Alckmin percorre interior de SP pedindo votos para Lula

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Foto: Reprodução

Candidato a vice na chapa do ex-presidente Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) tem concentrado seus esforços para conquistar o apoio de prefeitos do interior de São Paulo, sobretudo de partidos de centro-direita, como PSDB e PSD. Governador do estado quatro vezes, ele está empregando seu capital político para tentar evitar que a rejeição a Lula cresça e, paralelamente, o petista ganhe terreno no maior colégio eleitoral do país.

Historicamente, o interior paulista apresenta forte rejeição ao PT. Em 2018, o então candidato ao Palácio do Planalto da sigla, Fernando Haddad, perdeu em São Paulo para Jair Bolsonaro por 8 milhões de votos.

Como fundador do PSDB, legenda da qual se desfiliou no final do ano passado, Alckmin mira em prefeitos que, via de regra, estariam com Bolsonaro. Nessas conversas, ele põe à mesa seu passado tucano e argumenta com os interlocutores que, se o petista vencer a eleição, eles terão em Alckmin um canal de acesso permanente ao governo federal. Até agora, ele se reuniu com aproximadamente 40 chefes de Executivo municipais. Só na quarta-feira da semana passada, recebeu 11 deles na capital paulista.

Alckmin havia sido escalado para uma missão semelhante junto a representantes do agronegócio, segmento em que Bolsonaro conta com amplo apoio. A pessoas próximas, porém, o candidato a vice já admite que deverá faltar tempo para cumprir tais agendas nos estados do Sul e Centro-Oeste.

Estrategistas da campanha petista entendem que priorizar São Paulo pode render mais dividendos eleitorais a Lula. Além disso, apostam, a estratégia tende a trazer reflexos positivos para a disputa ao Palácio dos Bandeirantes, pois a articulação foca em políticos da base de apoio do atual governador e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), e do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), os dois principais adversários de Haddad na disputa estadual.

Durante essas conversas, Alckmin lança mão do mesmo roteiro: oferece café, paçoquinha e repete que Lula fará um governo de pacificação e conciliação nacional, com previsibilidade econômica e resgate dos princípios democráticos. Defende as reformas tributária e do pacto federativo. Quanto à economia — tema que ele e Lula apresentavam inúmeras divergências quando Alckmin estava no PSDB — o ex-governador faz um discurso genérico e fala em diminuir o custo Brasil, incentivar investimentos da iniciativa privada e aumentar a competitividade com investimentos em infraestrutura.

O ex-governador tem recebido os prefeitos no QG da campanha presidencial ou no escritório do correligionário e candidato ao Senado Márcio França (PSB-SP), nos Jardins, onde ele mantém uma sala simples, com mesa, duas cadeiras e uma poltrona. Os atendimentos começam normalmente às 8h e se estendem até a noite. O vice de Lula reserva em média 30 minutos para cada prefeito e tem dedicado cerca de 10 horas por dia a essas articulações.

O modus operandi à base de cafezinho e conversas com prefeitos foi usado por Alckmin para pavimentar todas as suas candidaturas ao governo do estado. Elas têm sido a prioridade do postulante a vice quando não é convocado a acompanhar Lula em agendas de campanha ou escalado para representar o presidenciável em reuniões com entidades empresariais, sobretudo ligadas à área da saúde, visto que Alckmin é médico de formação.

O movimento de Alckmin tem gerado impressões diferentes em seus interlocutores. Aqueles que consideraram um erro a aproximação entre Alckmin e Lula, antigos adversários, costumam sair das reuniões menos entusiasmados com o que ouvem. Os mais pragmáticos, por outro lado, enxergam o candidato a vice como um aliado importante em caso de vitória de Lula.

Prefeito de Cruzeiro, cidade de 82 mil habitantes do Vale do Paraíba, Thales Gabriel Fonseca (PSD) foi recebido por Alckmin há aproximadamente uma semana. De acordo com Fonseca, eles trataram sobre temas ligados à região, e o companheiro de chapa de Lula lhe pediu apoio. O prefeito diz ter saído com boa impressão, mas resiste a revelar se vai ou não atender ao apelo do ex-governador.

— Geraldo é muito respeitado, tem perfil de gestão que a gente reconhece. E as perspectivas, caso ele vença a eleição, são positiva. Acreditamos que ele terá um olhar para o Vale do Paraíba para nos ajudar nas políticas públicas importantes — afirmou Fonseca, em tom protocolar.

O Globo