PT e PSDB se aliam em 4 estados

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Acostumados a polarizar as eleições nacionais até a onda bolsonarista de 2018, PT e PSDB vivem nesta campanha uma rara união nos Estados. Depois de 24 anos, os partidos voltaram a compor alianças nas eleições para governador. Elas se dão no Rio, Pará, Maranhão e Espírito Santo. Com exceção de Helder Barbalho (MDB) governador paraense que concorre à reeleição, o cabeça de chapa em todos os casos é do PSB, legenda à qual o ex-tucano Geraldo Alckmin se filiou para ser vice do petista Luiz Inácio Lula da Silva no pleito presidencial. A nova casa de Alckmin virou uma espécie de ponto de convergência das duas siglas.

Até o registro das candidaturas deste ano, a última consolidação de alianças estaduais com as duas siglas havia sido em 1998, quando integraram chapas em parceria no Acre e em Alagoas. Desde então, a polarização nacional se intensificou e tornou inviável até que interesses regionais impulsionassem alianças. Agora, o PSDB não tem candidato à Presidência pela primeira vez desde a fundação, em 1988, o que acaba dando maior liberdade aos Estados. E o surgimento do bolsonarismo é apontado como o principal motivo para a reaproximação dos dois partidos.

Além de ser encabeçada por um quadro do MDB, a aliança com Helder Barbalho também foge da curva por ter um vice do mesmo partido, em vez de petista ou tucano. Apesar de não terem protagonismo na chapa, PT e PSDB apoiam os emedebistas. No Rio, terceiro maior colégio eleitoral do país, o candidato do PSB e aliado de Lula, Marcelo Freixo, tem de vice o ex-prefeito carioca Cesar Maia, que se filiou ao PSDB em março junto com o filho, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, hoje comandante do partido no Estado. Cesar representa no âmbito eleitoral o auge do movimento de inflexão de Freixo ao centro, observado nas esferas política, econômica e de costumes.

“Essa decisão teve como referência a polarização nacional e a necessidade de garantirmos no Rio um voto majoritário de oposição”, diz Cesar Maia. Forjado na esquerda na resistência à ditadura, o ex-prefeito começou a vida político-eleitoral no PDT de Leonel Brizola, mas rompeu com o ex-governador em 1991 e desde então integra siglas de centro ou centro-direita.

O caso do Maranhão é peculiar. Apesar de o PSDB estar na chapa encabeçada pelo PSB e que tem o PT de vice, o atual governador e candidato à reeleição, Carlos Brandão, precisou migrar da sigla tucana para a de centro-esquerda a fim de facilitar a aliança. Ele assumiu o comando do Estado depois de Flávio Dino, aliado de Lula, renunciar ao cargo para concorrer ao Senado – também pelo PSB, ao qual se filiou após deixar o PCdoB.

Assim como no Rio, o PSDB ocupa a vice do PSB no Espírito Santo, onde o governador Renato Casagrande é favorito à reeleição e tem ao seu lado Ricardo Ferraço. Nas quatro composições estaduais, portanto, os tucanos ocupam mais postos nas chapas para governador: dois, contra um do PT.

A fim de tecer o discurso que prega “união dos convergentes para enfrentar os antagônicos”, frase de Paulo Freire citada por Lula na entrevista ao Jornal Nacional, o PT avalia que o momento do país é o de defesa da democracia, o que atraiu siglas como o PSDB. “Isso mostra que a política tem que ser feita não com ódio, não tratando o outro como inimigo. Estamos mostrando que é possível conversar com adversários que tivemos historicamente no Brasil, em razão de um projeto maior que é a democracia brasileira”, afirma a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

No plano nacional, o PT tenta construir pontes com tucanos históricos. O primeiro de peso a declarar voto em Lula foi o ex-ministro Aloysio Nunes. Há tempos também se costura aproximação entre o petista e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Há a expectativa de novo encontro entre os dois. Em 2021, se reuniram e posaram para foto. FHC ainda não declarou voto desde que o tucano João Doria deixou a disputa. Ao recordar a relação com Lula e o PT no livro de memórias “Um intelectual na política”, lançado no ano passado, FHC expôs mágoa com a postura do adversário desde que o ex-sindicalista assumiu a Presidência. “Lula e o PT cometeram o erro estratégico de considerar o PSDB como seu principal inimigo. Não éramos, nunca fomos. A principal ameaça à democracia era e é a extrema direita autoritária e regressiva”, escreveu.

Na avaliação do cientista político José Álvaro Moisés, da USP, a partir de uma nova lógica de polarização, do PT com a extrema direita, as duas siglas voltam a se considerar mais próximas. Sem candidatura própria do PSDB à Presidência, fica mais fácil haver alianças regionais.”

O Globo