Marqueteiros pressionam Bolsonaro a não radicalizar

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Foto: Leco Viana / TheNews2

Os organizadores da manifestação em apoio a Jair Bolsonaro em São Paulo, neste 7 de Setembro, se dividem entre a defesa da ruptura democrática e um discurso mais ameno de apoio ao presidente.

Entre os 13 carros de som que estarão na Avenida Paulista a partir das 8h, quando as vias serão fechadas para o ato, as críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) são populares, mas alguns grupos pregam cruzar os limites constitucionais contra os integrantes da Corte. O GLOBO fez contato com 40 organizadores para saber o que pensam sobre apoiar uma intervenção militar no processo eleitoral.

Na reunião entre a Polícia Militar e organizadores do ato, na última sexta-feira, o advogado Marcos David Figueiredo de Oliveira, do grupo Moraliza, pregou a criação de um “Tribunal Constitucional da Ordem Institucional”, por meio de um decreto-lei que não pudesse ser sustado pelo Poder Judiciário, para julgar ministros do STF e outras autoridades.

A ideia tem respaldo entre outras lideranças que levarão caminhões de som para a avenida. É o caso do sargento Paulo Roberto Roseno Júnior, candidato a deputado federal pelo PRTB e porta-voz do Movimento Voluntários da Pátria. Ele defende que Bolsonaro “acione as Forças Armadas para destituir os onze ministros do STF”.

— A ação que a gente prega é o cara (Lula) não assumir. Se o Bolsonaro der um chute no balde e acabar com tudo, eu estou dentro — afirmou ao GLOBO.

Raquel Rezende, líder do Damas de Aço, se opõe ao discurso de outros manifestantes que têm como mote a “liberdade”, diz que o país já é livre, e prega trocar os ministros do Supremo por outros ocupantes. Ela diz estar havendo “perseguições” contra a “extrema-direita”, rótulo com o qual se define.

— A nossa pauta é única: presidente Jair Bolsonaro, acione as Forças Armadas para destituição dos onze ministros do STF. Nós somos um grupo de extrema-direita. Nós não somos direita. É a pauta de amanhã, é a pauta de depois de amanhã. Amanhã é só o princípio do armagedon — afirmou.

Até mesmo os indicados por Bolsonaro ao STF, Kassio Nunes Marques e André Mendonça, entram na mira dos militantes, para quem a instituição deve ser poupada, mas os membros não.

Candidato a vice-prefeito na chapa de Levy Fidelix (PRTB) em 2020, Jairo Glikson, líder do Movimento Destro, rechaça qualquer intenção golpista e diz que suas críticas se limitam a “alguns ministros do STF que estão exagerando na conduta, avançando em questões de outros Poderes”.

— Nós somos absolutamente legalistas. Ninguém em intervenção militar. Isso é ridículo. Nós acreditamos nas instituições, elas estão funcionando — diz Glikson.

O Movimento Monarquista, representado por Gustavo Araújo, foca mais na comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil do que na contenda política. Ele diz defender o respeito à Constituição e harmonia entre os Poderes, mas critica o que considera a atuação “política e irresponsável” de alguns ministros do STF.

Outros manifestantes ignoram o fato de as eleições brasileiras serem auditáveis e não terem suspeitas de fraudes há mais de duas décadas e dizem querer “eleições limpas com auditabilidade”. É o caso da dupla Helison Brito e Cléo de Olivera, do Movimento 7 de Setembro. Já Raymundo Nascimento, do B-38, maior grupo pró-Bolsonaro do Telegram, com 61,4 mil membros, vem compartilhando mensagens de convocação pedindo a “contagem pública de todos os votos”.

O ato na Avenida Paulista deve receber centenas de caravanas vindas do interior do estado. O médico Éder Câmara, que foi candidato a vereador em Serra Negra pelo Republicanos em 2020, centralizou a organização dos ônibus que vão partir do interior rumo à capital.

Amigo da deputada federal Carla Zambelli (PL), ele tem orientado os manifestantes a levarem cartazes de apoio às Forças Armadas, porque “eles sabem o que fazer para termos eleições limpas, e temos que mostrar que acreditamos neles”.

A recomendação vai ao encontro do que outros organizadores têm feito. Uma pessoa do entorno do presidente afirmou que pediu aos manifestantes para não comparecerem ao evento com cartazes pedindo o fechamento do STF, o que já estava nos planos.

A ideia é que mensagens mais “moderadas”, como apoio às Forças Armadas, sejam usadas no lugar, de preferência escritas em outros idiomas.

Câmara pertencia ao grupo fundado por Zambelli e hoje liderado pelo empresário Tomé Abduch, o NasRuas, que centraliza a organização do evento na Avenida Paulista. Abduch defende uma manifestação pacífica e ordeira, sem pedidos de fechamento do Congresso ou do STF, que aparecem com frequência em manifestações de apoio a Bolsonaro.

Veja quais são os grupos que levarão carros de som à Avenida Paulista:

1. Movimento Conservador Ordem e Progresso
2. Damas de Aço, Voluntários da Pátria, Aliança Direita do Brasil e Patriotas do Brasil
3. Patriotas do QG
4. Movimento Conservador Destro
5. NasRuas
6. Movimento Família Brasileira
7. B-38
8. Movimento Federação Nacional de Entidades de Praças Militares Estaduais
9. Avança Brasil (MAB)
10. Marcha da Família Cristã
11. Movimento Agro e Grupo Brasil Limpo
12. Movimento Monarquista
13. Movimento Instituto Brasil sem Violência e Frente Conservadora BR

O Globo