Novo Moro, Simone Tebet faz apostas sem base

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

A mídia está dando a Simone Tebet o mesmo tratamento que deu a Moro, achando que ela vai crescer nas pesquisas porque empresários, banqueiros e mídia querem; confira reportagem, abaixo

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Em paralelo ao desafio de unir a terceira via em torno de seu nome, já que o PSDB ainda não aderiu ao projeto, a presidenciável do MDB, senadora Simone Tebet (MS), investe em sua condição de mulher e mãe como trunfos para tentar romper a polarização cada vez mais consolidada entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de olho na maioria do eleitorado formada por mulheres.

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de março deste ano, mostram que as mulheres representam 53% do eleitorado, contra 47% dos homens. A diferença nominal é de 8,5 milhões de eleitores. A pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira mostrou que Lula tem a preferência de 49% das eleitoras, enquanto apenas 23% pretendem votar em Bolsonaro.

Na última quarta-feira, Simone Tebet assumiu o papel de “ mulher candidata” e invocou o símbolo da maternidade, ao afirmar que “a mulher [na política] tem a sensibilidade da mãe, sente a dor pelos seus filhos e pelos filhos de outras mães”. Reforçou que “mulher vota em mulher”.

Durante uma entrevista coletiva, a emedebista ressaltou que não se pode “menosprezar a força das mulheres eleitoras, que não estão satisfeitas com o Brasil que não acolhe, não protege”. Segundo Tebet, a realidade do país é de tirar o “sono das mães, que não sabem se seus filhos chegarão em casa, terão vagas em creches, em escolas, se terão remédio nos postos de saúde”.

A tática já foi adotada por Lula para fazer da então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua sucessora em 2010. Lula apresentou Dilma como a “mãe do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]” e alegou que ela poderia se tornar uma futura “mãe” dos brasileiros. A petista acabou eleita numa conjuntura em que Lula estava concluindo o segundo mandato com índices superiores a 80% de aprovação.

A primeira mulher eleita presidente da República, contudo, se tornaria alvo de xingamentos e agressões em meio ao processo de impeachment, em um exemplo clássico de violência política de gênero.

Antes, a ex-ministra Marina Silva (Rede Sustentabilidade), candidata a presidente derrotada em dois pleitos presidenciais, tornou-se alvo de uma ala radical da militância petista no pleito de 2014. Ao Valor, a ex-ministra do Meio Ambiente afirmou acreditar que a “violência política contra a mulher” foi inaugurada com ela naquela campanha sucessória.

No ano passado, um levantamento feito pelo jornal “O Globo” revelou que oito a cada dez parlamentares mulheres sofreram esse tipo de violência. Das 90 deputadas e senadoras da bancada feminina, 78 responderam o questionário. Desse total, 90,4% disseram acreditar que essa prática afasta as mulheres da política.

Marina participa hoje em Brasília do seminário “Mais Mulheres na Política” no Senado, ao lado da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia.

É num cenário de violência contra a mulher na política, que Simone Tebet reconheceu ao Valor que teme pela segurança das duas filhas, de 21 e 24 anos, e pediu que os nomes delas não fossem publicados. “Não sou diferente das outras mães brasileiras, passo pela mesma angústia diária de olhar para trás e pensar se não seria diferente se eu estivesse mais presente”, confidenciou a senadora pelo Mato Grosso do Sul.

“Essa dúvida fica o tempo todo, uma angústia que nunca é falada, explicada, entendida. É a angústia de não viver momentos em que [as filhas] caíram, se machucaram, sofreram bullying na escola, tiveram problemas de saúde”, completou.

Tebet recorda-se com tristeza de quando, após ter sido a primeira mulher prefeita eleita de Três Lagoas (MS), sua cidade-natal, uma das filhas ficou quase um mês internada com pneumonia, e ela não pôde estar presente diariamente.

A filha teve que ser transferida para um hospital da capital, Campo Grande, e Tebet percorria, não todos os dias, mas várias vezes na semana, 300 quilômetros de rodovia para passar o maior tempo possível com a filha. Ela não pôde se afastar da Prefeitura, em meio à pressão de ser a primeira prefeita mulher, tendo de conciliar a gestão do município com as obrigações da maternidade.

Marina Silva argumenta que sempre buscou preservar sua família de sua atividade política, mas nem sempre isso foi possível, especialmente depois da campanha agressiva de que foi vítima em 2014. “A violência, o preconceito, tudo isso pesa sobre qualquer pessoa de bom senso, que se oriente por valores éticos, onde haja afeto”, ponderou. “Ninguém quer ver sua mãe desconstruída, aniquilada”.

Marina também vê uma injustiça ao cobrarem dela eventual “sumiço” da cena política. “Porque se trata de uma mulher preta, de origem humilde, que vem de uma luta social”, argumentou. Segundo ela, não há cobranças quanto ao eventual “sumiço” de “José Serra, Geraldo Alckmin, Aloizio Mercadante”, enumerou, citando ex-presidenciáveis do PSDB, e o ex-chefe da Casa Civil do PT.

Em 2018, uma campanha ainda mais acirrada atingiu a então candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT), a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB). Ela e sua filha, Laura, então com três anos, foram vítimas de ameaças e agressões.

“Percebo que cada vez mais as ameaças a mulheres em campanhas, ou no Parlamento, envolvem nossas crianças. Isso, no meu caso, levou a patamares de tensão gigantesca”, admitiu Manuela ao Valor.

Na sexta-feira, Manuela comunicou ao partido que não vai concorrer ao Senado em outubro. Ela lidera as pesquisas em empate técnico com o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos).

Em 2020, Manuela foi ao segundo turno na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre, mas perdeu para o postulante do MDB, Sebastião Mello. Poucos meses depois, internautas ameaçaram Laura, então com 5 anos, de “estupro”.

Manuela relata que, na ocasião, chegou a ouvir do então vice-prefeito que a exposição pública de sua filha pequena era o preço que ela deveria pagar “por ser comunista”.

Mas a ex-candidata a vice-presidente advoga que tanta violência não pode afastar as mulheres da política. “Por mais contraditório que possa parecer, é por isso que precisamos de mais mulheres na política. Para que assediadores, agressores, sejam punidos. Para que a sociedade perceba que as violências que sofremos não acontecem porque nós as causamos, mas porque existe um sistema misógino contra aquelas que ousam enfrentá-lo”, concluiu.

Valor Econômico