Candidato de Bolsonaro a vice-presidente da Câmara é derrotado
Em votação interna, o PL decidiu nesta terça-feira (24) indicar o evangélico Lincoln Portela (MG) para a eleição à vice-presidência da Câmara, derrotando o deputado Vitor Hugo (GO), candidato do presidente Jair Bolsonaro e ex-líder do governo na Casa.
A eleição será realizada nesta quarta-feira (25). Portela recebeu 21 votos, contra 19 de Vitor Hugo. O Planalto orientou votação no nome do bolsonarista, que é pré-candidato ao governo de Goiás. Os 40 votos computados representam pouco mais da metade da bancada do PL na Câmara, que tem 77 deputados.
Se eleito, Portela substituirá o deputado Marcelo Ramos (PSD-AM), destituído pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após pressão do PL, partido de Bolsonaro.
O nome de Portela foi anunciado pelo líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), durante a sessão desta terça. “Tivemos uma votação para escolha do nome para a vice. Os deputados que tiveram nessa reunião apresentaram seus nomes e o resultado da reunião foi a escolha do nome do deputado Lincoln Portela”, disse.
“A gente sabe que tem companheiros no PL que possivelmente farão uma escolha avulsa. Mas na reunião do partido que foi divulgada e teve que participação de quase 45 deputados, o nome vencedor foi o do deputado Lincoln Portela.”
Portela é visto como um quadro tradicional do PL e tem posições alinhadas à do governo em algumas questões. Na votação do projeto que regulamentou a educação domiciliar, na última quarta-feira (19), ele foi à tribuna defender a modalidade de ensino.
“Nada é pior do que negar o óbvio. E qual é o óbvio? A educação domiciliar dá certo. A educação domiciliar deu certo em 65 países: em países socialistas, em países que hoje são dirigidos por comunistas e que mantiveram o homeschooling, em países capitalistas e em países que não são cristãos”, defendeu.
Lira fará novas eleições para preencher não só a vice-presidência, mas também a segunda secretaria, ocupada por Marília Arraes (PE) —que saiu do PT para o Solidariedade—, e a terceira secretaria, que hoje é dirigida por Rose Modesto (MS) —que trocou o PSDB pela União Brasil. As vagas serão disputadas por deputados do PT e do PSDB.
A eleição será presencial. As candidaturas poderão ser registradas até 19h desta terça-feira. A votação é secreta e por maioria absoluta —ou seja, o candidato precisa de pelo menos 257 votos. Se isso não acontecer, há uma nova eleição, e ganha quem tiver maioria simples, presente a maioria absoluta dos deputados.
Conforme revelou a Folha, o PL pressionou o presidente da Câmara a retirar o ex-integrante da legenda da vice-presidência da Casa e tentar emplacar um deputado da sigla no posto. Em live no dia 12 de maio, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ter pedido ao partido de Valdemar Costa Neto para destituir Marcelo Ramos, que é seu opositor e trocou o PL pelo PSD de Gilberto Kassab.
A ofensiva começou há cerca de um mês, mas foi intensificada após as críticas do amazonense à edição de decretos que reduzem o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e afetam a zona franca de Manaus.
Ramos recorreu ao TSE e conseguiu, no final de abril, uma decisão a seu favor, dada por Alexandre de Moraes, considerado pelo Planalto um adversário.
Na ocasião, Moraes determinou que o presidente da Câmara se abstivesse de acatar qualquer deliberação do PL que buscasse afastar ou substituir o deputado da vice-presidência da Casa legislativa. O ministro, porém, recuou nesta segunda e revogou sua própria decisão.
Sobre perda de cargo na Mesa Diretora por motivo de desfiliação partidária, Moraes afirmou que eventual ilegalidade no ato do comando da Casa deve ser avaliada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Ramos, no entanto, disse que não pretende recorrer da decisão.
O regimento interno da Câmara determina que o membro da Mesa Diretora que trocar de partido perde automaticamente o cargo que ocupa. A vaga, então, é preenchida após nova eleição.
A regra é reforçada por um artigo da Lei dos Partidos, que também estabelece a perda automática de função ou cargo na Câmara do parlamentar que deixar o partido pelo qual tenha sido eleito. O objetivo é manter a proporção partidária.
Ramos, no entanto, usava dois argumentos para defender a manutenção do cargo. O primeiro era que, em 2016, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PTB-SP, na época MDB-RJ), em resposta a um questionamento sobre o tema, decidiu que o termo “legenda partidária” poderia ser interpretado de modo amplo como “partido ou bloco parlamentar”.
Com isso, ele indicou que uma mudança de partido dentro de um mesmo bloco parlamentar não alteraria a representação proporcional da Mesa Diretora. Ou seja, como o PSD fazia parte do bloco de Lira na eleição para a atual Mesa Diretora, Ramos não seria afetado pela regra regimental.
O vice-presidente da Câmara também usava em sua defesa a carta de anuência enviada pelo partido de Valdemar Costa Neto na ação de desfiliação por justa causa. No documento, o PL diz que decidiu não utilizar as prerrogativas do artigo 26 da Lei dos Partidos —o dispositivo que prevê a perda automática do cargo em caso de troca de legenda.
Folha