Sete Estados não elegeram parlamentares de esquerda

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Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Apesar de a nova composição da Câmara dos Deputados ser marcada por um centro cada vez mais espremido pela polarização, a próxima legislatura pode ter um “vácuo” de aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto para a Presidência. Uma análise feita pelo GLOBO indica que a esquerda “sumiu” em sete estados, cinco deles da região Norte. Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima e Tocantins, além de Sergipe e Mato Grosso, não terão mais representantes de partidos desse espectro político (PT, PSOL, PSB, PDT, PV, Rede e PCdoB), ao contrário do que ocorre atualmente.

O desaparecimento de representantes dessas legendas é compensado por um crescimento em estados-chave, sobretudo em São Paulo, onde os partidos do de esquerda terão cinco deputados a mais do que a bancada atual. Ou no Rio, onde serão três a mais.

Com as eleições deste ano, os partidos de esquerda na Câmara Federal foram de 121 para 126 deputados, enquanto as siglas mais alinhadas ao governo Bolsonaro (PP, PL e Republicanos) foram de 178 para 187. As siglas da base aliada, porém, elegeram representantes em todas as unidades da federação.

Norte lidera região dos 'desaparecidos' — Foto: Editoria de arte

Parlamentares de esquerda ouvidos pelo GLOBO atribuem ao impacto do orçamento secreto nas mãos de aliados do governo e também a uma dose de azar na votação as razões para terem sido derrotados nas urnas. Em alguns estados, como Sergipe e Mato Grosso, candidatos do PT estiveram entre os mais votados, mas não conseguiram superar o quociente partidário necessário para garantir uma das vagas.

No Acre, por exemplo, a esquerda deverá ficar sem nenhum representante, salvo alguma reviravolta. A deputada Perpétua Almeida (PCdoB), que está em seu quarto mandato (não consecutivo), foi uma das que não conseguiu se reeleger. Ela relaciona o resultado às novas regras eleitorais.

Para tentar inibir o impacto dos chamados “puxadores de voto”, todos os partidos têm que superar 80% do quociente eleitoral, e cada candidato terá que superar 20% desse número

— A esquerda acabou não fazendo o quociente exigido no Acre — afirma.

Apesar de a força do PT na eleição presidencial estar no Nordeste, foi no Sudeste que a sigla ajudou legendas de esquerda a conseguirem bons resultados. Lula teve 47,54% dos votos válidos na capital paulista, quase 30 pontos a mais do que Fernando Haddad somou na cidade há quatro anos. No Rio de Janeiro, o PT foi de 12% no primeiro turno de 2018 com Fernando Haddad para 43% com Lula neste ano.

Em estados em que o desempenho no interior é mais relevante, o PT e o resto dos partidos de esquerda tiveram mais dificuldades. Um dos casos emblemáticos do efeito do quociente eleitoral ocorreu no Mato Grosso: a deputada federal Rosa Neide (PT) foi a mais votada, mas não conseguiu se reeleger porque a federação que o partido dela integra, com PCdoB e PV, não alcançou os votos necessários. Em publicação nas redes sociais após o pleito, Neide ressaltou que mais do que dobrou sua votação de quatro anos atrás, mas não foi o suficiente.

No Tocantins, a esquerda também não terá mais representante. Presidente do partido no estado, o deputado estadual José Roberto foi um dos candidatos mais votados da legenda nessa eleição, ao lado do atual deputado federal Célio Moura.

— O partido fez a federação com o PCdoB e com o PV e, infelizmente, não conseguimos ter a mesma votação que em outros anos. Outro ponto-chave foi a distribuição de emendas parlamentares — afirma Zé Roberto.

O impacto do orçamento secreto também foi apontado pelo candidato mais votado pelo PT no Sergipe, João Daniel, mas boa parte dos votos na sigla foi anulada porque uma das candidatas — a vice-governadora Eliane Aquino — teve a candidatura impugnada. O Ministério Público apontou que ela não teria se desincompatibilizado de alguns cargos para a disputa da vaga.

A disputa corre na Justiça. No Tribunal Regional Eleitoral do Sergipe, por unanimidade, a candidatura de Eliane foi impugnada e seu registro indeferido. Mas uma decisão do ministro Sérgio Banhos, do Tribunal Superior Eleitoral, acatou os argumentos de Eliane. Caso seus 66.072 voltem a valer, o PT poderá garantir pelo menos uma cadeira no estado.

O Globo