Bolsonaro critica PT em almoço com banqueiros

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O presidente Jair Bolsonaro pediu a banqueiros que eles reduzam “o máximo possível” os juros cobrados em empréstimos consignados para beneficiários do programa Benefício de Prestação Continuada (BPC). O “apelo”, nas palavras do presidente, foi feito durante almoço com representantes de instituições financeiras, promovido pela Febraban e pela Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF) na tarde desta segunda-feira (08), em São Paulo.

O presidente comparou o pedido a outro de teor semelhante feito, em junho, para que representantes do setor supermercadista reduzissem a margem de lucros sobre produtos da cesta básica. “Nós já tínhamos zerado todos os impostos federais da cesta básica. Como faço apelo também para vocês agora. Vai entrar o pessoal do BPC no crédito consignado. Isso é garantia, desconto em folha”, afirmou o presidente.

Na semana passada foi sancionada a lei que autoriza a concessão de crédito consignado também a beneficiários do Auxílio Brasil e Renda Mensal Vitalícia (RMV). “Se vocês puderem reduzir o máximo possível, porque ainda estamos atravessando (…) estamos no final da turbulência. Para que todos nós possamos mostrar que cada vez mais o Brasil não é mais um país do futuro, é do presente”, disse Bolsonaro a representantes de instituições financeiras.

Entre as presenças confirmadas no almoço estão ao menos 33 representantes de instituições financeiras como Octavio de Lazari (Banco Bradesco), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) Milton Maluhy (Itaú Unibanco), a presidente da Caixa, Daniela Marques, Mário Leão (Santader), Silvio de Carvalho (Safra), Marcelo Marangon (Citibank), José Berenguer (XP), Fausto Ribeiro (Banco do Brasil), Daniel Darahen (J.P.Morgan) e Roberto Salouti (BTG Pactual). O evento foi fechado à imprensa, mas o discurso foi transmitido ao vivo em um perfil do presidente nas redes sociais.

O presidente estava acompanhado dos ministros Paulo Guedes (Economia), Ciro Nogueira (Casa Civil) e Anderson Torres (Justiça). Estavam presentes também o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o candidato ao governo paulista e ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), o ex-ministro e candidato ao Senado Marcos Pontes (PL) e o ex-ministro e candidato a deputado federal Ricardo Salles (PL). Em seu discurso, o presidente voltou a defender o posicionamento do governo federal na pandemia, contra medidas de restrição – adotadas para conter a transmissão da covid-19.

Bolsonaro enfatizou a criação do auxílio emergencial, promulgado no valor de R$ 600 à época por iniciativa do Congresso, além de outras medidas de socorro a micro e pequenas empresas. Aos convidados, o presidente fez um retrospecto dos anos iniciais do seu governo e repetiu que foi acertado o posicionamento do país na guerra da Rússia contra a Ucrânia, ao adotar neutralidade. Sobre o aumento da inflação e das altas dos preços de combustíveis, Bolsonaro disse que não iria dar “canetada” na Petrobras.

Ataque ao STF Candidato à reeleição, Bolsonaro também atacou o PT e governos de esquerda da América Latina ao participar de almoço. Criticou ainda o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presidenciável do PT, o chamou de “canalha” e afirmou que o PT está envolvido em corrupção. Em um discurso inflamado, o presidente voltou a reclamar do Supremo Tribunal Federal (STF), do voto eletrônico no Brasil e da carta em defesa à democracia, apoiada por milhares de pessoas, entidades, organizações da sociedade civil, empresas e bancos. Sem fazer um ataque direto às urnas ou a sugerir que não aceitará o resultado, como já fez em outras ocasiões, Bolsonaro disse lutar por “transparência” e que é legítima a participação das Forças Armadas. “Se as Forças Armadas foram convidadas a participar da comissão de transparência eleitoral e apresentaram sugestões, deixe as equipes técnicas discutirem. Quem sabe as forças Armadas estejam equivocadas? Mas não impedir essa aproximação e essa conversa”, afirmou.

O presidente se disse como democrata e minimizou o papel de manifestos em defesa pela democracia, como o assinado pela Febraban e Fiesp. Bolsonaro chamou os manifestos de “cartinha” e disse que essas ações, na verdade, são uma defesa da candidatura do seu adversário nas urnas, o ex-presidente Lula. O candidato à reeleição disse ainda que o eventual retorno do PT ao poder vai prejudicar o país e criticou a ascensão de governos progressistas na América Latina. “Daqui a pouco estaremos no trenzinho Cuba, Venezuela, Argentina, Chile”, disse.

O presidente novamente atacou o STF e insinuou que a Corte tem “ditadores”, em críticas a ministros. “Onde está a ditadura? Está no Executivo ou em outros Poderes?”, questionou depois de reclamar do Supremo. Bolsonaro criticou ainda o inquérito das fake news, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes. “Não quero briga com Poderes, mas não vou brigar com minha consciência.”

Em outro momento do discurso, voltou a criticar o sistema eleitoral e disse que as Forças Armadas devem acompanhar de perto a apuração dos votos. O encontro se dá depois de críticas do presidente aos signatários de manifestos em defesa da democracia e do sistema eleitoral brasileiro. A Febraban apoia o manifesto pró-democracia liderado pela Fiesp. Bolsonaro havia marcado uma sabatina na Fiesp na quinta-feira, dia 11, mas desistiu com receio de um desgaste político.

No dia 11 haverá atos em defesa da democracia em São Paulo, capitaneados pela Faculdade de Direito da USP, por movimentos populares e entidades.

Valor Econômica