Votação de Lula caiu na margem de erro

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Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Conter a frustração dos eleitores e militantes que apostavam em uma vitória já no primeiro turno e buscar o apoio da candidata do MDB, Simone Tebet, são as duas primeiras tarefas da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após a passagem para a etapa final da disputa presidencial. Apesar dos esforços para liquidar a eleição ontem, o ex-presidente tentou minimizar o resultado e disse que é “apenas uma prorrogação”.

Como forma de não demonstrar desânimo, Lula decidiu celebrar com apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo, a passagem ao segundo turno. Inicialmente a previsão era que ele fosse ao local apenas se vencesse já na etapa inicial.

— Para desgraça de alguns eu tenho mais 30 dias para fazer campanha. Vai ser a primeira chance de fazer um debate tête-à-tête com o presidente da República, para ver se ele vai continuar contando mentira, para a gente fazer comparações com o país que ele construiu e o que a gente construiu. Eu quero dizer para vocês que começo amanhã a fazer a campanha — afirmou Lula em pronunciamento.

É provável que Lula faça um comício ainda nesta semana. Em 2018, o então candidato petista Fernando Haddad chegou a paralisar as atividades de rua por dez dias após passar para o segundo turno.

No campo político, Lula, em uma entrevista no sábado, já deu a linha da atuação de sua campanha a partir de agora:

— Nós estaremos dispostos a conversar com quem for necessário conversar, porque nessas horas o que está em jogo é o interesse de melhorar a vida do povo brasileiro, a gente não tem que ficar com melindre de conversar com quem quer que seja. O nosso barco é que nem a arca de Noé, basta querer viver para entrar lá dentro.

Integrantes da campanha já procuraram Tebet e a candidata derrotada do União Brasil, Soraya Thronicke. Ambas sinalizaram estar abertas a conversar.

Há a possibilidade de que Soraya se reúna com interlocutores de Lula na terça-feira, possivelmente em Brasília. A linha direta mantida entre o presidente do União Brasil, Luciano Bivar, e o ex-presidente tende a facilitar a negociação. Os petistas avaliam oferecer para Tebet espaços num futuro governo, inclusive um ministério, a depender do desenrolar das negociações.

As tratativas com o MDB começaram antes mesmo do primeiro turno. Integrantes da cúpula do partido admitem que há conversas abertas com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Uma reunião deverá ocorrer nas próximas 48 horas. Lula já tem apoio de diretórios do MDB em estados do Nordeste. Com relação ao ex-presidente Michel Temer o diálogo é mais complicado, pois Lula continua a chamar o sucessor de Dilma Rousseff de “golpista”, como fez no debate da TV Globo.

Na entrevista de sábado, o candidato do PT também mandou um recado ao PDT. O tom adotado por Ciro Gomes durante a campanha torna uma aproximação com o presidenciável inviável, mas o seu partido deve ser procurado diretamente.

— Se você não conversar com quem não quer conversar, você vai conversar com o partido — disse Lula.

O presidenciável petista tem boa relação com o presidente do PDT, Carlos Lupi. Além do MDB e do PDT, Lula deve se empenhar em obter novos apoios de tucanos, ligados à ala histórica do partido, como José Serra.

Outra possibilidade é conseguir uma declaração mais direta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que divulgou no dia 22 uma carta em que pedia “aos eleitores que votem em quem tem compromisso com o combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos independentemente da raça, gênero e orientação sexual”, sem citar qualquer nome.

Lula vai para o segundo turno sem palanque em dois dos maiores colégios eleitorais, Minas e Rio, onde os governadores Romeu Zema (Novo), antipetista, e Cláudio Castro (PL), aliado do presidente Jair Bolsonaro, respectivamente, foram reeleitos. E em desvantagem em São Paulo, onde Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato do atual titular do Palácio do Planalto, teve desempenho melhor do que Fernando Haddad (PT).

Com 99,23% das urnas apuradas, Lula tinha 48,25% dos votos. Esta é a sexta vez que ele concorre à Presidência. Nas duas em que foi eleito a vitória se deu em segundo turno. Em 2002, o petista foi para a fase final da disputa contra José Serra (PSDB) com 46,44%. Quatro anos depois, esse percentual foi de 48,61%.

Em São Paulo, Bolsonaro venceu com 48%, com 99,5% das seções contabilizadas. Lula marcou 41%. As pesquisas divulgadas na véspera da eleição indicavam vantagem para o petista no estado.

O presidente também teve desempenho melhor do que o previsto em Minas. Ipec e Datafolha indicavam no sábado que Bolsonaro tinha 34% e 33%, respectivamente. Na apuração oficial, teve 44%. No Rio, berço político de Bolsonaro, Ipec e Datafolha mostravam disputa apertada, com o petista numericamente à frente. O atual presidente teve dez pontos acima do alcançado por Lula.

O Globo