Corrente fora da esquerda ataca Bolsonaro com suas armas

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Foto: Reprodução

A campanha tentando associar o presidente Jair Bolsonaro (PL) à maçonaria e ao satanismo acuou bolsonaristas e ditou a agenda dos apoiadores do presidente no pontapé da campanha do segundo turno.

As redes sociais foram inundadas desde a segunda-feira por publicações que resgataram uma visita de Bolsonaro a uma loja maçônica, de 2017. Aliados do presidente precisaram ir a público para tentar mitigar os danos.

O conteúdo sugere ligações obscuras de Bolsonaro, inclusive com o satanismo, e busca aumentar a rejeição do presidente junto ao eleitorado religioso.

Houve 1,91 milhão de publicações sobre maçonaria e termos correlatos no Twitter entre os dias 4 e 5 de outubro, segundo levantamento da Arquimedes para O GLOBO.

No primeiro dia, 9 em cada 10 perfis tuitando sobre o tema estavam do lado da esquerda. Com a reação da direita, apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recuaram, mas mantiveram a maioria das menções: 83,7%, contra 16,3% representados pelos bolsonaristas.

Diferente de outros episódios, no entanto, a campanha desta semana teve grande participação de perfis fora da política institucional, segundo Pedro Bruzzi, sócio da Arquimedes.

São perfis mais militantes do que propriamente políticos e partidos, diz ele, com exceções para o deputado federal André Janones (Avante-MG) pelo campo lulista e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) pelo campo bolsonarista.

— A ofensiva foi tamanha que obrigou parte dos bolsonaristas a defender o presidente Bolsonaro. Assim como fez André Janones no começo da campanha, quando atacou Bolsonaro e seus filhos, a ofensiva lulista ocupou o espaço no Twitter ao longo do período, sem deixar que o outro lado pudesse pautar o debate — afirma Bruzzi.

Apesar de ter sido amplamente repercutido por apoiadores de Lula, o conteúdo nasceu fora das bolhas da esquerda, de acordo com uma análise do pesquisador Pedro Barciela.

No Twitter, um dos tuítes com maior alcance (214 mil curtidas) sobre o assunto vem de um perfil de fofocas sobre celebridades. Outros usuários comuns, sem conta verificada ou grande expressão, alcançaram quase 300 mil curtidas falando sobre o tema.

Barciela diz que não se trata de um movimento da campanha de Lula ou da esquerda, já que nenhum desses agrupamentos nas redes sociais foi ator central no surgimento desse debate.

— (A campanha) Parte muito mais do antibolsonarismo no vácuo das 48 horas pós-primeiro turno, quando não havia direcionamento de linha política a ser adotada. É um movimento muito mais amplo, mais caótico, envolvendo diversos setores da sociedade que não produzem filiação ideológica entre si — afirma o pesquisador.

A repercussão acionou a tropa de apoio de Bolsonaro, que foi às redes sociais para minimizar o estrago. Entre terça e quarta-feira, o pastor Silas Malafaia publicou exaustivamente sobre o assunto, quando 15 de seus 16 tuítes publicados no intervalo de um dia tiveram como objetivo defender Bolsonaro das críticas.

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que casou numa loja maçônica (o marido Aginaldo de Oliveira é ligado à organização) e teve fotos da cerimônia de novo repercutidas na internet para endossar a associação do presidente com a “seita”, fez um apelo aos adversários:

“Aqueles que estão fazendo montagem com o Presidente serão processados e pode dar cadeia.Eu realmente casei num local da maçonaria. Quer bater? BATAM EM MIM”, escreveu nas redes sociais.

A campanha desinformativa furou as bolhas da política. O assunto se tornou a matéria mais lida na quarta-feira em um dos principais portais evangélicos na internet, Fuxico Gospel: “Vídeo de Bolsonaro na maçonaria assusta evangélicos. Assista!”

Outro site evangélico de grande repercussão, Gospel Prime, alinhado ao bolsonarismo, deu destaque no mesmo dia uma matéria desmentindo que “Bolsonaro tenha feito tuíte exaltando a maçonaria”.

Em uma transmissão ao vivo na última noite, Bolsonaro comentou o vídeo que circula nas redes com um trecho de sua visita à loja maçônica. Confirmou a presença e disse ter sido bem recebido no estabelecimento.

— Está aí na mídia agora, pessoal me criticando porque fui em loja maçom em 2017. Fui sim, fui em loja maçom, acho que foi a única vez que eu fui numa loja maçom. Eu era candidato a presidente, pouca gente sabia, e um colega falou ‘vamos lá’ e eu fui. Acho que foi aqui em Brasília. Fui muito bem recebido. Me trataram bem — afirmou Bolsonaro na live.

Ele também destacou que nunca mais foi a um estabelecimento do tipo:

— E eu sou presidente de todos e ponto final. Fui de novo? Não fui. Agora, sou presidente de todos. Isso agora a esquerda faz estardalhaço. O que tenho contra maçom? Tenho nada. Se tiver alguma coisa a gente vê como proceder. Quero apoio de todos aqui do Brasil.

Para Bruzzi, o episódio sergiu para reagrupar a base petista e reagir aos ataques que partiam do outro lado. Dias antes do primeiro turno da eleição, publicações afirmando que Lula seria satanista foram disseminadas por bolsonaristas.

A campanha de Lula precisou publicar uma imagem nas redes sociais para afirmar que “Lula é cristão, acredita em Deus, não tem pacto nem jamais conversou com o diabo”.

O Globo