isso, todo mundo unido.

Qual é a percepção que o senhor tem da disputa eleitoral deste ano?

O cenário vai ficar cada mais complicado. O Bolsonaro, como é governo, tem o orçamento na mão e vai investir nos eleitores do Lula. Ou seja, quando o Bolsonaro aumenta o Bolsa Família e permite o saque do fundo de garantia, é em cima do eleitorado do Lula que ele está indo. Ele está focando no Nordeste, e ele parou com aquelas loucuras que fazia antes. Ele tem cinco partidos ao lado dele, partidos onde não há nenhum bobo e cheios de gente que sabe ganhar eleição É preciso se unir e pôr a campanha de Lula na rua para se livrar do Bolsonaro.

O senhor acha que o time que está com Bolsonaro é melhor do que o de Lula?

Não, o Lula já prometeu que vai montar uma coordenação dos partidos para apresentar ideias. Do lado de lá, o time não tem gente besta, e daqui também não.

E o convite do Ciro Nogueira que o senhor recebeu. Qual foi resposta?

O Ciro é meu amigo desde antes do governo. Ele me mandou aquele áudio, aí eu respondi em tom de brincadeira: “tá bom, vamos conversar”. Mas nunca tive nenhuma relação com Bolsonaro. O máximo que tive foi na época da Câmara, em que eu ficava apartando as brigas dele com alguns deputados.

Mas o Ciro Nogueira chegou já a te oferecer algum cargo no governo?

Me ofereceram o comando do porto de Santos, mas nunca aceitei cargo nem participei de nada no governo Bolsonaro.

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Por quê?

Não aceitei porque, quando você faz parte, tem que se comprometer com o governo.

Se o Lula ganhar a eleição, o senhor acha que eles (líderes do Centrão) podem voltar a fazer parte do novo governo?

Eu acho que em seis meses eles entram. Tem gente que não gosta e não sabe ser oposição.

E o Lula já te prometeu algum cargo?

Não, não falamos sobre isso.

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E como foi o encontro com o Aécio Neves e Eduardo Leite?

O Aécio sempre foi meu amigo. Eu o apoiei em todas as eleições. E ele me chamou para um encontro com o Leite. Mas eles sabem a minha posição, eu não acredito que terceira via vai dar certo. A eleição vai ficar cada vez mais polarizada entre Lula e Bolsonaro.

E o que acha dessa briga interna entre Doria e Leite?

Não tenho relação com o Doria, tenho, sim, com o [Rodrigo] Garcia, [governador de São Paulo]. Na minha opinião, o Leite já ganhou 100% dentro do partido. O Doria não sabe fazer política. A última dele foi ter demitido o presidente do partido da sua campanha.

O Globo