Apoio de Garcia a Bolsonaro pouco ajuda

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Assim que foi dada a largada do segundo turno, a prioridade número um de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi garantir o apoio explícito de governadores eleitos às suas candidaturas. O atual presidente da República foi quem se saiu melhor nessa tarefa: conseguiu que pelo menos oito chefes de Executivos estaduais ficassem ao seu lado. Já o petista tem o apoio de seis governadores até agora, quase todos do Norte e Nordeste do país.

Mas qual o efeito prático desses apoios? Segundo levantamento do GLOBO com base nas últimas três eleições, a transferência de votos nos estados está longe de ser automática. Na verdade, ao menos desde 2010, nunca um apoio foi capaz de reverter a derrota de um candidato no estado. Em 47 disputas estaduais analisadas pelo Pulso, o apoio do governador eleito no primeiro turno não vira o placar do segundo turno.

E é isso o que pretende Bolsonaro, especialmente em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país e onde nunca antes um presidente venceu as eleições sem ganhar também por lá. Para tentar reverter a derrota, o atual presidente da República tem apostado suas fichas na declaração de voto do governador Romeu Zema (Novo), reeleito no último dia 2 com 56,18% dos votos válidos.

Sobram exemplos de quando essa estratégia deu errado. Em 2010, o então candidato José Serra (PSDB) tinha um correligionário do mesmo partido eleito em primeiro turno no estado: Antonio Anastasia (PSDB). Mas o apoio não foi suficiente: a distância do tucano para Dilma Rousseff (PT), candidata vitoriosa nas eleições gerais e em Minas, foi até maior no segundo turno do que no primeiro.

Naquele mesmo ano, Dilma enfrentou uma situação parecida com a do adversário, mas no Acre. O estado elegeu o petista Tião Viana, mas rejeitou a dobradinha com Dilma: ela ganhou apenas seis pontos percentuais do primeiro para o segundo turno, enquanto Serra cresceu 17.

— Os apoios não são tão efetivos assim. Na média, vemos pelos números que não fazem muita diferença. Os eleitores já têm uma pré-disposição a determinado candidato. O apoio não tem a capacidade de fazer com que aqueles que tenham sentimentos negativos por um candidato mudem o seu voto. Sobretudo quando estamos há mais de um mês de campanha e as pessoas têm suas posições cristalizadas — afirma o cientista político Jairo Nicolau, pesquisador da FGV/FCPDOC.

Segundo Nicolau, é muito mais provável o cenário contrário: de que o apoio do presidente afete as chances de voto do governador, como ocorreu em São Paulo, com o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), postulante de Bolsonaro. O pesquisador chama atenção para o fato de os governadores eleitos apoiarem candidatos que tiveram votação expressiva em seu estado.

— É um cálculo eleitoral: o governador eleito apoia o candidato que foi bem em seu estado, dificilmente é o contrário. Apoiando esse candidato que tem mais afinidade com os eleitores de seu estado, o governador ganha prestígio. A motivação é muito mais pelos dividendos eleitorais, seja no curto ou médio prazo, do que propriamente para beneficiar o candidato à Presidência — diz Jairo.

Foi o que ocorreu em 2018: Bolsonaro teve apoio dos governadores do Acre, Goiás, Mato Grosso e Paraná, todos estados em que saiu vitorioso no primeiro turno. Enquanto Fernando Haddad (PT) recebeu endosso de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Piauí, também locais onde teve votações expressivas.

Em 2014, Dilma conseguiu apoio de Raimundo Colombo (PSD) em Santa Catarina, estado que historicamente não vota no PT. Ela saiu de 30,74% no primeiro turno para 35,40% no segundo, enquanto Aécio Neves (PSDB) foi de 52,90% para 64,60%.

Globo