Bolsonaro e filho “entregam” plano bandido
Bolsonaro e filho “entregam” plano bandido
Eduardo Guimarães
Donald Trump está a um passo de começar seus dias vendo o sol nascer quadrado. Enquanto isso, Bolsonaro e o filho 01 dão provas de que irão imitá-lo. Para entender aonde eles querem chegar, porém, é preciso olhar para o Norte.
Se Trump for acusado formalmente pelo Departamento de Estado pelo ataque ao Capitólio, espalha-se a previsão de que acabará atrás das grades, até para servir de exemplo do que político nenhum pode fazer numa democracia de verdade.
Por lá, vai ficando cada vez mais claro que o objetivo de Trump, em 6 de janeiro de 2021, era ajudar seus apoiadores no que fosse possível para que invadissem o Capitólio a fim de evitar transferência ordenada de poder para o vencedor da eleição, Joe Biden.
Enquanto dois dos filhos adultos do ex-presidente republicano, Donald Trump Jr. e Ivanka Trump, concordaram em prestar depoimento a partir de 15 de julho em uma investigação civil do Estado de Nova York sobre as práticas comerciais do pai, o cerco se fecha em torno do patriarca da família por tentar dar um golpe de Estado.
Trump, assim como alguém que conhecemos, vive um inferno astral.
E para o establishment norte-americano mostrar que fala sério, o republicano Ryan Kelley, candidato ao governo de Michigan, foi preso por incitar e participar da invasão ao Capitólio.
Sem moleza para golpistas. Nem os de baixo ou os de cima, nos EUA, querem abrir mão da democracia, pois do mais rico ao mais pobre todos sabem que, em ditaduras, só quem lucra é o ditador.
Contra Kelley há indícios muito concretos. Conforme um vídeo obtido pela mídia norte-americana ele aparece incitando os invasores já nas dependências do Capitólio, gritando “isso é uma guerra”.
Em 10 de junho último, a comissão que investigou o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos afirmou que Trump estava por trás de uma “tentativa de golpe” para se manter no poder e, por isso, incitou os manifestantes a invadirem o local.
Em audiência televisionada em horário nobre, o comitê especial do Congresso mostra aos americanos a existência de uma trama orquestrada por Trump para reverter o resultado da eleição de 2020.
A comissão que investiga TRump equivale a uma “CPI” no Brasil. Essa comissão acusa Trump de orquestrar “tentativa de golpe”. Segundo investigadores, Trump fez acusações de fraude na eleição de 2020 sabendo que elas eram falsas. E incitou manifestantes à violência com objetivo de um golpe de Estado.
Corte para a recente reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente Joe Biden – o primeiro entre eles desde que o democrata tomou posse. Bolsonaro chama Biden de “Trump” e ri dizendo ter cometido um “Ato falho”. Foi uma confissão.
No dia 11 último, Bolsonaro anunciou que ainda mantém contato com Trump e que pretende encontrar-se pessoalmente com o republicano antes das eleições. Não explicou por que por a explicação ser desnecessária. Todos sabem por que dessa conversa nessa data.
No caso de Trump, ele ignorou alerta de assessores e insistiu na alegação de fraude eleitoral. 0 ex-procurador-geral William Barr e integrantes do governo Trump tentaram, sem sucesso, demover o então presidente republicano de alegar manipulação nas eleições de 2020, como revelou a “CPI” do Congresso ianque. No Brasil, já aconteceu a mesma coisa. Aliados de Bolsonaro querem que ele diminua a radicalização.
Bolsonaro explicar aos aliados que se não radicalizar acabará preso não adianta, porque dizem que ele tentar um golpe dará no mesmo. Mas Bolsonaro imita Trump. Acha-se igual ao magnata norte-americano que erigiu um império enquanto ele não construiu porcaria nenhuma em sua vida inútil além de preconceitos, ignorância e brutalidade.
Apesar de Bolsonaro achar o caminho do golpe mais fácil, deveria olhar ao Norte. Lá longe…
No dia do ataque ao Congresso dos EUA, Trump tentou ir até o Capitólio, foi impedido por seguranças e atacou um agente, revelou a ex-assistente Cassidy Hutchinson, que prestou depoimento na última terça à “CPI” que investiga o ataque de 6 de janeiro de 2021.
A fala da ex-assessora da Casa Branca é uma “bomba” para Trump, avaliam aliados dele. Ao comitê da Câmara dos EUA que investiga o ataque ao Capitólio, Hutchinson detalhou ações agressivas do então presidente que podem jogá-lo no xilindró num país em que rico e poderoso vai em cana de verdade, sobretudo se ameaçar o establishment.
Segundo reportagem da revista Veja, “Hutchinson contou que Trump foi informado de que havia gente armada a caminho do comício que deu início à insurreição e não ligou a mínima — pelo contrário, queria porque queria que se removessem os detectores de metais”
A ex-assessora entrou na sala de almoço da Casa Branca, no dia da tentiva de goolpe, e viu a parede suja de ketchup — Trump havia jogado o prato, furioso, ao saber que seu ministro da Justiça, William Barr, declarara à imprensa não ter havido fraude na votação. Dentro do carro presidencial que levava Trump à Casa Branca, ele tentou tomar o volante e desviar para o Capitólio, gritando “Eu sou a p* do presidente”.
O depoimento foi considerado altamente incriminatório e todos apostam que fará o Departamento de Justiça dos EUA abrir inquérito contra Donald Trump.
Já no Brasil, o filho 01 de Bolsonaro deu a senha do que o pai e sua turba de fanáticos farão no dia da eleição e/ou nos dias seguintes. Em entrevista ao Estadão, disse que o papai não terá como controlar uma eventual reação violenta de apoiadores que contestem o resultado das urnas.
Flávio não quis confirmar se Bolsonaro reconheceria uma derrota…
No final da tarde desta sexta-feira, autoridades em Brasília que estiveram em encontros privados com Bolsonaro manifestaram preocupação com o discurso belicoso do presidente, que afirma que vai provocar uma “crise institucional” se perder a eleição.
Seus milicianos estão a postos para barbarizarem, mas deveriam olhar ao Norte. Bem mais ao Norte. Talvez entendam que a terceira opção, a de fugir, os atenderá bem melhor. Caberá às autoridades não permitirem que isso aconteça.