Convenção de Bolsonaro exalta Deus e armas

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Foto: Divulgação/PL

“Deus ama essa Nação. Nós aprendemos a interceder por ela. Nós aprendemos a amar o nosso Brasil. (…) uma terra santa, uma terra escolhida por Deus. Deus tem promessas para o Brasil e todas irão se cumprir. (…) O Brasil é do Senhor.(…) Nós declaramos que o Brasil é do Senhor”.

Essas palavras e muitas outras neste mesmo tom de pregação religiosa não foram ditas no púlpito de um templo evangélico. Mas numa convenção política. Era um dos dois principais discursos de do dia.

Michelle Bolsonaro falou por 15 minutos no evento que sagrou o marido oficialmente candidato à reeleição pelo PL. Citou “Deus” dezenas de vezes. Mostrou inegável domínio de palco e desenvoltura em sua retórica messiânica.

Mas mostrou também que o bolsonarismo não medirá esforços em tratar a eleição como o embate entre o “bem” e o “mal”. Como se o debate que importa não fosse a respeito de políticas públicas, economia, desigualdade, pobreza, saúde, educação, segurança — mas fosse sobretudo uma cruzada religiosa.

Quando Bolsonaro tomou posse, Michelle roubou a cena ao discursar em libras no parlatório. Antevia-se ali uma primeira-dama que usaria sua presença para auxiliar na formação da imagem do marido. Os assessores do presidente na ocasião se entusiasmaram com a possibilidade. Seria uma espécie de “Evita” de Bolsonaro. O presidente, no entanto, vetou. Oficialmente, disse que não queria sua mulher exposta, pois não estaria preparada para o jogo bruto da política.

E assim foi feito até este ano. Em maio, no Dia das Mães, Michelle apareceu numa cadeia de rádio e TV para destacar as ações do governo. Agora, novamente a pregadora Michelle está de volta à cena. E não deve parar por aí.

É uma tragédia para o Brasil que a religião tenha se imiscuído desta forma no debate político. Mas o fato é que política e religião estão mais imbricados do que nunca no Brasil de 2022. E não será simples sair dessa armadilha.

Aos leitores que ainda possam estar confusos, uma pista: nesta luta entre o “bem” e o “mal”, Michelle e Jair garantem aos fieis que estão postados ao lado do “bem”. E, apesar de tudo o que já foi feito desde 1° de janeiro de 2019, cerca de um terço do eleitorado crê nisso.

O Globo