Reeleição de fascista húgaro recomenda distância do parlamentarismo
Se algum democrata ainda tinha dúvidas de que pitadas de parlamentarismo com um sistema distrital fariam bem ao Brasil, a quarta recondução de Viktor Orbán, na Hungria, há de tê-las dissipado.
O partido do primeiro-ministro húngaro, o Fidesz, fez 135 das 199 cadeiras do parlamento, derrotando a aliança de seis partidos que se juntaram para derrotá-lo. Esta aliança alcançou apenas 56 cadeiras.
Nas duas últimas eleições, Orbán conseguiu esses dois terços das vagas apesar de não ter alcançado nem a maioria dos votos. Desta vez, manobrou uma reforma que possibilitou o inchaço de distritos controlados pelos partido, criando o “voto turista”.
Graças a este voto, eleitores que não eram residentes nos distritos poderiam ser autorizados a votar. Foram registradas levas de húngaros sendo transportados – até do exterior – para votar em distritos em que o Fidesz precisava de votos para ganhar.
Esta reforma eleitoral, somada à máquina de informação aperfeiçoada pelo governo para a pandemia, fez com que a narrativa de Orbán se estabelecesse como aquela que oferece mais segurança para um país que está na fronteira do conflito com a Rússia.
O mesmo sistema de alertas que manteve a população em dia com vacinas e lockdowns foi usado para disseminar a propaganda do Fidesz. A mais eficiente delas foi a de que a aliança de oposição queria que a Hungria declarasse guerra contra a Rússia.
Próximo do presidente russo, Vladimir Putin, Orbán apoiou as sanções contra a Rússia, à exceção do fornecimento de gás, mas foi contra o envio de armas e montou uma rede de divulgação de número e fatos sobre a guerra para contestar a cobertura ocidental. Montado nesta ambiguidade, explorou o que chamou de espírito belicista da oposição.
O Brasil (ainda) mantém o sistema presidencialista, apesar dos esforços do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, para dar uma pincelada de parlamentarismo na ordem vigente. O voto majoritário do presidencialismo é uma defesa contra manobras como esta que resultou no redesenho dos distritos.
O país tem ainda um Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atento contra a montagem da rede subterrânea de informações do bolsonarismo. Atento, mas incapaz de dar conta dos atalhos que esta rede é capaz de encontrar para fugir das proibições.
O Brasil também não tem uma guerra próxima de suas fronteiras, mas Jair Bolsonaro já demonstrou, a exemplo, de Orbán, adesão à estratégia dos “fatos alternativos” para fazer valer as bandeiras da extrema direita populista.
E também mostrou que sabe usá-la para fazer mover parcelas amedrontadas da opinião pública, especialmente entre evangélicos. Foi para este público que migrou o discurso da direita versus esquerda para o “bem contra o mal”.
Valor Econômico