Governo antecipa “importação” de manifestantes

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Foto: Vinicius Schmidt/Metrópole

Os militantes que atenderam ao chamado do presidente Jair Bolsonaro (PL) já começam a chegar a Brasília para o ato político que vai ocorrer durante e após o desfile militar que celebra os 200 anos da Independência do Brasil. A maioria chega em caravanas que partem de todas as regiões do país, mas principalmente de estados vizinhos à capital, como Goiás, Bahia e Minas Gerais.

Não há uma coordenação central dessas caravanas, mas militantes bolsonaristas calculam que há entre 300 e 600 ônibus que já chegaram ou estão a caminho do DF. Se cada veículo carregar 45 pessoas, seriam, no mínimo, 13,5 mil visitantes de outros estados para celebrar o feriado em Brasília e mostrar apoio à reeleição do presidente.

Os veículos particulares, como ônibus, caminhões, motorhomes, carros e tratores, estarão proibidos de ocupar a Esplanada dos Ministérios, onde ocorrerá o desfile, e as forças de segurança do DF definiram três pontos principais para abrigar os grandes veículos: o Parque Leão, no Recanto das Emas; o Parque de Exposições da Granja do Torto, entre Sobradinho e Plano Piloto; e os estacionamentos do Parque da Cidade, na Asa Sul. Desde o fim de semana, porém, já era possível ver os primeiros ônibus de caravanas em estacionamentos dos setores hoteleiros de Brasília.

A reportagem encontrou, nas redes sociais, registros de caravanas partindo de todas as regiões, inclusive de estados que também têm atos bolsonaristas marcados para o 7 de Setembro, como São Paulo e Rio de Janeiro.

Veja postagem feita na segunda (5/9) por militante em caravana que saiu do estado mais ao sul do país para enfrentar cerca de 3 mil km de estrada até a capital:

 

Há também caravanas vindo de cidades como Salvador, Barreiras e Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia; Vitória e Guarapari, no Espírito Santo; Imperatriz, no Maranhão; Água Boa e Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso; Belo Horizonte, Governador Valadares e Uberlândia, em Minas Gerais; Conceição do Araguaia, no Pará; e Porto Velho, em Rondônia.

Outro grupo de visitantes vem de Goiás, como o Metrópoles registrou em reportagem no último fim de semana. Como a viagem com origem no estado vizinho é curta, porém, a maioria das caravanas deve ir e voltar do desfile cívico-militar ainda no dia do feriado, sem pernoitar em Brasília.

As caravanas goianas saem principalmente da capital, Goiânia, e da região sudoeste do estado, onde o agronegócio é mais forte. Se em estados mais distantes o investimento de cada militante no transporte pode superar os R$ 300, o valor da passagem para caravanas de Goiânia ou Anápolis gira em torno de R$ 40.

No caso de cidades mais distantes, como Mineiros, município a mais de 600 km de Brasília, empresários do agro estão custeando os ônibus. O mesmo ocorre em cidades do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul.

 

Após ser alvo de tentativas de invasão no feriado da Independência no ano passado, quando caminhoneiros romperam barreiras policiais na Esplanada, o Supremo Tribunal Federal (STF) classificou o ato convocado para este ano como de “elevado risco”, e a Secretaria de Segurança do Distrito Federal definiu um rígido esquema de segurança para o 7 de Setembro.

Caminhões e outros veículos particulares não poderão entrar na Esplanada, que está interditada desde a noite de segunda, ou se aproximar do STF. A entrada na região central de Brasília será permitida apenas a pedestres, que serão submetidos a revista policial. O objetivo é impedir a participação de pessoas com materiais perfuro-cortantes.

Um protocolo de ações foi elaborado pelo governo local e pelas forças federais após uma série de reuniões com integrantes de órgãos federais e distritais. A estratégia foi traçada com base em levantamentos de inteligência. Foram levadas em conta a segurança de participantes, a mobilidade urbana e a preservação do patrimônio público.

Além de intervenções no trânsito, o documento prevê ações de policiamento, relação de objetos proibidos, reforço nos atendimentos de emergência e de delegacias específicas para registro de ocorrências.

O monitoramento das áreas envolvidas ocorrerá em tempo real, por meio das câmeras distribuídas na área central de Brasília, por pontos de observação instalados pela segurança pública em locais estratégicos e pela inteligência, com supervisão de redes sociais, entre outros.

Atiradores de elites, os snipers, também deverão fazer parte do policiamento, conforme anunciou a Secretaria de Segurança do DF, que também vai instalar barreiras antidrones na região central.

De olho em votos para tentar reverter a vantagem do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais, o presidente Bolsonaro tem convocado sua militância para os atos de 7 de Setembro há meses. As principais apostas são Brasília e Rio de Janeiro, onde Bolsonaro participará das manifestações, e São Paulo, onde aliados do presidente vão se concentrar na Avenida Paulista.

Pressionado pela ala política de sua campanha, o chefe do Executivo vinha recuando do discurso radicalizado contra o sistema eleitoral e autoridades do Judiciário.

Ao conceder entrevista ao Jornal Nacional no último dia 22 de agosto, por exemplo, Bolsonaro foi questionado sobre seus xingamentos a ministros do STF e respondeu que a relação com Alexandre de Moraes já vinha sendo “pacificada”.

Após o ministro determinar operação policial contra empresários bolsonaristas que defenderam preferência por um golpe de Estado a uma vitória de Lula, porém, Bolsonaro voltou a subir o tom.

O caso foi revelado pelo colunista Guilherme Amado, do Metrópoles.

Em evento voltado ao público feminino, em Novo Hamburgo (RS), no último sábado (3/9), o presidente afirmou que “os empresários estavam privadamente discutindo um assunto” e que “não interessa qual é o assunto”. “Eu posso muito bem pegar meia dúzia aqui e falar em um canto o que bem entender. Não é porque tem um vagabundo ouvindo atrás da árvore a nossa conversa que vai querer roubar a nossa liberdade”, disse o mandatário.

“Agora, mais vagabundo do que quem está ouvindo a conversa é quem dá a canetada após ouvir o que ouviu esse vagabundo”, emendou o chefe do Executivo, sem citar o nome de Moraes.

Diante desses sinais trocados, é impossível prever se, nos atos de amanhã, vão prevalecer as mensagens de apoio eleitoral a Bolsonaro ou ataques ao sistema eleitoral e pautas golpistas, como pedidos pelo fechamento do Supremo ou do Congresso.

O que se sabe é que os aliados tentarão fazer dos atos desta quarta-feira um grande comício, com capacidade para alavancar Bolsonaro nas pesquisas.

Não chove em Brasília há mais de 120 dias. A capital vai receber os visitantes em uma Esplanada sem grama verde, com muita poeira e sol e pouca umidade.

Na tarde de domingo (4/9), por exemplo, a umidade ficou abaixo de 12%, e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta vermelho de perigo potencial para o DF. Os meteorologistas afirmam que o indicador e as altas temperaturas devem se manter nos mesmos níveis até o fim desta semana, o que aumenta riscos de incêndio florestais e exige atenção à saúde — especialmente de crianças, idosos e animais.

A situação é agravada pela fumaça de um enorme incêndio que atinge o Parque Nacional de Brasília, ao lado do Plano Piloto, e já havia consumido, até a segunda, 130 hectares de vegetação, o equivalente a 183 campos de futebol.

Metrópoles