Bolsonaro faz caravana do golpismo pelo país
Jair Bolsonaro embarcou numa caravana do golpismo. Nos últimos dias, ele explorou eventos oficiais, bancados com dinheiro público, para lançar novas suspeitas sobre o processo eleitoral, defender uma reação armada de seus apoiadores e lançar as bases para uma ruptura caso seja derrotado na votação de outubro.
O presidente parece interessado em reforçar a coalizão que apoiaria esses planos. Desde a semana passada, ele repetiu o discurso para plateias de produtores agrícolas, lojistas, empresários e policiais militares. Nesta terça (17), testou a ideia com eleitores do interior de Sergipe.
Na inauguração de uma obra de duplicação de uma rodovia, Bolsonaro tentou difundir a mensagem de que será preciso pegar em armas para defender o que ele chama de democracia, “não interessa os meios que porventura um dia teremos que usar”. A única democracia que o presidente reconhece, como se sabe, é sua permanência no poder.
A convocação já tinha aparecido no discurso que Bolsonaro fez numa feira agropecuária em Maringá (PR), na semana passada. “Quero que todo cidadão de bem possua arma de fogo para resistir, se for o caso, à tentação de um ditador de plantão”, disse, em meio a insinuações de fraude nas eleições e do perigo de “comunização do nosso país”.
Os apelos também chegaram a donos de supermercados que aplaudiram o presidente numa convenção, na segunda-feira (16). Ao pedir apoio dos empresários, Bolsonaro traçou um paralelo com o período que antecedeu a última ditadura no país: “O que tentaram nos roubar em 64, tentam nos roubar agora. Lá atrás, pelas armas. Hoje, pelas canetas”.
Ao repisar com desenvoltura essas ameaças, o presidente tenta naturalizar a ideia de que uma insurreição contra o resultado das urnas seria uma saída política aceitável, com o respaldo de segmentos estratégicos.
O passado já ensinou que há grupos dispostos a apoiar aventuras autoritárias. O presente mostra que outros preferem ficar em silêncio quando esse risco se apresenta.
Folha