Legislativo e Judiciário boicotam festim bolsonarista

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Foto: Silvio Avila/AFP

Os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), decidiram juntos nesta terça-feira (6) não participar do tradicional desfile militar de 7 de Setembro em Brasília, que será turbinado neste ano com as comemorações do Bicentenário da Independência.

Uma das principais lideranças do Centrão, grupo político que dá as cartas no Congresso e serve de base de apoio a Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também não vai. Mas por outros motivos: Lira decidiu priorizar a sua campanha eleitoral em Alagoas.

Com os desfalques, Bolsonaro vai ser o único chefe de poder brasileiro a prestigiar a cerimônia, que deve durar cerca de uma hora e quarenta minutos na Esplanada dos Ministérios.

Fux e Pacheco estiveram juntos nesta terça-feira para receber um relatório da Comissão de Juristas do Processo Administrativo e Tributário, que pretende modernizar o sistema de Justiça.

A equipe da coluna apurou que, na conversa reservada que tiveram, os presidentes do STF e do Senado concluíram que o desfile militar vai servir de palanque para Bolsonaro, que tenta a todo custo demonstrar que tem o apoio popular em sua difícil campanha à reeleição.

Também pesou contra a ida à parada militar a retomada dos ataques contra integrantes do STF e as urnas eletrônicas por parte do chefe do Executivo.

No último final de semana, Bolsonaro chamou de “vagabundo” o ministro Alexandre de Moraes, que autorizou uma operação policial contra empresários bolsonaristas que defendem um golpe de Estado em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições.

Para integrantes do STF e do Senado, a exposição midiática ao lado de Bolsonaro faltando menos de um mês para o primeiro turno das eleições poderia ser interpretada como um endosso à postura beligerante do presidente.

Fux passará o feriado em Brasília — ficará de plantão para, se for necessário, dar uma dura resposta a eventuais ataques contra a democracia na sessão do STF prevista para quinta-feira (8).

Pacheco também fica na capital hoje e promove amanhã uma solenidade no Congresso em comemoração ao bicentenário.

Na véspera do 7 de Setembro, as relações do Supremo com o Planalto ficaram ainda mais estremecidas com as recentes decisões dos ministros Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, que suspenderam o piso nacional da enfermagem e trechos de decretos de Bolsonaro que facilitaram a compra e o porte de armas, respectivamente.

Em 2019, no primeiro ano de mandato de Bolsonaro, o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre, prestigiou a cerimônia, mas o ministro Dias Toffoli e o deputado Rodrigo Maia, que chefiavam o STF e a Câmara dos Deputados à época, não compareceram.

O desfile militar em Brasília foi cancelado em 2020 e 2021 devido à pandemia.

O Globo