Freixo diz que esquerda se distanciou dos evangélicos

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Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Segundo colocado nas pesquisas para o governo do Rio, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) diz que não é artificial sua aproximação com igrejas e economistas liberais, afirma que seria melhor PT e PSB terem apenas um candidato ao Senado e alfineta o governador Cláudio Castro. “É mais um Sérgio Cabral. Anda de helicóptero e faz festa que só falta o guardanapo”.

O senhor está montando uma aliança de esquerda para apoiá-lo, mas a sua legenda e o PT seguem insistindo em lançar dois candidatos ao Senado (o deputado federal Alessandro Molon e o deputado estadual André Ceciliano). Qual dos dois prefere para concorrer?

Não me cabe responder. Isso passa pelas direções nacionais de PT e PSB. Juridicamente é possível lançar dois candidatos, mas acho importante que se tenha apenas um para vencermos.

Mas nenhum dos dois sinaliza que vai ceder e Ceciliano disse que, se Molon não retirar, o PT pode sair da sua coligação para o governo do Rio…

Não há hipótese de o PT sair da chapa. A coisa mais importante que existe é preservar a aliança e os dois partidos querem muito ganhar a eleição para o governo do Rio. E para ser muito sincero, é governador que ajuda a eleger senador, não o contrário, né?

Incomoda ao senhor a proximidade de Ceciliano com o governador do Rio e a defesa que setores do PT fazem de uma chapa informal batizada de “Castro-Lula”?

Ceciliano esteve comigo semana passada em uma agenda numa universidade e deixou claro na fala que sou eu o candidato a governador dele. O PT fez uma reunião de seu diretório e por 53 votos a três decidiu pelo apoio à minha candidatura. Isso está completamente superado. Nós temos um lado, isso é dito por Lula, e esse lado tem que ganhar a eleição. Política se faz com lealdade e eu a tenho para com a campanha do Lula por entender que ela é muito importante para o Brasil neste momento. Ao contrário do Cláudio Castro, que todo mundo sabe que é da base do Bolsonaro, mas que finge que não é.

O senhor trocou o PSOL pelo PSB por entender que precisava deixar a imagem de radical para vencer uma eleição majoritária?

Nunca tive essa imagem de radical, muito pelo contrário, minha atuação no Parlamento sempre foi de diálogo. A ida para o PSB amplia a capacidade de união, temos seis partidos na aliança, uma parceria que o campo progressista nunca teve no estado. Precisamos desta capacidade de unir diante do que está acontecendo no Brasil e no Rio. O que Bolsonaro e Cláudio Castro representam no Brasil e no Rio, mais do que uma aliança política, é uma sociedade miliciana. A milícia está para o Rio assim como o garimpo está para o Brasil: arma, crime ambiental, violência, ilegalidade e exploração. É um projeto que ameaça as instituições. A eleição de 2022 servirá para derrotarmos o fascismo no Brasil.

Em campanhas anteriores o senhor não aparecia em agendas em igrejas e cultos e agora já foi fotografado em reunião de obreiros na Assembleia de Deus de Madureira. Isso não soa forçado apenas no ano eleitoral?

Primeiro que ir à igreja não é pecado. E segundo que é fundamental hoje dialogar com todas elas para criar uma relação com a juventude nos territórios desiguais do Rio. A igreja faz o cara parar de beber, parar de bater na mulher. Faz o dinheiro ser mais bem aproveitado por uma família. Essa experiência positiva da igreja a gente quer.

Hoje Bolsonaro é apoiado pelas principais lideranças evangélicas brasileiras. Por que a esquerda se distanciou do segmento?

A esquerda tem uma relação de origem muito próxima da Igreja Católica e acho que não conseguiu acompanhar o significado do crescimento das igrejas evangélicas, que tem uma relação direta com o abandono do poder público e a desigualdade social. Nós temos que buscar o que temos de comum e não o que temos de idêntico.

Concorda ser impossível evitar que lideranças como Edir Macedo, da igreja Universal do Reino de Deus, e Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, façam campanha negativa contra o senhor?

Não estou barganhando esse apoio, quero conversar sobre o futuro do Rio e boa parte dos pastores não são necessariamente ligados a grandes organizações. Eles têm todo o direito de fazer campanha contra. Depois da eleição, se estivermos fazendo um bom governo e quiserem elogiar, também serão bem-vindos.

Neste contexto de necessidade de atração do segmento evangélico, Lula errou ao falar recentemente que “todo mundo deveria ter direito ao aborto”?

Quem sou eu para dizer o que o Lula deve ou não falar. Acho que a pauta da campanha é a vida real das pessoas. Quero ser o governador da educação. Sou candidato para enfrentar o crime organizado, para melhorar emprego, investimento, garantir que toda criança seja alfabetizada na idade certa.

