Lula e Alckmin querem apoio só dos tucanos “cabeças-brancas”

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Foto: STRINGER/REUTERS

Petistas e pessoas próximas à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm procurado membros da velha guarda do PSDB para debater um possível apoio informal, porém sem pretensões ou anseios de aliança com a sigla.

No PT, a avaliação é que a aproximação mais formal do partido, em alguns estados muito próximo do bolsonarismo, não traria muitos benefícios à campanha do ex-presidente ao passo que acenos de lideranças consideradas “do campo democrático” contribuiriam para o discurso de “frente ampla”. Oficialmente, porém, a campanha fala em buscar o apoio de todos que defendam a democracia e queiram combater o presidente Jair Bolsonaro (PL).

O ex-governador e ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB) é peça fundamental no diálogo. Com o PSDB rachado e em debate sobre o apoio à senadora Simone Tebet (MDB-MS), Alckmin tem retomado alguns contatos —e deixado outros de lado.

O foco são os tucanos “históricos”, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com quem Lula conversou diretamente; o senador José Serra (PSDB-SP); e o ex-senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que não só já declarou voto em Lula no primeiro turno como disse que fará campanha.

Também são a eles direcionados os afagos mais recentes de Lula em eventos. Depois de falar, em São Paulo, que o PSDB “acabou”, o petista tem repetido que o Brasil era feliz quando a polarização ocorria entre petistas e tucanos, e não com Bolsonaro.

Embora nenhum membro da própria campanha discorde de Lula, a fala, dita em momento de empolgação durante o lançamento de um livro, não pegou bem entre os petistas que negociam o apoio, e nem entre os tucanos já procurados —afinal, fundaram o PSDB e veem a crise como derrota também pessoal.

Os diálogos, que têm ocorrido de forma discreta, ficaram mais às claras na resposta do PSDB após a fala de Lula nesta semana. Em nota nas redes sociais, o partido disse que Lula “segue na hipocrisia procurando líderes tucanos”.

Publicamente, a equipe de campanha de Lula e Alckmin defende que é necessário buscar todo apoio possível. “As conversas acontecem com lideranças de todas as gerações e lugares e deverão se intensificar ainda mais na medida que fica mais nítido que só Lula e Alckmin podem derrotar Bolsonaro”, afirma o deputado Alexandre Padilha (PT-SP).

Na prática, no entanto, petistas sabem que não conseguiriam apoio de grande parte do PSDB —e nem querem. A avaliação deles é que a presença de alguns tucanos muito pouco acrescentaria, como a do atual presidente Bruno Araújo ou de lideranças como o deputado Aécio Neves (PSDB-MG).

Casos como estes, dizem petistas, poderiam até atrapalhar, sofrer resistência interna e aumentar mais ainda problemas de articulação no estado.

No PSDB, é considerado completamente irreal que lideranças tucanas do Centro-Oeste e do Sul ou figuras como o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) e a ex-prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB-PE), ambos pré-candidatos ao governo dos seus estados, se aproximem de qualquer campanha petista.

Seria mais fácil se aproximarem de Bolsonaro, como já fez o governador Reinaldo Azambuja (PSDB-MS). É provável que o seu candidato a sucessor, o ex-secretário Eduardo Riedel (PSDB), dê palanque ao presidente no estado mesmo que o partido apoie Tebet.

O cenário muda quando se fala em FHC, Serra, no ex-senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) ou no senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), cotado a vice na chapa de Tebet. Sem forte proximidade com o governo e distantes de Aécio, são tidas como lideranças “do campo democrático”.

Na avaliação dos apoiadores, se as atuais investidas forem bem-sucedidas, ótimo; se não, tudo bem também.

Além disso, mesmo que o apoio não venha agora —Serra, por exemplo, defende candidatura própria do PSDB— já são criados laços para acenos em um possível segundo turno.

Também há a questão Alckmin. Fundador do PSDB, ele saiu do partido após 33 anos em um ato de desfiliação discreto e sentido. Em meio a uma disputa velada com o ex-governador paulista João Doria (PSDB), que ele apadrinhou, Alckmin deixou muitos amigos no partido, mas também muitas inimizades.

Interlocutores contam que a anuência do atual governador Rodrigo Garcia (PSDB-SP), seu ex-secretário em dois mandatos, não foi esquecida. Por isso, Garcia, que disputa a reeleição com Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB), não deve ser procurado.

Uol