Governo tem aprovação melhor que Bolsonaro

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Foto: Cristiano Mariz

Análise de 32 pesquisas de opinião pública do Ipespe desde janeiro de 2021 sugere que o principal obstáculo para Jair Bolsonaro subir nas pesquisas de intenção de voto está no próprio Jair Bolsonaro. Enquanto nos últimos meses as pesquisas mostram que melhoraram a avaliação do governo e o humor do eleitor com a economia, a rejeição pessoal ao presidente e sua intenção de votos segue estacionada.

Na pesquisa divulgada na sexta-feira (23), o Ipespe mostrou que 35% dos brasileiros consideram o governo ótimo ou bom, o resultado mais alto desde dezembro de 2020. Ainda assim, 45% acham o governo ruim ou péssimo, índice que embora alto é o menor desde fevereiro de 2021. Quando perguntados se aprovam ou desaprovam a maneira como Bolsonaro governa, os eleitores seguem a mesma tendência. 56% desaprovam, o número mais baixo desde fevereiro de 2021, enquanto 39% aprovam, o resultado mais alto desde fevereiro de 2021.

A ciência política produziu toneladas de estudos correlacionando a possiblidade de reeleição de um governante com a avaliação da sua gestão. O reeleição seria um plebiscito, na qual um governante bem avaliado não teria dificuldades em ser reconduzido.

O governo Bolsonaro não é bem avaliado, mas a informação colhida na pesquisa Ipespe é que a percepção do eleitor é de melhora nos últimos meses: 37% acham que a economia está no rumo certo, maior índice desde novembro de 2020. Pela primeira vez, a expectativa de que inflação vai subir ficou abaixo dos 40%, otimismo que só existia entre 15% dos entrevistados em julho.

Mesmo o noticiário que o presidente reclama tanto está mais ameno, segundo a sondagem: 41% consideraram que as notícias na rádio, TV, jornais e internet sobre o presidente e do governo são negativas, mais um número alto, mas que ainda assim na margem de erro é o mais baixo desde março de 2019, quando Bolsonaro havia completado apenas três meses de mandato.

Em condições normais de temperatura e pressão, esses dados serviriam de indicadores antecedentes de um salto nos índices de voto de Bolsonaro. Faz sentido. Se 39% dos brasileiros aprovam o estilo Bolsonaro de governar seria natural que ele tivesse ao menos esse percentual, e não os 35% registrados na pesquisa estimulada do Ipespe, embora os dois dados estejam no limite da margem de erro de dois pontos percentuais. Essa diferença pode indicar um espaço de crescimento para Bolsonaro até o dia da eleição de primeiro turno.

Os 35% de intenções de votos obtidos por Bolsonaro na pesquisa Ipespe mostram estagnação. Ele está na mesma faixa de votos desde fevereiro, quando chegou aos 32%.

O problema maior da campanha Bolsonaro, no entanto, não é a percepção dos brasileiros sobre o governo, mas ele mesmo. De acordo com o Ipespe, a rejeição ao presidente está em 55%, dado proibitivo para quem tenta ganhar no segundo turno. Desde abril de 2021, a porcentagem de eleitores que dizem que nunca votariam no presidente varia entre 61% e 55%.

Essa aversão pessoal ao presidente por parte do eleitorado já foi detectada pela própria campanha. Por isso, Bolsonaro está em menos de um terço dos spots oficiais, que dão mais espaço à primeira-dama Michelle Bolsonaro e ataques a Lula do que ao presidente.

Em pesquisas qualitativas, eleitoras que acham o governo regular foram apresentadas a vídeos com discursos de Bolsonaro. Elas se mostraram revoltadas com o discurso do presidente no 7 de Setembro, quando ele autodeclarou “imbrochável”, com as agressões à jornalista Vera Magalhães e a senadora Simone Tebet no debate da Band ou nas várias vezes em que ele minimizou a pandemia de Covid. As qualitativas mostraram que Bolsonaro segue sendo considerado um “mito” para milhões de eleitores, mas um voto impossível para outros milhões. Mesmo aqueles que aprovam o governo.

O Globo