Aliado de Ciro o critica por ataques a Lula

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Foto: Reprodução/UOL

Pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro, Rodrigo Neves (PDT) diz que a campanha do presidenciável Ciro Gomes (PDT) passa do ponto quando parte para ataques pessoais contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Questionado sobre a viabilidade de uma terceira via no campo nacional, Neves afirma que a candidatura de Ciro é legítima e importante para o debate brasileiro.

Mas pondera que é necessário preservar o diálogo durante a campanha, já que as forças democráticas precisarão estar unidas no segundo turno para superar as ameaças do autoritarismo, em referência ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Não é possível continuar nessa tomada de ódio, de fake news. Não é possível uma sociedade prosperar num ambiente de ódio. Os pais brigando com os filhos, os vizinhos brigando por causa de política”, afirma.

Neves foi entrevistado em sabatina realizada por Folha e UOL, na manhã desta quarta-feira (18). Ele também disse que Lula foi o melhor presidente do Brasil desde a redemocratização porque incluiu os pobres no orçamento e deu oportunidade para que os jovens frequentassem as universidades.

O pedetista afirma que a saída para o Brasil, e para o Rio de Janeiro, passa por um investimento pesado na educação. “Se não tivessem acabado com os Cieps [Centros Integrados de Educação Pública] que [Leonel] Brizola e Darcy [Ribeiro] idealizaram, não teríamos perdido tantos jovens para a criminalidade.”

Para o pré-candidato, Ciro evidencia questões centrais do entrave ao desenvolvimento econômico brasileiro, que os governos petistas tiveram limitações para enfrentar, e que também são importantes para o estado. Ele afirma que o Rio sofre a prior crise econômica e social de sua história e diz que isso exige um compromisso de gestão, para construir políticas públicas que enfrentem “essa situação dramática”.

“É essa questão que me parece central: como reverter o processo de esvaziamento econômico do Rio, gerar emprego e renda e superar a situação de absoluta indigência de grande parte da população.”

Neves criticou o atual governador do RJ, Cláudio Castro (RJ), dizendo que ele está acabando com os recursos da venda da Cedae, último ativo do estado, de maneira eleitoreira. Os bilhões obtidos com a venda da estatal são considerados um trunfo para a campanha de Castro, com o lançamento de novas obras e investimentos.

O pedetista afirma que Castro era um assessor, “carregador da mala do Pastor Everaldo a vida toda”, e que no governo loteou secretarias para deputados amigos. “A impressão generalizada é que ele não governa, que ele é teleguiado por alguém, não comanda o estado.”

O primeiro levantamento do Datafolha no RJ para esta eleição mostrou Marcelo Freixo (PSB) com 22% e Castro (PL) com 18% das intenções de voto. A pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Os demais candidatos neste cenário estão quase todos em empate técnico: Rodrigo Neves (PDT), com 7%, Eduardo Serra (PCB), com 5%, Cyro Garcia (PSTU), com 4%, Felipe Santa Cruz (PSD), com 3%, e o deputado federal Paulo Ganime (Novo), com 2%.

Questionado sobre estar atrás de Freixo nas intenções de voto, e a respeito da possibilidade de uma aliança entre os dois para enfrentar Castro, Neves respondeu que as pesquisas espontâneas indicam que mais de 80% da população do estado ainda não tem candidato a governo.

Ex-prefeito de Niterói, ele afirma que ganha no primeiro turno nas cidades onde é conhecido. “O próprio Freixo, percebendo seu alto índice de rejeição e que que está perdendo para o Cláudio Castro no segundo turno, por que não ele ser um puxador de legenda para a Câmara dos Deputados?”

Neves também sugere que Freixo, candidato de Lula, agora caminha ao lado do ex-presidente por conveniência. Ele diz que o deputado fez oposição ao PT por oito anos após deixar a legenda, que rejeitou o apoio de Lula em 2016 e que em 2019 falava que “Lula livre” não deveria ser prioridade para a esquerda.

“Quando Lula melhorou nas pesquisas, Freixo se tornou Lula desde criancinha.”

O pedetista também diz que uma aliança estadual entre a sua legenda e o PSD, do pré-candidato Felipe Santa Cruz, seria imbatível. Os partidos ensaiaram uma aproximação, mas não conseguiram chegar a um consenso sobre quem ficaria com a cabeça da chapa.

“Converso com o Santa Cruz praticamente toda semana. A aliança foi adiada, não foi rompida”, afirma.

Ele diz ainda que pode ter o apoio do União Brasil, partido com vastos recursos e tempo de televisão, hoje na aliança de Castro. “O PDT vai apoiar o União Brasil em estados importantes, e reivindica o apoio no RJ.”

Preso durante seu segundo mandato à frente da prefeitura de Niterói, Neves afirma que foi “praticamente sequestrado”. “Fiquei uma semana sem saber do que estava sendo acusado, mais de 40 dias sem ver minha esposa e filhos. Eu nunca fui ouvido, passaram 5 anos desse processo”, diz.

Neves ficou preso preventivamente por quatro meses, de dezembro de 2018 a março de 2019, a pedido do Ministério Público estadual, sob acusação de receber propina por parte de donos de empresas de ônibus.

Ele ficou afastado da prefeitura até ser solto por decisão do Tribunal de Justiça e responde à ação penal em liberdade desde então.

Neves chama de falsa a delação premiada que baseou a denúncia contra ele. O pedetista foi implicado por Marcelo Traça, empresário preso nas investigações contra o ex-governador Sérgio Cabral, decorrentes da Lava Jato.

O MP-RJ calculou em R$ 10 milhões a propina paga ao ex-prefeito. A denúncia, porém, não apresenta prova de entrega de qualquer valor.

Sobre o problema da segurança pública no RJ, Neves afirma que não há solução mágica, mas que é possível reduzir os índices de criminalidade com investimento em inteligência policial e com uma agência que estabeleça relações com a Polícia Federal, as Forças Armadas e o poder público local.

Segundo ele, o massacre na favela do Jacarezinho, com 28 mortos, revela um despreparo do atual governo para prover segurança pública de qualidade. Neves diz que é preciso haver um plano de policiamento integrado no RJ, com base na mancha criminal.

Para levar à frente seus projetos em meio a um cenário de grande dificuldade fiscal, o pedetista afirma que será necessária uma repactuação do programa de recuperação fiscal com o próximo presidente. “Sem ele o Rio de Janeiro teria quebrado.”

O pré-candidato diz, ainda, que a próxima administração estadual terá que fazer o dever de casa de reestruturar as contas públicas.

A entrevista com Neves foi conduzida pelos colunistas do UOL Kennedy Alencar e Chico Alves e pelo repórter da Folha Italo Nogueira. As sabatinas são ao vivo, e cada pré-candidato tem direito a 60 minutos de fala.

Folha