Bolsonaro ficou abalado e queria guerra

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Foto: Evaristo Sá/AFP

As quase 45 horas de silêncio desde a noite de domingo, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou o resultado das urnas e a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram marcadas por incertezas, desencontros de informações e um clima de tensão entre auxiliares mais próximos do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os aliados se revezaram na tentativa de convencer o chefe do Executivo a reconhecer a derrota.

Abalado após ser o primeiro presidente da República na História a não conseguir se reeleger, Bolsonaro só aceitou falar com seus ministros na manhã de segunda-feira, quando deixou o isolamento do Palácio da Alvorada, a residência oficial, para reuniões no Palácio do Planalto. Após ouvir uma série de conselhos sobre o tom a adotar na sua primeira manifestação, avisou aos auxiliares que não contestaria o resultado das urnas, mas precisava de tempo para elaborar suas palavras ao país. Foi mais cedo para casa e começou a rascunhar um texto.

Na manhã desta terça-feira, ele voltou a se reunir com ministros no Alvorada logo nas primeiras horas do dia. Estiveram com ele Ciro Nogueira (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Bruno Bianco (Advocacia-Geral da União), Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União, e o ex-ministro da Cidadania e deputado João Roma (PL-BA). Os três últimos, segundo participantes do encontro, foram uns dos que mais atuaram no convencimento do presidente em não adiar mais um declaração.

Antes de fazer o pronunciamento, conversou ainda com o filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e o ex-ministro da Defesa, Braga Netto, que foi vice na sua chapa. Às 10h30, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também chegou à residência oficial.

Um dos pontos em discussão com os auxiliares era se Bolsonaro falaria ou não sobre a transição. Em um primeiro momento, o presidente concordou em incluir o tema em seu texto, mas depois mudou de ideia e não quis fazer qualquer menção ao próximo governo.

Bianco, então, foi um dos mais incisivos em defender a importância do gesto. A solução encontrada foi que o presidente passaria a palavra para o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, para detalhar o processo de transição.

Prestes a fazer o primeiro pronunciamento após perder a eleição, em frente aos jornalistas, com quem teve relação conturbada nos quase quatro anos de governo, ele cochichou com Ciro Nogueira.

— Vão sentir saudade da gente — disse, sem deixar claro se estava se referindo aos repórteres ou aos seus 58 milhões de eleitores.

O Globo