Depoimento “importante” de Ciro não passa de vento

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Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

No pronunciamento à nação que marcou para logo mais às 10h, Ciro Gomes, candidato do PDT à presidência da República, que ao invés de crescer nas pesquisas de intenção de voto diminuiu na semana passada, dirá… (tan, tan, tããn, tããããããn).

Não dirá que renuncia à sua candidatura para apoiar Lula. Nem que renunciará para apoiar Bolsonaro. Tampouco revelará qual será seu destino depois de perder a quarta eleição presidencial de sua vida. Renovará o apelo patético para disputar o segundo turno.

Está no seu direito fazê-lo, e o penúltimo momento é este; o último, quando falará para uma audiência maior, na quinta-feira, durante o último debate dos candidatos na TV Globo. Ciro quer convencer os brasileiros de que o voto útil deve ser a seu favor.

O que mais o assombra: virar pó no domingo (2/10) depois do encerramento da votação. Em 2014, Marina Silva, que chegou a liderar as pesquisas, ficou em terceiro lugar com 21% dos votos. Quatro anos mais tarde, ela teve apenas 1%.

Ciro nunca conseguiu ir para o segundo turno. Seu melhor desempenho foi em 2018 ao ficar em terceiro lugar com 12,47% dos votos válidos. Lula, à época, estava preso. E Fernando Haddad (PT) só foi lançado candidato a 30 dias das eleições.

Nos últimos quatro anos, Ciro preparou-se para ser o candidato anti-Bolsonaro porque apostou, e estava certo, de que seu governo seria um desastre. Calculou que poderia contar com votos à esquerda, de vez que Lula, mesmo solto, seria um ficha suja.

Mas Lula, além de solto, teve suas condenações anuladas pela justiça que declarou Sérgio Moro parcial. Todos os seus processos prescreveram ou foram arquivados por falta de provas. Então, Lula convenceu-se de que deveria ser candidato, e Ciro empacou.

Sem inteligência emocional para aguentar o tranco, ele achou que se batesse em Lula e em Bolsonaro teria futuro como candidato da terceira via. O rancor empurrou-o mais para a direita do que para a esquerda. Acabou rejeitado pelos dois lados.

Qual será seu destino se ficar de fora de um eventual segundo turno? Voltar a Sobral, cidade a 232 quilômetros de Fortaleza, reduto eleitoral de sua família. Foi dali que ele partiu para ser prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro de Estado.

Recorte da mais recente pesquisa do Ipec, ex-Ibope, divulgada no último sábado à noite, mostra que no estado onde se criou politicamente, Ciro está com 10% das intenções de voto, atrás de Bolsonaro com 18% e de Lula com 63%.

Na pesquisa anterior do Ipec de 10 de setembro, Ciro tinha 14%, Bolsonaro, 19% e Lula 57%. O voto útil no Ceará em favor de Lula ameaça transformar Ciro em um fantasma. Seu candidato ao governo está atrás dos candidatos de Lula e de Bolsonaro.

Oficialmente, o PDT ainda o apoia. Mas uma fatia grande do partido já o abandonou, e a direção nacional está em pânico porque o PDT corre o risco de ser rebaixado à categoria das siglas insignificantes, com uma pequena bancada de deputados federais.

Se quiser recomeçar, for capaz de recomeçar e admitir os muitos erros que cometeu, Ciro será bem acolhido em Sobral. Voar para Paris poderia ser mais agradável, mas no mínimo seria também falta de imaginação.

Metrópoles