Indígenas vão à ONU contra Bolsonaro
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Lideranças indígenas do Brasil vão incrementar a pressão contra o governo de Jair Bolsonaro, levando para a ONU (Organização das Nações Unidas) uma intensa agenda de cobranças e denúncias contra as autoridades nacionais. No Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, grupos atacarão a escalada de violência enfrentada pelos povos originários em seus territórios e o aumento das invasões e das ameaças contra defensores de direitos humanos no Brasil.
A ofensiva dos grupos indígenas ocorre dias depois da confirmação das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Além das invasões, as lideranças vão acusar o estado brasileiro de negligência.
A esperança dos grupos indígenas é que, ao tornar praticamente permanente o debate na ONU, o tema se transforme em um foco de pressão sobre o governo brasileiro.
Para o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), que organiza parte da ofensiva na ONU, “o que ocorre no Vale do Javari está intrinsecamente relacionado ao desmonte das políticas e órgãos públicos de proteção aos povos originários e aos seus territórios”.
A primeira intervenção na ONU ocorre nesta sexta-feira (16). Uma representante do povo Kaiowá, Lunice Barbosa, em Mato Grosso do Sul, apresentará denúncias ao dar uma declaração durante o diálogo sobre direitos à liberdade de reunião pacífica e de associação. O encontro contará com a presença do relator especial sobre o tema, Clément Nyaletsossi Voule.
A pressão continua na próxima terça-feira (21), durante a reunião do mesmo conselho sobre a questão dos direitos humanos e corporações transnacionais. Desta vez, quem falará será uma liderança do povo guarani, da Terra Indígena Tarumã, em Santa Catarina.
Um dia depois, o debate volta, quando a agenda se dedica a discutir sobre execuções sumárias. Neste caso, será o secretário adjunto do Cimi, Luis Ventura, quem apresentará as denúncias.
Já no dia 28, outra acusação será apresentada contra o governo no momento que o conselho tratar dos efeitos adversos das mudanças climáticas.
Também está previsto um evento para debater como povos livres ou em isolamento voluntário no Brasil estão ameaçados. O encontro será realizado pela Eapil (Equipe de Apoio aos Povos Indígenas Livres) do Cimi, e contará com a presença de organizações indígenas e indigenistas, bem como especialistas em direitos humanos.
Na abertura do 50º período de sessões, em Genebra, a alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, manifestou “grande preocupação” com a violência contra os povos indígenas no Brasil e com as tentativas de legalizar o esbulho dos territórios.
Um dia depois, o governo de Bolsonaro reagiu e tentou desmentir a representante da ONU.
“Instituições de Justiça investigam com rigor e independência situações de ameaça e violência contra defensores de direitos humanos. Também atuam para reprimir ações ilegais em terras indígenas”, disse Tovar Nunes, embaixador do Brasil na ONU. “Nosso programa nacional de proteção foi fortalecido em 2019 para também incluir jornalistas e ambientalistas”, garantiu o diplomata.