Só Lula entendeu a tática de Bolsonaro com indulto

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Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Lula levou cinco dias para comentar o indulto de Jair Bolsonaro ao deputado que incitou a violência contra ministros do Supremo. Na terça-feira, o petista foi questionado sobre o decreto do capitão. Depois de chamá-lo de “estúpido” e “medíocre”, justificou o próprio silêncio.

“Eu nem comentei nada porque tudo o que ele queria era o que aconteceu. Ele abafou o carnaval”, afirmou. “Ele fez isso na quinta-feira. Ficou quinta, sexta, sábado, domingo, segunda e terça no auge do noticiário. Tudo o que ele quer é permanecer no noticiário, e ele não tem nenhum interesse se é coisa boa ou ruim”, prosseguiu.

Bolsonaro sabe como desviar o foco de assuntos incômodos. Nos dias que antecederam o decreto, o IBGE registrou a maior inflação para março em 28 anos. O governo foi obrigado a admitir que os pastores lobistas do MEC estiveram 35 vezes no Planalto. O noticiário revelou novas suspeitas de desvios na Codevasf, estatal loteada entre deputados do Centrão.

Ao afrontar o Supremo, o presidente varreu todos esses temas da pauta. O país voltou a discutir crise institucional, ameaças de golpe e bravatas de generais de pijama. No dia de Tiradentes, as redes bolsonaristas se empenharam em transformar um arruaceiro em mártir. A apologia da delinquência foi vendida como liberdade de expressão.

O perdão a Daniel Silveira é mais do que um factoide. Bolsonaro deu outro passo para fragilizar o Judiciário e preparar uma virada de mesa em caso de derrota nas urnas. Sua escalada autoritária impõe riscos concretos à democracia, mas isso não obriga a oposição a morder imediatamente todas as iscas que ele arremessa.

Ao descrever a tática do abafa, Lula mostra ter compreendido o funcionamento da máquina bolsonarista. Parece um avanço em relação a 2018, quando as cortinas de fumaça da extrema direita dominaram a batalha da comunicação. Falta trazer o debate de volta aos temas que importam: carestia, retorno da fome, precarização do trabalho, abandono da juventude nas periferias.

Lula teve motivo para lamentar a ausência de Marina Silva no encontro com políticos da Rede Sustentabilidade. Sem a ex-ministra, a adesão da sigla virou um mico.

Nos bastidores do ato, um dirigente petista elogiou os novos aliados pelo crescimento de 100% na Câmara. A bancada da Rede acaba de saltar de uma para duas cadeiras.

Luciano Bivar é um homem de negócios. Em 2018, alugou seu partido nanico a um deputado do baixo clero que não conseguia legenda para concorrer ao Planalto.

Tirou a sorte grande. Só neste ano, receberá quase R$ 1 bilhão dos fundos partidário e eleitoral.

Agora Bivar planeja sair candidato de si mesmo. Tem tudo para repetir o desempenho de 2006, quando terminou em último lugar com 8.270 votos. A diferença é que a nova derrota pode ser muito mais lucrativa.

O Globo