Eleição está cheia de candidatos armamentistas

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Foto: PR

Pelo menos 92 candidatos que disputam a eleição deste domingo defendem a política armamentista da população civil. O levantamento foi feito pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) com base em informações do movimento Proarmas e de registros de candidaturas no TSE que fazem menção direta à defesa das armas por meio do nome que aparece na urna no momento da votação. Deste total, apenas 25 têm a identificação dos termos referentes a militares ou integrante das Forças Armadas no nome de urna e cinco não possuem nome de urna relacionado, mas declararam ocupação relacionada. Ou seja, em todo o Brasil, existem ao menos 62 candidatos ligados ao movimento que não expressam diretamente a ligação com as pautas armamentistas.

Entre os candidatos, dez disputam o cargo de governador e 13 buscam vaga no Senado. Outros 35 concorrem a deputado federal e 34 a deputado estadual e distrital. Além dos aliados diretamente ao Proarmas, eles são parte de grupos como militares, profissionais das forças de segurança, colecionadores de armas, atiradores profissionais e caçadores (CACs).

Segundo o levantamento, a maioria dos candidatos — 90% — é formada por homens. Os homens brancos representam 63,04% dos candidatos e declararam valor dos bens, em média, de R$ 2,633 milhões. Os homens pardos vêm em seguida, com média de valor dos bens de R$ 967 mil, ou seja, menos da metade da média de homens brancos. Quatro homens se declararam negros e um amarelo. Apenas nove são mulheres — oito brancas e uma parda.

O Inesc alerta que o perfil dos candidatos é de elite e que é preciso que as pessoas atentem à pauta que eles estão defendendo, já que a maioria não deixa explícita na candidatura o apoio à política armamentista.

— O grupo se destaca nas candidaturas deste ano e é preciso o cuidado de observar a proposta política. Ou seja, que modelo de segurança pública eles estão defendendo — afirma Carmela Zigoni, assessora política do instituto.

O Proarmas é liderado pelo advogado Marcos Pollon, 41 anos, candidato a deputado federal no Mato Grosso do Sul pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, do qual é aliado.

O GLOBO mostrou em reportagem que o advogado se destacou a partir de maio de 2020, quando foi ao cercadinho do Palácio da Alvorada pedir mudança nas regras para porte de arma e se tornou próximo ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente. Em 2021, Pollon criou a Associação Nacional Movimento Proarmas (Ampa) e seu objetivo é tornar a entidade como a Associação Nacional do Rifle (NRA), entidade de lobby armamentista dos Estados Unidos. Procurado pelo GLOBO, Pollon não retornou ao pedido de entrevista.

Entre os candidatos a governador está o senador Jorginho Mello, do PL de Santa Catarina. Em março passado, durante convenção que apresentou 50 pré-candidatos do Proarmas, Mello disse em vídeo gravado durante o encontro que Pollon despachava dentro de seu gabinete em Brasília. “Ele [Pollon] é senador, quando eu não estou no gabinete ele assume. Ele vai lá, ele faz emenda (…). Então não precisa dizer muito que somos parceiros, ele que manda em mim. E a pauta dele é a minha pauta”, afirmou.

Segundo o Ipec (ex-Ibope), Jorginho Mello e Carlos Moisés (Republicanos) lideravam a pesquisa para o governo de Santa Catarina divulgada no último dia 20, cada um com 20% das intenções de voto.

Outros dois candidatos de destaque do grupo são o ex-ministro Tarcísio de Freitas, que disputa o governo de São Paulo pelo Republicanos e está em segundo lugar na pesquisa Ipec; e Onix Lorenzoni (PL-RS), que concorre ao governo do Rio Grande do Sul e também aparece em segundo lugar na pesquisa, com 25% das intenções de voto, atrás de Eduardo Leite (PSDB), que tem 38%.

Na lista dos candidatos ao Senado está o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS), o astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e Magno Malta (PL-ES). Pelas pesquisas, a maior chance de ser eleito é de Magno Malta, que está em disputa acirrada com a candidata Rose Freitas (MDB) – ela tem 31%; ele, 27%.

O número pode ser bem maior, já que nomes notórios, como o deputado Eduardo Bolsonaro, que concorrem à reeleição, não fazem menção direta às armas em seus registros de candidatura e não estão listados no grupo Proarmas.

Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, afirma há um grande esforço de fortalecer o grupo armamentistas nas casas legislativas e no Executivo, cujo lobby foi impulsionado pelo presidente Jair Bolsonaro e seus filhos. Segundo ela, o grupo é minoritário e quer espaço para impor sua pauta. Carolina lembra que uma pesquisa do Datafolha, encomendada pelo Sou da Paz e pelo Instituto Igarapé, em junho passado, mostrou que 83% dos brasileiros defendem que só profissionais da segurança andem armados nas ruas.

— A arma de fogo ganhou outro significado, como instrumento de violência política. É mais um componente de risco para a sociedade e para a democracia — diz ela.

Ivan Marques, integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, alerta que há, na prática, uma intenção de confundir o que é a frente parlamentar de segurança pública com uma bancada armamentista. O Congresso Nacional tem hoje 188 deputados federais na Frente Parlamentar Armamentista e dois senadores — além de Jorginho Mello, integra a frente a candidata à presidência Soraya Thronicke (União Brasil).

— Tentam misturar a pauta de segurança pública com a ideia de armar a população brasileira — diz Marques.

Segundo ele, o grupo usa os problemas de segurança pública para vender a ideia de que a posse de arma pelo cidadão é um direito, uma liberdade, numa tática tem sido bem arquitetada e implementada.

— A confusão entre as duas pautas é planejada e proposital. A maior parte dos policiais é contra armar a população. Com mais armas nas ruas, o risco deles aumenta no trabalho. Ao mesmo tempo, o grupo oferece para o cidadão uma solução fácil e, para alguns, sedutora, porque empodera as pessoas individualmente — afirma.

Para Marques, o grupo deturpa a democracia e a liberdade individual. Na prática, uma das forças do jogo político estar armada ameaça o conjunto da população.

— No campo político é um desastre. A política é o campo da diferença de ideias. Se uma das partes está armada há assimetria enorme entre elas. Armar civis é um projeto de poder bastante claro, mas é de uma minoria — acrescenta, lembrando que mesmo com crescimento a partir de 2018, os CACs ainda são 700 mil, universo minúsculo numa população de 210 milhões de pessoas.

Saiba quem são os candidatos aos governos estaduais e ao Senado

Governo

Anderson Ferreira – PL/Pernambuco
Clorisa Linhares – PMB/Rio Grande do Norte
Coronel Diego Melo – PL/Piauí
Joao Roma – PL/Bahia
Jorginho Mello – PL/Santa Catarina
Lahesio Bonfim – PSC/Maranhão
Manato – PL/Espírito Santo
Marcos Rogerio – PL/Rondônia
Onyx Lorenzoni – PL/Rio Grande do Sul
Tarcísio de Freitas – Republicanos/São Paulo

Senado

Alan Rick – União/Acre
Antonio Galvan – PTB/Mato Grosso
Astronauta Marcos Pontes – PL/São Paulo
Daniel Silveira – PTB/Rio de Janeiro
Gilson Machado – PL/Pernambuco
Hamilton Mourao – Republicanos/Rio Grande do Sul
Jaime Bagattoli – PL/Rondônia
Jorge Seif – PL/Santa Catarina
Juiz Helder Girao – PMN/Roraima
Magno Malta – PL/Espírito Santo
Paulo Martins – PL/Paraná
Rogerio Marinho – PL/Rio Grande do Norte
Márcio Sabbá – PMB/Pará

O Globo