Nunca houve tantos candidatos indígenas

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Foto: Ana Branco/Agência O Globo

Nesta eleição foram registradas 175 candidaturas indígenas. É um número recorde e representa um aumento de 37% em relação à eleição de 2018 e o dobro de 2014. As candidaturas, contudo, partem da autodeclaração de quem se diz indígena. A maioria tenta um cargo político por partidos de esquerda, 60% tenta ser deputado estadual e a maioria é do Norte, região que concentra o maior número de etnias no País, mas com poucas vagas no Congresso.

Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral há 105 candidatos indígenas a deputado estadual e 55 a deputado federal. São quatro que buscam ser vice-governadores, três para senadores, dois, governador, e uma concorre à vice-presidência. Trata-se de Raquel Tremembé (ou Kunã Yporã), da etnia Tremembé, do Maranhão, na chapa da pernambucana Vera Lúcia, candidata à presidência pelo PSTU.

Em 2018 foi Sônia Guajajara quem concorreu à vice-presidência pelo Psol na chapa de Guilherme Boulos. Agora, Sônia, uma das principais lideranças indígenas do país, tenta a vaga de deputada federal por São Paulo também pelo Psol. Tem chances. São Paulo tem 94 vagas para deputados estaduais e 70 para federais. Além disso, há na Federação Rede-Psol nomes considerados “puxadores de votos” como a ex-ministra Marina Silva, em campanha para deputada federal, e que podem garantir posições para outros candidatos.

“Ter tantas candidaturas indígenas é um sinal muito positivo, um avanço do interesse indígena em ocupar mais espaços de decisão”, avalia Kleber Karipuna, do Amapá, e um dos coordenadores-executivos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), rede criada em 2005 com representação em todos os Estados. “A questão é o quanto destas candidaturas está alinhada com o movimento indígena e tem algum vínculo com o povo de origem e suas tradições”, continua.

É o caso do vice-presidente da República Hamilton Mourão, que em 2018, na chapa de Jair Bolsonaro, declarou-se indígena mas agora registrou candidatura ao Senado pelo Rio Grande do Sul (Republicanos) declarando-se branco. O general disse nas redes sociais que foi um erro de preenchimento.

“Existe uma certa mistura nestas candidaturas, fundamentada na autoidentificação dos deputados. São pessoas que se colocam como indígenas por conta de uma ascendência, mas que não são ligadas ao movimento indígena, não moram e nunca moraram em aldeias”, diz Marcio Santilli, sócio fundador do Instituto Socioambiental (ISA) e ex-presidente da Funai.

A Apib apoiará 20 a 25 candidaturas no país com ajuda na articulação política, jurídica e na comunicação. “Estamos trabalhando com candidaturas de partidos progressistas que atuam na defesa da pauta indígena, climática e ambiental e que irão defender esta agenda no Congresso Nacional”, diz Kleber Karipuna.

Uma das lideranças mais fortes é a advogada Joênia Wapichana, atualmente a única representante indígena no Congresso e que tenta a reeleição pela Rede. Joênia recebeu 8.491 votos em 2018. Em Roraima, contudo, há outra candidata à disputa no Congresso, Telma Taurepang que pode dividir os votos indígenas no Estado e atrapalhar a reeleição de Joênia.

“Joênia foi eleita majoritariamente por indígenas. Mas há situações híbridas, de quem espera ter representação indígena, mas sabe que precisa de votos urbanos, de jovens e simpatizantes da pauta, como é o caso de Soninha Guajajara”, diz Santilli.

Na eleição deste ano disputam lideranças femininas como Celia Xakriabá, mestre em desenvolvimento sustentável e doutoranda em antropologia pela UFMG, candidata a deputada federal pelo Psol-MG. Outra que busca um lugar no Congresso é a guarani Kerexu Yxapyry (Psol-SC).

Junior Manchineri, o mais jovem candidato indígena tem 21 anos, concorre a uma vaga pela Assembleia Legislativa no Acre pelo PT e uma de suas principais pautas é o combate à fome.

Outras candidaturas fortes são apoiadas pelo Parlamento Indígena do Brasil, o ParlaÍndio. O escritor Daniel Munduruku, autor de 56 livros, é candidato a deputado federal pelo PDT-SP. Almir Suruí, do povo Paiter Suruí, de Rondônia, também é candidato a deputado federal pelo PDT-RO. O líder ashaninka Francisco Piyãko busca uma vaga no Congresso pelo PSD-AC.

Valor Econômico