Mulheres pobres notam mais a corrupção
Foto: O Globo
Pesquisa do Ipec feita com exclusividade para O GLOBO mostra que a percepção da corrupção no Brasil é maior entre mulheres e mais pobres. O Ipec perguntou a 2 mil pessoas pela internet se os entrevistados percebiam algum nível de corrupção em diversas instituições, como órgãos do Executivo, Legislativo, Judiciário, polícias, ONGs e empresas. Em média, pessoas que ganham até um salário mínimo e do sexo feminino afirmaram com mais frequência que consideravam as instituições “muito corruptas” do que homens e do que entrevistados mais ricos.
Para calcular a média das respostas de cada segmento dos entrevistados, o Ipec criou o Índice de Percepção da Corrupção (IPC): um valor que corresponde à média ponderada das respostas. Quanto mais alto o valor, maior é a percepção da corrupção pela categoria. No caso das mulheres, o IPC foi de 79, contra 74,5 dos homens.
Já quando o recorte é feito pela renda, a percepção da corrupção aumenta quanto menos os entrevistados ganham: entre os entrevistados que recebem mais de cinco salários mínimos o IPC ficou em 75,1; já entre aqueles que ganham menos de um salário mínimo o valor foi de 78,7. Por outro lado, o levantamento também mostra que os evangélicos têm uma percepção bem menor da corrupção do que praticantes de demais religiões: o IPC da categoria é de 72,9, contra 76,1 dos católicos e 79,6 daqueles que se dizem praticantes de outras religiões.
A Câmara dos Deputados foi avaliada como o órgão mais corrupto: para 76% dos entrevistados, existe “muita corrupção” no parlamento. O Senado, o governo federal e os governos dos estados vêm em seguida — com, respectivamente, 70%, 64% e 61% de avaliações de “muita corrupção”. O Poder Judiciário foi avaliado como “muito corrupto” por 47% dos entrevistados e aparece em quinto lugar.
Apesar de a Operação Lava-Jato ter trazido à tona pagamentos sistemáticos de propina por várias das maiores empresas do país, firmas privadas foram as instituições mais bem avaliadas pelos entrevistados: só 24% as apontaram como “muito corruptas”.
Os brasileiros consideram a corrupção o segundo maior problema do país, segundo o Ipec. Ao todo, 36% dos entrevistados pelo instituto mencionaram pagamentos de propina e a troca de pagamentos ilícitos por vantagens como um dos três problemas mais graves do Brasil — somente o desemprego foi mencionado por mais entrevistados. No entanto, quando estimulados a escolher somente um desafio a ser enfrentado, a corrupção aparece como maior prioridade dos entrevistados, com 18% das menções, à frente de desemprego e saúde, com 14% cada uma.
Leia aqui os outros temas da série Tem Solução, que investiga os principais problemas do país a partir de dois levantamentos inéditos do Ipec. A primeira pesquisa foi feita de forma presencial com 2 mil eleitores com 16 anos ou mais, entre 1 e 5 de julho em 128 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos. A segunda, feita com 2 mil pessoas na internet com 16 anos ou mais das classes A, B e C, entre 20 e 27 de julho, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos.