Maioria das mulheres que tiveram poucos votos é negra

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Foto: Custodio Coimbra/ Agência O Globo

Levantamento do GLOBO identificou que 58,5% das mulheres que receberam menos de 50 votos ao concorrer à Câmara e às assembleias legislativas são negras. No grupo de 388 candidatas com o menor patamar de votação no primeiro turno, um dos elementos levados em conta pelo Ministério Público Eleitoral ao mapear possíveis candidaturas laranjas, 66 informaram ser pretas e 161, pardas, segundo a autodeclaração ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Essas candidatas tiveram, em média, 24 votos, e concorreram principalmente por partidos nanicos, como Agir, DC, PMB e PRTB. Entre as siglas com representante na Câmara, o PTB, que recebeu R$ 114 milhões do fundo eleitoral, lançou 15 candidatas autodeclaradas pretas ou pardas que foram pouco votadas.

Neste ano, o TSE estipulou que os partidos devem distribuir recursos proporcionalmente por gênero e por cor ou raça, de acordo com o perfil de seus candidatos. No caso das mulheres, há um piso de 30% de candidaturas.

Roraima é estado com mais candidaturas femininas negras nesta situação: 29. Entre elas, Tina Barnabé (Solidariedade-RR), que relatou ter desistido na antevéspera do pleito pelo “não cumprimento de acordos firmados com o partido”, segundo informou em nota. Ela obteve dois votos.

Um caso semelhante foi o de Thamires Silva (PRTB-PE), que disse ao TSE ser parda. Ao GLOBO, ela afirmou que renunciou com antecedência, mas que mesmo assim seu nome foi às urnas, onde não obteve nenhum voto.

— Não fiz campanha, nem recebi fundo. Não pedi votos aos familiares, nem votei em mim mesma porque não pude participar de fato — relata.

Ambas as candidatas concorreram às assembleias legislativas de seus estados. Na Câmara, o percentual de mulheres eleitas neste ano corresponde a 18% do total de cadeiras. Quando se leva em conta a cor, mulheres negras serão apenas 5% da próxima legislatura.

A doutoranda em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e co-diretora d’A Tenda das Candidatas, Hannah Maruci, afirma que as mulheres negras “sofrem em dose dupla” e “são as mais subfinanciadas e negligenciadas por estarem em dois grupos” tratados à margem por partidos políticos.

— Enquanto não houver políticas públicas específicas, medidas que façam com que os partidos precisem construir essas candidaturas, não haverá mudanças — alerta.

Pós-doutora em Educação, Rosangela Hilário (PDT-RO) é uma das postulantes que critica o espaço reduzido e o preconceito como obstáculos a mulheres negras na política. Ela, que chegou a receber R$ 127,5 mil do fundo eleitoral, terminou com 692 votos.

— Meu problema não foi o partido, mas o preconceito e a solidão — afirmou.

O Globo