Bolsonaro levou mediocridade até para o IPEA

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Foto: Reprodução

Nomeado em abril deste ano para o cargo de diretor de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação e Infraestrutura do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o servidor federal João Maria de Oliveira mantém no currículo um cargo que nunca exerceu.

Na plataforma Lattes, Oliveira diz ter ocupado o cargo de secretário-adjunto na Secretaria de Estado da Administração do governo do Rio Grande do Norte em 2004, onde teria ficado por um ano. A última atualização no currículo foi em março de 2020.

Não há, contudo, qualquer registro de nomeação no Diário Oficial do Estado, tampouco no portal de Transparência, no qual é possível pesquisar a remuneração de servidores.

Currículo Lattes - Reprodução/Cnpq - Reprodução/Cnpq

Questionada, a assessoria de imprensa do governo do estado informou que, no sistema, só há o registro de uma portaria que autorizava Oliveira a substituir o secretário adjunto titular à época durante as “ausências e impedimentos legais”. Entretanto, não houve a necessidade de substituição, informou ao UOL.

“A Sead (Secretaria de Estado da Administração) não localizou qualquer publicação em Diário Oficial do Estado quanto à eventual nomeação e/ou exoneração do servidor para ocupação do cargo de secretário-adjunto”, afirmou em nota. À época, Oliveira trabalhava como analista de sistemas na Datanorte (Companhia de Processamento de Dados do Rio Grande do Norte).

Portaria - Reprodução - Reprodução

Além de secretário-adjunto, há, ainda, outra função no governo do Rio Grande do Norte, citada no Lattes de Oliveira. Esse posto, todavia, ele de fato exerceu. Em 2005, Oliveira foi coordenador do PNAGE (Programa Nacional de Apoio à Modernização da Gestão e do Planejamento) da mesma pasta.

Formado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com mestrado em administração e doutorado em economia, Oliveira ingressou no serviço público como técnico do Ipea em 2009 — antes de ser promovido a diretor, ele era técnico de planejamento e pesquisa.

Segundo seus currículo, as áreas de pesquisa do seu trabalho eram sobre tecnologia da informação, setor de serviços, empreendedorismo, micro e pequenas empresas e tributação — antes de 2009, ele foi consultor do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

O UOL procurou o diretor por telefone, mas não conseguiu localizá-lo. Por meio de nota o Ipea disse que Oliveira “foi nomeado diretor com base em seu histórico acadêmico e seu desempenho como pesquisador, não havendo influência de cargos ocupados fora do instituto”.

“A comprovação de informações contidas na plataforma Lattes é de responsabilidade do autor do currículo. Neste caso, João Maria de Oliveira reitera que ocupou os cargos de secretário-adjunto e de coordenador do Programa Nacional de Apoio à Modernização da Gestão e do Planejamento, conforme consta em seu currículo Lattes”, diz a nota do Ipea.

Servidores do Ipea ouvidos pelo UOL alegam que, durante as reuniões, Oliveira faz questão de mencionar o cargo de secretário-adjunto que não ocupou no governo potiguar, “com um discurso para dizer que sabe lidar com pressão e equipes, e está à altura do cargo”.

Com o salário bruto de R$ 33 mil, Oliveira foi nomeado diretor após a demissão de 6 dos 7 diretores do Ipea, em março passado, logo que o novo presidente do instituto, Erik Figueiredo, assumiu o cargo. Ele foi subsecretário de Política Fiscal do Ministério da Economia e a mudança tinha como principal objetivo aumentar a integração entre a pasta e o instituto.

Figueiredo substituiu o economista Carlos Von Doellinger, que comandava o órgão desde o início do governo Bolsonaro. Durante a gestão de Doellinger, um comunicado interno foi emitido para alertar pesquisadores sobre eventual punição se estudos, análises e pesquisas sem autorização prévia fossem divulgados.

Segundo o UOL apurou, o nome de Oliveira foi uma indicação do atual ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, também servidor do Ipea.

Antes de assumir o cargo de ministro, em maio, Sachsida fazia parte da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, na qual desempenhava a função de assessor especial desde fevereiro de 2022 — antes disso, foi secretário de política econômica da pasta.

O Ipea é uma fundação pública vinculada ao Ministério da Economia, cujas atividades de pesquisa dão suporte técnico e institucional às ações da pasta.

Uol