Tempo passa e Lula mantém liderança

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Foto: Miguel Schincariol/AFP – 20/8/22/ – Douglas Magno/AFP – 24/8/22

A pouco mais de um mês do primeiro turno das eleições, as equipes de campanha se debruçam sobre números e recortes das pesquisas eleitorais e projetam estratégias para esta reta final de campanha. Mas os últimos levantamentos de intenção de voto não ajudam a sustentar previsões de mudanças significativas nas preferências do eleitorado nas próximas quatro semanas. A última pesquisa MDA/CNT, divulgada ontem (leia abaixo), repete o cenário relativamente estável para os candidatos mais competitivos: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera com 42,3%, e Jair Bolsonaro, com 34,1%. Ciro Gomes (PDT-CE) se mantém em terceiro, com 7,3%, seguido por Simone Tebet (MDB-MS), com 2,1%.

Na comparação com a pesquisa MDA/CNT feita no início de maio, Lula cresceu 1 ponto percentual, enquanto Bolsonaro subiu 2 pontos, quando ainda estavam na disputa João Doria, Sérgio Moro e André Janones, já fora da corrida presidencial. Para avaliar o comportamento do eleitorado com base em um período mais longo, a reportagem buscou os resultados de duas das principais pesquisas de intenção de votos DataFolha e Ipesp – feitas em setembro de 2021 e em março deste ano, para ter uma ideia das mudanças em dois períodos de um semestre.

Doze meses atrás, Lula tinha 44% de intenção de votos no DataFolha e 43% no Ipespe. Bolsonaro, em segundo, registrou 26% e 28%, respectivamente. Seis meses depois, Lula seguia na liderança, com 43% nos dois institutos. O presidente registrou, na época, 26% e 28%, respectivamente. Nas últimas pesquisas disponíveis, feitas em agosto, Lula lidera com 47%, contra 32% de Bolsonaro, pelo DataFolha; e por 44% a 35% no Ipespe.

“Há meses que eu chamo esta eleição de entediante”, disse o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro “A mão e a luva, o que elege um presidente”, lançado neste ano. Ele lembra que Lula cresceu “abruptamente” entre março e junho do ano passado, quando teve suas condenações pela Lava-Jato anuladas.

A partir de então, se mantém estável na liderança da corrida presidencial. Bolsonaro, por sua vez, depois de ver o adversário descolar quem está atrás, luta para levar o pleito ao segundo turno, enquanto a equipe do líder joga para não errar e decidir tudo em 2 de outubro.

Por enquanto, os números que as pesquisas mostram não avalizam projeções confiáveis. “Mas tudo muito lento, dentro da margem de erro, de uma forma muito suave, sem emoção”, avalia Almeida.

Nos bastidores das campanhas, o próprio candidato Lula costuma repetir, em seus encontros, que “a eleição não está ganha”. O aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, a queda no preço dos combustíveis via redução de impostos e a criação de benefícios para caminhoneiros e taxistas ainda não surtiram o efeito desejado pelos aliados do governo, mas ainda podem contribuir para uma virada de expectativas.

“A avaliação do governo federal é decisiva. Se melhora, Bolsonaro cresce. Se piora, Lula aumenta sua quantidade de votos. Bolsonaro está fazendo o que pode para melhorar essa avaliação, abriu um rombo fiscal enorme (para bancar o pacote de bondades para o eleitor) e, agora, tem que aguardar a economia reagir. Não há muito mais a ser feito”, disse Alberto Carlos Almeida.

Em março, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), fez uma previsão de que Bolsonaro, embalado pelas medidas econômicas, empataria com Lula nas pesquisas antes mesmo das convenções partidárias, no fim de julho. Não aconteceu.

Em entrevista no início deste mês, o ministro recalibrou a expectativa. “Tenho certeza de que Bolsonaro chega ao primeiro turno na frente. Com 15 dias de programa eleitoral, a eleição estará empatada”, vaticinou.

A esperança de que as próximas pesquisas captem alguma alteração no humor do eleitorado aumenta a expectativa em relação a elas. Amanhã, está prevista a divulgação da segunda pesquisa DataFolha de agosto, que pode refletir alguma influência dos eventos eleitorais dos últimos dias, como as entrevistas dos candidatos ao “Jornal Nacional”, na semana passada, o debate da Band, no domingo, e o início da propaganda obrigatória no rádio e na TV.

Até os candidatos considerados “azarões” esperam conquistar alguns pontinhos com o eleitorado, aproveitando a superexposição que tiveram. Essa é a aposta da senadora Soraya Thronicke (MS), que disputa a Presidência em chapa puro-sange do União Brasil e espera capitalizar a boa participação que teve no debate da Band (ela não foi convidada para as entrevistas no “Jornal Nacional).”

“Na campanha de 2018 (ao Senado), só fui aparecer nas pesquisas na última semana, em quinto lugar. No domingo, eu estava eleita. As pesquisas estão erradas? Não sei te dizer, acredito que não. A pesquisa é uma foto do dia, a gente tem que prestar atenção no filme”, disse a candidata.

Simone Tebet (MDB-MS), mais conhecida e mais bem pontuada que sua colega de Senado, também espera converter em votos os elogios que vem recebendo pela participação no debate. Como meta, a equipe de campanha mira o terceiro lugar, ocupado desde o início da corrida sucessória por Ciro Gomes (PDT-CE), para se consolidar como a candidata mais viável para furar a polarização Lula-Bolsonaro.

“De fato, nós teremos segundo turno. Não há como não ter”, prevê a candidata. “Não estou medindo muito se vai ser agora ou daqui a uma semana. A gente tem a perspectiva, sim, de, chegando no terceiro lugar, em uma semana dobrarmos essa pontuação. A gente passa a ser o voto útil. Se isso vai acontecer em 10, 15 dias, a gente não sabe”, comentou.

Estado de Minas