Lula tem arsenal contra ataques no debate

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: TV Globo/Reprodução

O acirramento da disputa entre Lula e Bolsonaro e a pesada onda de ataques entre as duas campanhas nas últimas duas semanas fez com que a coordenação de campanha do petista elaborasse um esquema especial de preparação para o debate da Band, que ocorre neste domingo a partir de 20h.

Um grupo formado pelos principais auxiliares do presidente, entre eles o ex-ministro Aloizio Mercadante e o advogado Cristiano Zanin Martins, preparou uma lista de temas que devem constar das perguntas de Jair Bolsonaro nas duas horas de embate, com as respectivas respostas.

Constam do dossiê: aborto, descriminalização das drogas, fechamento de igrejas, os regimes ditatoriais da Venezuela e da Nicarágua e banheiro unissex para crianças.

O jurídico preparou ainda um material a parte sobre corrupção – tema com que o candidato do PTB, o candidato laranja Padre Kelmon (PTB), tirou Lula do sério no debate da TV Globo –, com dados sobre os processos e das decisões judiciais para ajudar o candidato a se defender de acusações sobre o escândalo de corrupção da Lava Jato.

Os petistas têm duas preocupações quanto ao desempenho de Lula. Por um lado, sabem que têm que evitar que Lula apresente o desempenho do primeiro debate, quando pareceu abatido e sem repertório para responder às acusações de envolvimento no petrolão.

De outro lado, porém, precisam treiná-lo para que não se irrite e nem saia do sério caso seja chamado de ladrão ou corrupto, como se fazia na peça de propaganda de Bolsonaro na TV suspensa nesta semana pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Conforme antecipou a coluna, o formato do debate de domingo é menos engessado que o do primeiro turno, quando os candidatos permaneciam estáticos numa tribuna respondendo a questionamentos de adversários e de jornalistas.

Agora, eles poderão circular livremente pelo estúdio, o que vai testar não apenas o poder de articulação dos candidatos, mas também sua linguagem corporal, a habilidade em se movimentar no palco – e a capacidade de resistir a provocações do adversário.

Outra resposta essencial para o desempenho de Lula é sobre as fake news de que um eventual governo seu instituiria o banheiro unissex para as crianças. A mentira, que tem sido espalhada nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, causa bastante impacto entre eleitores evangélicos, que são um foco importante de rejeição a Lula.

“Nunca vi um desses na vida”, dirá Lula, se for provocado sobre o tema.

Os petistas preferiam que Lula conseguisse pautar o debate falando de temas como combate à fome, geração de emprego e a recuperação da economia. Sabem, porém, que Bolsonaro vai ao debate para obrigar o adversário a falar da pauta de costumes e de corrupção.

Como adiantou a coluna, o principal objetivo do presidente da República no embate com Lula é tentar irritá-lo como fez o candidato-padre.

No caso da pauta de costumes, a campanha do PT tentou evitar o assunto, mas recentemente se viu obrigada a gravar vídeos em que Lula fala sobre aborto e peças que mostram uma uma entrevista de Bolsonaro à IstoÉ Gente, de 2000, em que o então deputado federal afirma que o aborto é uma “decisão do casal”.

No caso do debate, a campanha quer que Lula ataque Bolsonaro na mesma medida em que for atacado. A calibragem da reação, porém, é delicada.

“Agora são apenas os dois, e se o presidente Jair Bolsonaro não vai poder se esconder por trás de uma batina, Lula não vai deixar nada sem resposta. No debate Lula será o Lula. Pronto para o tom que o outro escolher”, disse à equipe da coluna o ex-governador Wellington Dias.

Nesta semana, o TSE suspendeu a veiculação de uma propaganda de Bolsonaro que chamava Lula de “ladrão” e “corrupto”, ao relembrar os escândalos do mensalão e do petrolão.

Para o ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino, as atribuições ofensivas não são “mera crítica política”, já que transmitem mensagem “desrespeitando regra de tratamento decorrente da presunção constitucional de inocência”.

Lula pretende usar os julgamentos favoráveis do TSE e do Supremo Tribunal Federal (STF), que derrubou suas condenações da Lava Jato, para se livrar das armadilhas bolsonaristas. A conferir.

O Globo