Essa é a eleição de nomes “calejados” na política
Foto: Minervino Junior/CB/D.A Press
Em sete dias, o Brasil conhecerá os deputados federais eleitos para os próximos quatro anos e um terço dos senadores escolhidos para representar seus estados nas próximas duas legislaturas. Além da tendência de que seja mantida a polarização representada pelos líderes das pesquisas de intenção de votos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), a expectativa é que das urnas não emerja um número expressivo de “outsiders” — aquele candidato que não tem passado na política parlamentar ou executiva e que entoa um discurso anti-sistema —, como aconteceu em 2018. Expectativas dos partidos e de especialistas apontam, ainda, para uma Câmara com maioria de deputados ligados ao Centrão, que atualmente, é aliado do presidente da República.
Pesquisas de intenção de voto de institutos e consultorias especializadas apontam que mais da metade dos deputados federais deve ser reeleita. Na avaliação do presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda, a natureza da eleição de 2022 é diferente da “eleição crítica” de 2018. Conforme observa, parte dos parlamentares eleitos na onda bolsonarista vai competir com seus próprios companheiros de base.
“Esses deputados e deputadas, senadores bolsonaristas, estão competindo agora com base no desempenho deles. Ao longo da caminhada, alguns entraram em conflito com o presidente ou com seus filhos. É o caso da Janaína Paschoal (deputada estadual em São Paulo e que busca uma vaga no Senado), de Alexandre Frota, de Joice Hasselmann (ambos tentam a reeleição à Câmara dos Deputados). Estou citando três super votados na eleição de 2018. Uma coisa que nós podemos apostar é que os bolsonaristas de 2018 não vão ter, agora, o grande desempenho que tiveram”, explica Lavareda.
O Centrão deve ser o bloco político mais beneficiado com a eleição das velhas caras. Ainda assim, Lavareda evita adiantar que o grupo parlamentar terá uma atuação semelhante à que tem hoje, com Bolsonaro no Palácio do Planalto. “Precisamos esperar ainda para ver como vai ser. Os detalhes vão fazer diferença. O Lula ganha ou não no primeiro turno? Tem ainda o número de governadores eleitos por partido e é preciso ver se isso muda, e quais partidos saem mais ou menos fortes”, observa.
Ainda que o bolsonarismo “raiz” tenha perdido força, os partidos hoje aliados do presidente devem, juntos, eleger uma boa quantidade de congressistas veteranos de outras eleições. Segundo a estimativa das próprias legendas, o cálculo de PL, PP e Republicanos é eleger um total de 197 parlamentares — sendo muitos marinheiros de várias viagens.
Se o União Brasil (fusão do PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu em 2018, com o DEM) for contabilizado como integrante do Centrão, a quantidade de deputados federais que integra a base do governo chega a 257. Na oposição de esquerda, PT e PSB somam 104 deputados.
Somando o PDT, que possui relação estremecida com os petistas por conta dos ataques que Ciro Gomes vem fazendo a Lula na corrida eleitoral, esse número chega a 141. O número ainda contará com os parlamentares eleitos pelo PV, PCdoB, PSol, Rede, Solidariedade, Avante, Agir e Pros, que têm, juntos, um total de 40 deputados.
Na avaliação de Publio Madruga, sócio da Distrito Relações Governamentais, a atual eleição não é para os “outsiders”. Com o fim das coligações, os partidos passaram a investir em nominatas mais fortes para puxar votos e tentar atingir a cláusula de barreira, que aumentou o sarrafo na eleição atual, em comparação com o pleito de 2018. Partidos como o PSDB, por exemplo, colocaram o ex-senador, ex-governador e ex-candidato à Presidência da República José Serra (SP) para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.
“Não é uma eleição de ‘outsider’. Você precisa de voto, precisa de dinheiro e o quociente eleitoral. O fundo eleitoral, que é de onde vem o dinheiro hoje, é entregue em maior volume para quem eleger mais deputados. Uma amostra disso é que, este ano, temos o maior número de tentativa de reeleição da história”, salienta.
Na avaliação do professor de Ciência Política Valdir Pucci, os eleitores que vão votar no próximo domingo trarão de volta políticos tarimbados para ocupar as cadeiras do Parlamento. Conforme observa, a chamada “nova política” — que emergiu dos protestos que desembocaram no impeachment da presidente Dilma Rousseff e tracionaram a campanha de Bolsonaro e seus apoiadores — não produziu os efeitos esperados e, em muitos casos, ainda trouxe decepções.
“A ‘nova política’ não produziu os frutos esperados pela população. Vejo que, em 2022, nós teremos uma Câmara mais conservadora, mas não no sentido ideológico. Conservadora no sentido de o eleitor resgatar a políticos mais tradicionais, mais tarimbados na arte da negociação e com os discursos mais tradicionais”, diz. Pucci explica, ainda, que os políticos eleitos em 2018 como “outsiders” que podem vir a ser reeleitos não podem mais ser classificados como “novatos” no Parlamento.