90% não debitam crise à pandemia
Foto: Fabiano Rocha
Embora sejam evidentes os efeitos da pandemia na economia mundial, só 10% dos brasileiros, no entanto, consideram a crise sanitária a maior responsável pela situação de pobreza e fome no país, de acordo com a pesquisa Ipec/O GLOBO sobre os principais problemas nacionais da atualidade.
Nesse quesito, a Covid-19 é apenas a terceira resposta mais citada. A culpa pelas dificuldades impostas à sobrevivência de milhões de pessoas é mais atribuída ao governo federal (citado por 34% dos entrevistados) e aos governos passados/antigos presidentes (29%). Isso num cenário em que, de acordo com levantamento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a falta crônica de alimentos atingiu 4,1% da população do Brasil no período entre 2019 e 2021, o equivalente a 8,6 milhões de habitantes, pondo o país de volta ao Mapa da Fome da ONU.
“A pandemia de Covid-19 destacou ainda mais as fragilidades dos nossos sistemas agroalimentares e as desigualdades em nossas sociedades, levando ao aumento da fome no mundo e à insegurança alimentar severa”, indica o documento da FAO.
Apesar disso, no Brasil, em diferentes recortes sociais da pesquisa Ipec/O GLOBO, muda pouco o percentual daqueles que afirmam que a pandemia é o maior responsável pela pobreza. Uma das poucas variações se dá por idade: quanto mais velha a pessoa, mais ela culpa a crise sanitária. Foi a opção escolhida por 13% dos quem têm 60 anos ou mais, contra 7% dos mais jovens, com 16 a 24 anos. Já por religião, apareceu nas conclusões de 13% dos evangélicos, frente a 9% dos católicos e também dos que confessam outras fés.
São percentuais parecidos com os que culpam, sob outra perspectiva, a própria população, apontada por 9% dos entrevistados. Ela é mais imputada pela pobreza, inclusive, em três grupos da sociedade: aqueles que vivem no interior (10%, contra 9% dos que culpam a Covid-19); os que têm 16 a 24 anos (9%, contra 7% dos que apontam a emergência sanitária); e os com 25 a 34 anos (10%, frente aos 9% que elegem a pandemia).
Os temas que mais povoam as angústias da população brasileira foram identificados na primeira etapa da pesquisa Ipec/OGLOBO, em entrevistas presenciais de 1º a 5 de julho deste ano, quando 2 mil pessoas foram ouvidas. Numa segunda fase, realizada de 20 a 27 de julho, foram mais 2 mil entrevistas pela internet, com brasileiros das classes A, B e C, nas quais se perguntou, por exemplo, o que o governo deve fazer para contornar questões como a pobreza.