Tebet, Lula e Bolsonaro disputam eleitorado feminino

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Foto: Arte / Agência O Globo

Na semana em que se abriu caminho para que a chamada terceira via tenha a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como candidata, as pré-campanhas dos líderes da disputa, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), passam a ter maior participação das mulheres dos dois, a socióloga Rosângela Silva, a Janja, e a primeira-dama Michelle Bolsonaro. No primeiro discurso após a desistência de João Doria (PSDB), Tebet mirou o eleitorado feminino, ao dizer que “mulher vota em mulher”. Michelle Bolsonaro se filiou ontem ao PL, o que permitirá que ela participe da tentativa de reeleição inclusive nos programas de TV. Já Janja, como informou o colunista Lauro Jardim virou presença frequente nas reuniões da coordenação política da campanha petista.

Maioria do eleitorado do país, representando 52% do total, as mulheres são alvo preferencial dos candidatos. Pesquisas internas encomendadas pelos partidos da chamada terceira via — PSDB, MDB e Cidadania — apontaram que as eleições deste ano serão definidas pelas mulheres. Esse foi um dos argumentos utilizados pelos dirigentes para optar por Tebet em vez de Doria, que abandonou a disputa na última segunda-feira.

— Quando eu entrei na vida pública, havia uma dificuldade de mulher votar em mulher. (…) Mulher que tem protagonismo acaba empoderando outra mulher. Hoje, eu posso dizer: mulher vota em mulher — afirmou a Tebet ao discursar ontem pela primeira vez após ser confirmada como pré-candidata do MDB.

Na perspectiva dos estrategistas do grupo da terceira via, o eleitorado feminino desponta como a maior fatia que ainda permanece indecisa — ou seja, que não escolheu ainda um candidato — e que tende a definir o voto somente na última hora. No linguajar do marketing político, trata-se dos chamados swing voters, grupo que neste ano teria a predominância das mulheres.

A voz da mulher — Foto: Editoria de Arte

O perfil desse eleitorado indeciso foi detectado pela última pesquisa Datafolha feita em março. Segundo o instituto, 39% das mulheres entrevistadas responderam que “não sabem” ainda em quem vão votar para presidente. Nos homens, esse porcentual cai para 25%.

Aliados da emedebista ainda consideram que uma candidata mulher tende a se diferenciar dos outros nomes na disputa — a maioria homens, com exceção de Vera Lúcia e Sofia Manzano, dos nanicos PSTU e PCB, respectivamente —, o que poderia despertar mais simpatia do eleitorado.

Com a filiação de Michelle ao PL a campanha abre a possibilidade de ela participar de propagandas partidárias — a legislação eleitoral veta que não filiados participem. No Dia das Mães, por exemplo, a primeira-dama já foi a estrela de um pronunciamento em rede nacional de TV no qual listou uma “série de ações que beneficiam as mães brasileiras”.

As aparições dela, que devem se tornar cada vez mais frequentes, não são despropositadas. Pesquisas qualitativas feitas pelos partidos mostram, por exemplo, que algumas pautas do bolsonarismo têm impacto nulo sobre as mulheres, como a defesa das armas.

Segundo o último Datafolha, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro é mais ampla justamente no público feminino. Mesmo à frente, o petista também tem apostado na participação de Janja como forma de dialogar com o público feminino. Ela virou figurinha carimbada no comitê de campanha e, segundo pessoas próximas ao ex-presidente, foi dela a ideia de fazer um encontro do petista com mulheres em fevereiro.

Pré-candidato do PDT, o ex-ministro Ciro Gomes é outro que aposta na mulher, Giselle Bezerra, como tática para ganhar a simpatia do eleitorado feminino. Produtora e ex-dançarina, ela foi escalada para apresentar uma live semanal ao lado do marido e tem marcado presença em eventos e viagens do presidenciável. Em 2002, quando ainda era casado com a atriz Patrícia Pillar, o pedetista se envolveu em polêmica ao dizer que o papel de sua mulher na campanha era apenas o de “dormir com ele”.

Na avaliação da cientista política Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getulio Vargas (FGV), houve uma mudança de comportamento no eleitorado brasileiro a partir do momento em que as mulheres passaram a ocupar mais espaço na política.

— Havia uma ideia antes de que as mulheres faziam campanha para os homens, porque as mulheres não votavam nelas. Isso não está aparecendo mais. E os partidos estão observando isso nas pesquisas qualitativas — afirmou.

Graziella também ressalta o que considera a “maior novidade” desta eleição:

— Esse discurso (de valorização da mulher) sempre esteve mais presente no espectro da esquerda. E agora também está na direita e centro-direita.

Como principal fator para a mudança, a cientista política destacou a nova regra eleitoral que reserva pelo menos 30% dos recursos do fundo eleitoral para financiar candidaturas femininas.

O Globo