PSDB colhe frutos do golpismo

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Foto: Reprodução

Fundado em 1988, o PSDB lançou seu primeiro candidato à presidência da República no ano seguinte, na primeira eleição direta no Brasil após o fim da ditadura militar. Desde então, sempre teve candidatos nos pleitos nacionais, mas, com a desistência de João Doria nessa segunda (23/5), o partido pode não contar com postulante em 2022 pela primeira vez desde a redemocratização.

A princípio, a legenda deve seguir nas negociações com o MDB e o Cidadania para lançar um nome único da chamada “terceira via”, embora haja integrantes da sigla que defendam a aposta em uma figura própria. Uma reunião da Executiva nacional que estava marcada para esta terça (24/5) foi cancelada.

A possibilidade do PSDB não ter candidato próprio em 2022 é mais um capítulo de um processo de perda de protagonismo que vem desde 2018, e só se intensificou com brigas dentro da legenda. Mesmo antes disso, em 2014, a imagem do partido ficou desgastada quando o então candidato à Presidência Aécio Neves acusou fraude eleitoral e pediu a recontagem de votos na eleição contra Dilma Rousseff (PT).

Foram oito disputas em 33 anos. Em duas delas, o candidato do PSDB Fernando Henrique Cardoso saiu vencedor. Em outras quatro, o partido foi para o segundo turno. Em 2018, a legenda perdeu o posto de adversário principal do PT para Jair Bolsonaro (PL, na época PSL) e amargou seu pior resultado em uma eleição: Geraldo Alckmin recebeu apenas 4,7% dos votos.

O ex-senador José Aníbal, tucano histórico, afirma que “não é um bom sinal” que o PSDB não tenha candidato próprio, e sugere que o partido aposte em Eduardo Leite ou Tasso Jereissati para a disputa.

“Agora que Doria fez esse gesto e entendeu a situação, é hora do PSDB cultivar fortemente sua unidade. Um ponto importante é ter uma candidatura. É importante não só para o partido, mas para o processo eleitoral que estamos vivendo. Não é uma candidatura de disputa com a Simone, que é excelente candidata, mas uma que dê mais consistência a esse centro democrático, que ajude nesse debate”, opina.

Para ele, Leite e Tasso possuem “muitas condições de assumir uma candidatura”. “Doria tinha uma equação que não fechava, que era uma rejeição muito alta e intenção de voto muito baixa”, explica.

Empresário bem sucedido, Doria só decidiu se aventurar na política em 2016, aos 59 anos, quando disputou a Prefeitura de São Paulo. Venceu. Tornou-se ambicioso e, após pouco mais de um ano no cargo, saiu para concorrer ao Governo de São Paulo.

Sua intenção de disputar a presidência da República é antiga. Em 2017, quando ainda era prefeito, admitiu que poderia concorrer ao cargo na eleição seguinte se a legenda assim quisesse.

Alckmin foi o candidato nacional, enquanto o então prefeito disputou o Governo de São Paulo e ganhou. Mas ali já começavam as intrigas com colegas do próprio partido. Durante a campanha, ainda no primeiro turno, se indispôs com Alckmin quando, em vez de apoiar seu padrinho político, vestiu a camisa (literalmente) do “BolsoDoria” para conquistar o voto dos eleitores de Bolsonaro em São Paulo.

Ele venceu o governo estadual, sua segunda vitória em sua segunda eleição disputada. Confiante, tomou posse já de olho na próxima empreitada política.

Mas ele não era o único a querer o posto de candidato tucano à presidência da República em 2022. Por isso, o partido realizou prévias entre ele, o então governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite e o ex-senador Arthur Virgílio.

O paulista ganhou, virou oficialmente o pré-candidato do PSDB, mas a vitória nas prévias não significou respaldo político nem mesmo dentro da legenda, e ficou escancarada a divisão interna entre os tucanos.

A cúpula sempre fez questão de frisar que sua candidatura não era definitiva, e dependia de um acordo com demais partidos da centro-direita – como o MDB e o Cidadania. Ao mesmo tempo, Eduardo Leite, respaldado por Aécio Neves e outros apoiadores, continuou a atuar como pré-candidato, deixando o clima ainda mais conturbado.

Doria conquistou mais um desafeto quando, em 31 de março, ensaiou não sair do governo paulista, o que inviabilizaria a posse de seu então vice Rodrigo Garcia (PSDB), também pré-candidato a governador. Só decidiu deixar o Palácio dos Bandeirantes com uma carta de Bruno Araújo, presidente do PSDB, que a contragosto afirmou que ele era o candidato do partido. Garcia se sentiu desrespeitado, e tem se descolado do ex-governador em sua gestão e pré-campanha.

Não foi o suficiente para deixar a legenda em paz. Pouco depois, Bruno Araújo desembarcou da campanha de Doria e, em Brasília as negociações entre MDB, Cidadania e PSDB avançaram. O nome de Simone Tebet (MDB) foi visto como uma alternativa mais viável, pela baixa rejeição. Ficou insustentável a manutenção de Doria na disputa, e a desistência veio “com o coração ferido, mas a alma livre”.

Metrópoles