Guedes diz que seu governo é ruim, mas do PT será pior

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Foto: Ciaran McCrickard/WEF

A campanha eleitoral para a Presidência da República acabou chegando ontem ao Fórum Econômico Mundial, com os dois ministros do governo de Jair Bolsonaro presentes ao evento alvejando a candidatura do PT.

“Eles são piores que a gente’’, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante um painel fechado chamado “Country Strategy Dialogue on Brasil”, ao responder a um empresário estrangeiro sobre a eleição de outubro, segundo alguns participantes.

Ao sair do encontro, indagado pelo Valor, o ministro Guedes disse que o que procurou dizer foi que o governo Bolsonaro faz as coisas melhor que o principal concorrente na disputa eleitoral.

Guedes relatou que o empresário perguntou o que acontecerá se o atual governo ganhar novo mandato e a resposta foi que “vamos seguir nosso ritmo acelerado de reformas’’.

Veio então a segunda parte: E se o outro lado ganhar? “O Brasil não vai entrar em colapso porque nós reforçamos toda a base institucional. Só vai andar devagar, quase parando’’, respondeu o ministro, segundo seu relato. Guedes exemplificou que “fizemos em 15 meses o que eles fizeram em 15 anos’’, referindo-se ao tempo tomado para zerar o deficit público.

Pouco antes, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ao sair da reunião, foi perguntado pelo Valor sobre a frase de Guedes de que “eles são piores que nós’’.

“Eu diria de outra maneira: nós somos melhores que eles’’, respondeu Queiroga. “Nos parâmetros de comparação, somos melhores em tudo.”

O ministro da Saúde disse que “eles (o PT) são imbatíveis em corrupção. E corrupção mata”.

Ainda segundo participantes, o ministro Guedes comentou na reunião fechada que “eles [o PT] nem sempre aprendem nem mesmo com os erros’’. Outra fonte comentou que o ministro teria dito que “eles aprendem fazendo e nós sabemos fazer’’.

A disputa eleitoral no Brasil passou ao largo de outros eventos em que o Brasil estava na agenda, segundo participantes. Executivos internacionais comentaram mais sobre a proteção da Amazônia e desmatamento.

Guedes ainda afirmou que é possível conceder até 5% de reajuste ao funcionalismo público federal, para compensar a inflação acumulada desde janeiro, mas sugeriu que os servidores “esqueçam” reposição de inflação anterior.

“A essência da política é essa, decidir o Orçamento”, afirmou Guedes. “Neste ano, no meio de uma crise dessa, vamos gastar mais com saúde? Sim. E o funcionalismo está em home office, tem estabilidade, tem bons salários, então neste ano suspende o aumento. Fizemos isso, que nenhum prefeito consegue fazer porque vereador não deixa, nenhum governador. Pela primeira vez, em 15 anos, zeramos o déficit em todos os níveis da federação. Estamos numa situação ímpar. Agora, se você começa a dar aumento, voltamos à situação de antes.”

Indagado sobre o que está fazendo para convencer o presidente Bolsonaro, que andou fazendo promessas, o ministro da Economia respondeu: “Você pode até dar alguma coisa, mas esquece o que ficou para trás. Você acha que na Alemanha, nos Estados Unidos… Perdas acontecem. Todo mundo perdeu no mundo inteiro. Daqui para frente, é preciso manter. A inflação acumulada neste ano é de 5% até agora. É possível repor [salário] do funcionalismo deste ano? Sim, é possível, até 5% dá”.

Ele argumentou que o período eleitoral nem deixa outra possibilidade. “É por lei, em ano eleitoral você só pode dar até a inflação e linear. O presidente gostaria de dar aumento aos policiais, mas não pode, é visto como aliciamento”, disse.

A proposta de aumento do funcionalismo público sofreu resistências de categorias que insistem que o percentual que o governo quer oferecer não repõe perdas causadas pela inflação. As carreiras policiais, sobretudo, insistem que Bolsonaro tinha se comprometido com um plano de reestruturação que embute aumento mais significativo para seus agentes. Lembrado de que Bolsonaro continua prometendo, Guedes retrucou: “Eu sei, é a pressão dos servidores.”

Valor Econômico