Maior raposa política do Brasil vê Lula eleito em 1o turno
Sem conseguir viabilizar o projeto de candidatura própria a presidente da República, o PSD mira agora, como prioridade máxima, a recondução do senador Rodrigo Pacheco (MG) à presidência do Senado em 2023. A afirmação foi feita ao Valor pelo presidente nacional do partido, Gilberto Kassab.
Para manter um dos três cargos mais relevantes na estrutura de poder da República com o PSD, entretanto, Kassab admite que será preciso eleger governadores e bancadas expressivas no Congresso. Ele projeta a vitória nas urnas pela legenda de, pelo menos, 60 deputados federais e 16 senadores.
Enumera candidatos competitivos aos governos de 10 Estados (MG, RJ, PR, SE, AC, AP, MS, ES, AL e MA), e ressalva que o ex-prefeito Felício Ramuth ainda pode crescer em São Paulo. “Acredito muito na vitória do [Alexandre] Kalil em Minas, e do Ratinho Júnior no Paraná”, apostou.
Para Kassab, Ciro Gomes (PDT) não conseguirá romper a polarização, e João Doria errou ao não trabalhar pelo controle do PSDB. A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:
Presidência do Senado
“No plano político, no momento em que abrimos mão de uma candidatura a presidente da República, a permanência da presidência do Senado com o PSD passa a ser uma prioridade, e muito possivelmente, a mais importante. Mas isso passa por um primeiro momento que é ter força para sustentar isso, o que significa eleger governadores, deputados federais, senadores.”
Minas Gerais
“O acordo com o PT em Minas foi uma questão local. O PSD em nenhum momento vinculou as questões regionais à questão nacional. O PT está apoiando o [ex-prefeito de Belo Horizonte] Alexandre Kalil na eleição para o governo, o que é muito bom, porque o ex-presidente Lula está pegando um palanque pronto. Tem dois senadores [Pacheco e Alexandre Silveira], a estrutura política do ministro [do TCU] Antonio Anastasia, que tem um legado político, a Prefeitura de Belo Horizonte com o Fuad Noman. Vamos ter um palanque majoritário robusto. As eleições em Minas estão polarizadas, tudo caminha para um empate técnico entre o [governador Romeu] Zema e o Kalil. Se o Zema não tiver uma aproximação com Bolsonaro, vai ficar sem voto. A polarização leva a isso, o eleitor petista vai ficar com o Lula e o Kalil.”
São Paulo
“Todos os pré-candidatos do PSD ao governo são competitivos, à exceção de São Paulo. O [ex-prefeito de São José dos Campos] Felício Ramuth tem condições de crescer, mas a candidatura dele nasceu do zero. O Felício é uma nova liderança, e ganha de qualquer maneira, vencendo ou não. Nós vamos até o final com ele em São Paulo, ele renunciou à prefeitura para concorrer, e a sua pré-campanha está indo muito bem.”
Rio de Janeiro
“Seria arrogância, como não temos participação nacional em nenhum projeto, fazer comentários em relação aos outros partidos. Mas eu acredito que a precipitação da definição do PT no apoio ao [deputado Marcelo] Freixo [do PSB] no Rio contribuiu para afastar o [prefeito] Eduardo Paes no primeiro turno do Lula. O PSD no Rio caminhava por uma chapa com o apoio do Paes, o presidente da Assembleia Legislativa [André Ceciliano, do PT] como candidato ao Senado, e o Felipe Santa Cruz [ex-presidente da OAB] como candidato ao governo.”
Apoio a Lula
“Não é fácil [um eventual apoio a Lula no primeiro turno]. Imagina se estivéssemos apoiando o Lula, a gente ia considerar o [governador do Paraná, candidato à reeleição] Ratinho Júnior um dissidente? E se estivéssemos apoiando o presidente Bolsonaro, iríamos considerar o Kalil um dissidente? Temos 47 deputados, uma parte tem uma certa aproximação do governo nessa questão de emendas, e uma aproximação com o Lula dificultaria a relação política deles com suas bases. Por isso a candidatura própria foi o nosso principal objetivo. Tudo caminha para liberar [o apoio aos candidatos a presidente], mas isso ainda não está definido. Aprendi na vida partidária que enquanto não se der a convenção, tudo pode acontecer.”
Favoritismo de Lula
“Hoje as pesquisas mostram uma tendência de eleição no primeiro turno. Sinto pelos depoimentos dos nossos quadros – [senador] Omar Aziz no Amazonas, [senador] Otto Alencar na Bahia, o Kalil em Minas Gerais – a presença muito forte do Lula nos seus Estados, de uma pesquisa vigorosa que vai se sustentar. São Paulo é minha praia, fui prefeito, secretário municipal, vice-prefeito, modéstia à parte eu conheço. Sinto a presença do Lula muito forte na capital.”
Chance de Bolsonaro
“Os quadros do PSD que estão com o presidente acreditam que vai ter segundo turno, e que o Bolsonaro pode ganhar. Mas, no PSD, não temos próximo do Bolsonaro tantos quadros como os que estão com Lula.”
Terceira via
“Torço pela terceira via, e a que existe hoje é a [senadora] Simone Tebet, do MDB. Tenho respeito por ela, é bem experiente. Mas hoje quase 80% dos brasileiros já fizeram a sua opção.”
Economia e pandemia
“Nessa questão de estabilidade do quadro, o Lula é favorecido porque não é governo. O Lula depende dos seus erros [para cair nas pesquisas], o Bolsonaro depende também das circunstâncias, e a mais importante é a questão da economia, a inflação, o desemprego. Também voltará na campanha a questão da pandemia, o Bolsonaro vai ser cobrado pelo negacionismo. Teremos nas eleições quase 700 mil pessoas que terão morrido [de covid-19].”
Responsabilidade fiscal de Lula
“Quando Lula se elegeu pela primeira vez ele conduziu a economia com equilíbrio, e a responsabilidade fiscal predominou no seu governo. Não vejo motivos para acreditar que ele teria uma postura diferente.”
João Doria
“Ele errou como governador de São Paulo em não cuidar do seu partido [o PSDB]. Como pode um governador de São Paulo com a projeção que tem, com o peso politico, a capacidade de articulação, não conseguir assumir o comando do próprio partido? Faltou habilidade, vontade, trabalho. Em segundo lugar, errou na comunicação. Foi um exagero que revoltou parte importante da sociedade, ele aparecia demais. Veja o Kalil em Belo Horizonte: aparecia 15 segundos, com uma frase só, e acabou.”
Ciro Gomes “
O Ciro seria um excelente candidato da terceira via. Mas é difícil porque, se ele não cresceu nesses quatros anos, por que vai crescer nesses três meses, praticamente, que temos até a eleição? Ele sabe que tenho estima por ele, mas, para um candidato seguir em frente, o eleitor precisa acreditar nele. E o eleitor não acredita que o Ciro tenha chance, por conta das circunstâncias, não por falta de qualidade.”
Eduardo Leite
“Tinham circunstâncias no PSD para abraçar a candidatura dele. Agora passou, é melhor virar a página. A gente tem expectativa que ele seja candidato [ao governo do Rio Grande do Sul]”
Valor Econômico