Pesquisa qualitativa não vê vencedor em debate

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Foto: Marcos Serra Lima/g1

Incômodos com ofensas e elogios aos momentos propositivos foram algumas das reações de eleitores indecisos que O GLOBO acompanhou, de dentro de uma sala de espelho, na noite desta quinta-feira, durante o debate da TV Globo. O grupo foi escolhido pelo cientista político Renato Dorgan, do Instituto Travessia, especialista em pesquisas qualitativas, para refletir os segmentos que mais têm possibilidade de mudar o voto e decidir se a eleição irá ou não para um segundo turno.

Para eles, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), que se atacaram logo no início, “saíram perdendo com isso”; e, em mais de um momento, os embates entre Simone Tebet (MDB) e Felipe D’Avila (Novo) foram elogiados por trazer propostas ao encontro, sobretudo depois de trocas de ofensas envolvendo outros candidatos. Ciro Gomes (PDT) também foi bem avaliado nos outros blocos, enquanto Padre Kelmon (PTB) e Soraya Thronicke (União) receberam críticas — o candidato do PTB liderou as menções negativas e chegou a deixar os indecisos impacientes.

Os participantes tinham entre 21 e 60 anos, das classes B, C e D. Quatro deles tinham tendência a votar em Lula na pesquisa estimulada (quando há uma lista de opções), outros quatro em Bolsonaro, além de três totalmente indecisos, dois que escolhiam Ciro, dois que preferiam Tebet e um com opção de voto em Soraya Thronicke. Eles assistiram ao debate com três cartões à disposição: vermelho (para indicar reprovação ao tema abordado), amarelo (se nem gostou, nem desgostou) e verde (aprovação).

No primeiro bloco, D’Avila foi quem mais recebeu verde, seguido por Tebet, posto que foi de Ciro e da emedebista no segundo. O candidato do Novo, entretanto, também recebeu críticas por não ter experiência na gestão pública; Kelmon foi o mais rejeitado em ambos. Lula e Bolsonaro receberam mais cartões vermelhos do que verde nos dois. No terceiro e quarto blocos, Ciro foi bem avaliado.

Logo no início do debate, o grupo riu em conjunto ao ver Lula dizer que estava “achando Ciro nervoso” ao responder a pergunta sobre aumento da desigualdade social nos governos do PT. Os eleitores que tendem a votar no petista avaliaram que ele se saiu bem nas colocações, em especial, quando disse que, em seu governo, os mais pobres puderam comprar geladeira nova e comer picanha no churrasco. Eleitores que tendem a votar em Bolsonaro, e os totalmente indecisos acharam que o ex-presidente foi mal e “fugiu”.

Na sequência, parte dos participantes reagiu negativamente às declarações de Bolsonaro de que ajudou a combater a fome ao “dar R$ 600” por meio do Auxílio Brasil. Uma indecisa interveio: “Você não. Você queria dar R$ 200”, lembrando o valor que o governo federal defendia para o auxílio.

Assim como Thronicke, os eleitores também confundiram o nome de padre Kelmon (PTB). “Padre Kelvin”, disse um, aos risos. Outro reagiu à vestimenta do candidato. “E essa touquinha aí?”. Quase todos riram quando Kelmon pediu para Soraya “não desrespeitar um padre”. Os eleitores também acharam engraçado quando a senadora perguntou se o postulante do PTB não tem medo de ir para o inferno.

O embate entre Simone Tebet e Felipe D’Avila foi celebrado depois do pedido de resposta concedido a Lula e do bate-boca entre Soraya e Kelmon. A proposta da candidata do MDB para a Saúde foi aprovada por eleitores sem posição definida e também por parte do grupo que tende a votar em Lula ou em Jair Bolsonaro.

As mulheres manifestaram desconforto com o modo como Bolsonaro se dirigiu a Tebet durante discussão sobre o meio ambiente. Ao ouvir de Bolsonaro que seu governo “cuida das mulheres”, eleitoras ironizaram.

Ciro recebeu apoio depois do segundo bloco, quando um do grupo lamentou o pouco tempo de campanha para o candidato avançar nas intenções de voto. Ele também atraiu o apoio de uma eleitora que estava inclinada para o voto em Tebet. Felipe D’Avila foi elogiado, porém, houve reclamações quanto ao fato de o candidato do partido Novo não ter nenhuma experiência como gestor público para apresentar.

No terceiro bloco, os ataques de Ciro a Lula agradaram boa maior parte dos indecisos, especialmente os que tendem a votar em Bolsonaro. As respostas do candidato do PT que remontam a feitos de seus mandatos no Palácio do Planalto não empolgaram os eleitores do grupo focal — reclamações surgiram em diferentes blocos.

Depois de ir mal em dois blocos, eleitores avaliaram que Bolsonaro melhorou e estava mais “centrado” na reta final, enquanto Lula foi criticado por fugir das perguntas. Ciro foi elogiado por ter “tudo na ponta da língua”. Soraya teve reconhecimento pelo seu plano de instituir um imposto mínimo, mas sem empolgar.

Os indecisos se dividiram nas avaliações sobre quem mais “apanhou” dos adversários, se Lula ou se Padre Kelmon. Sobre D’Avila, a impressão final de um indeciso se resumiu a: “Ele é muito Doria”, em referência ao ex-governador de São Paulo, João Doria.

O Globo