Assim como a aproximação com as igrejas evangélicas, o movimento de se conectar com figuras como Armínio Fraga ocorre por necessidade eleitoral ou é uma mudança de convicção?

Não é necessidade eleitoral, é necessidade civilizatória. O Rio e o Brasil voltaram a ter fome. O desemprego no Brasil é de 11%, no Rio é de 14%. Temos o segundo PIB e é o 18º estado em arrecadação. Essa realidade tem que ser suficiente para a gente entender que tem que dialogar com todo mundo. O Rio não pode ter mais um Sérgio Cabral, e está tendo com Cláudio Castro. O cara não para de passear de helicóptero. O cara faz uma festa que só faltou o guardanapo. Não suportaremos mais um governador preso.

Não é ruim ter esse discurso e contratar o Renato Pereira, marqueteiro de Sérgio Cabral e delator da Lava-Jato sob acusação de ter recebido por fora para fazer campanhas?

O Renato ganhou 17 eleições das 20 eleições que disputou, é um profissional competente e a minha relação com ele é daqui para frente. Se quem o contratou cometeu crime, cabe a essa pessoa responder sobre.

O crime é cometido por quem pagou, mas também por quem recebeu, não?

Mas ele não deve nada na Justiça. E quem define se tem crime é a Justiça, não somos nós. Então não tem nenhuma contradição.

Nesse tema corrupção, como senhor pretende responder na campanha a críticas ao envolvimento do PT, que está na sua aliança, em casos de desvio de recursos?

Lula foi inocentado, todas as suas denúncias foram anuladas e hoje ele é candidato garantido pela Justiça. Ficou claro que as acusações contra ele eram eivadas de irregularidades.

Mas não houve denúncias apenas em relação ao Lula. Houve uma gama de acusações em relação aos governos do PT, à Petrobras…

Cabe ao PT fazer o seu debate sobre o que foram os seus governos, dos quais eu não fiz parte. É evidente que houve erros, tem coisas que não podem se repetir. Não há problema algum em reconhecê-los.

O senhor sempre foi muito crítico sobre letalidade policial, mas tem evitado se manifestar publicamente sobre operações recentes, como a que deixou 28 mortos no Jacarezinho. É para atrair um eleitor que não costuma votar na esquerda?

Mais do que ficar postando alguma coisa nas redes sociais, eu fui ao Jacarezinho conversar com os moradores. Assim como converso há mais de um ano com setores da polícia do Rio. Naquela operação, assim que um policial foi morto logo no início, a ação deveria ter sido suspensa.

Um governo Freixo teria operações em favelas com o uso do caveirão?

Qualquer coisa tem que ter protocolo. Estamos discutindo caveirão e os coletes à prova de bala para os policiais estão vencidos. O ticket refeição de um policial civil custa R$ 12, ele não consegue comer. O recado que eu quero dar para a tropa é que as promoções serão justas e transparentes, vai ter investimento no treinamento e valorização da carreira.

Reajuste para as polícias o governador acabou de dar…

Não estou discutindo os efeitos eleitoreiros do governador. A questão é: qual é a política de segurança do Rio de Janeiro? Qual é a tecnologia implementada? Quais as metas, o que vamos fazer para reduzir o homicídio?

Os homicídios estão em queda no estado…

Mas a queda tem a ver com a pandemia e todo o processo nacional, não há relação com o Rio. E depende muito do local. A média nacional é de 24, 25 para cada 100 mil habitantes. Na Baixada Fluminense é de 43. Se for para Japeri aumenta para 86. Além disso, aumentou demais o número de pessoas desaparecidas.

O senhor pretende manter o regime de recuperação fiscal?

O Rio hoje tem uma dívida com a União que é muito alta. Vamos ter absoluta responsabilidade fiscal, mas no futuro governo eu vou sentar com o Lula eleito e dizer que precisamos de ajuda. Renegociaremos a dívida com a União, sem calote.

O governador tem criticado e até multado a Supervia alegando problemas na prestação de serviços. Como enxerga a questão?

A SuperVia é prioridade e diz respeito à população das zonas Norte, Oeste e Baixada. São 11 municípios e 104 estações. É preciso investimento público em trens. Um dado para comparação. A cada R$ 8 que o governo investiu no metrô para a Barra da Tijuca, 1 real foi para a SuperVia.

Não falamos ainda do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que o senhor tentou, mas não conseguiu apoio mesmo tendo declarado voto nele nos segundos turnos de 2018 e 2020. O que houve?

Se ele me apoiar no segundo turno, quita isso. Eduardo tem todo o direito de querer um projeto próprio, mas acho que a situação no Rio será muito polarizada.

Apoiaria a reeleição dele para prefeito em 2024?

Se tiver dentro de um debate que pense o Rio a longo prazo, não teria problema nenhum (em apoiá-lo). Não tenho dúvidas de que ele não está nesse campo do Cláudio Castro.

O Globo