Defesa transformou 7 de setembro em ato bolsonarista

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Foto: Reprodução

Identificado por autoridades de segurança do Mato Grosso do Sul como uma das lideranças de protestos golpistas contra o resultado das eleições, o produtor rural e comerciante bolsonarista Julio Augusto Gomes Nunes procurou o Ministério da Defesa em agosto deste ano para solicitar a inclusão de 27 tratores no desfile militar de 7 de Setembro.

A tradicional parada cívica acabou virando evento de campanha de Bolsonaro e se tornou alvo de uma investigação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que apura abuso de poder político, econômico e uso indevido dos meios de comunicação.

Após o pedido de Julio Nunes, consignado em um e-mail de 15 linhas, os tratores tiveram aval para “turbinar” a comemoração do bicentenário da Independência.

O produtor rural é um dos 18 investigados na ação, ao lado de Bolsonaro, do candidato a vice da chapa derrotada, Braga Netto, do pastor Silas Malafaia e do empresário Luciano Hang.

O relator do caso, ministro Benedito Gonçalves, determinou que os alvos da investigação apresentassem esclarecimentos por escrito sobre as imputações feitas pela campanha lulista, que acusa Bolsonaro de usurpar o Dia da Independência e transformá-lo em comício eleitoral.

Uma das linhas de investigação do TSE busca saber como um grupo privado de apoio ao chefe do Executivo – no caso, produtores rurais, muito atuantes na campanha eleitoral que estava em curso – conseguiu acesso à máquina estatal para colocar, de modo informal e até improvisado, 27 tratores no meio do desfile oficial do bicentenário.

No ofício datado de 18 de agosto, enviado por e-mail, o produtor rural pediu ao chefe de gabinete do ministro da Defesa, Marcio de Souza Nunes Ribeiro, a autorização para a inclusão dos tratores.

No documento, Julio alega que “cada trator representará, simbolicamente, um estado da Federação, com a fixação das bandeiras dos respectivos Estados seguindo a ordem de criação de cada um deles”. O produtor rural identifica como coordenador de apoio no DF do Movimento Brasil Verde e Amarelo, que defende pautas do agronegócio.

A mensagem consta das mais de 1,5 mil páginas do processo que tramita no TSE, obtido pela equipe da coluna.

Depois de ter sido instado pelo TSE a se manifestar, Julio enviou manifestação por escrito, sustenta que os produtores bancaram do próprio bolso o gasto com o envio dos tratores para Brasília e afirma que “jamais teve qualquer contato ou convite por parte do presidente Jair Bolsonaro ou com o Secretário de Comunicação Social”. Ele alega que concentrou os esforços em participar do desfile perante o Ministério da Defesa.

Como as investigações ainda estão no início, o ministro Benedito Gonçalves ainda vai decidir se precisa ouvir a Defesa e se vai determinar a quebra de sigilo bancário e telefônico de investigados, além de realizar depoimentos.

Apesar de os tratores terem efetivamente desfilado no 7 de setembro oficial, entre tropas e grupos de oficiais, não consta ainda nos autos nenhuma resposta oficial da Defesa ao pedido de Julio.

Alvo de investigação do TSE, Julio também entrou na mira do Supremo por conta de um relatório de inteligência produzido pela Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, que o incluiu entre as lideranças de protestos antidemocráticos na frente de quartéis e em rodovias, conforme revelou o Estadão.

O relatório foi enviado ao STF após o ministro Alexandre de Moraes determinar a identificação dos veículos utilizados para bloquear as vias em todo o País, para que possam ser aplicadas multas de R$ 100 mil por hora aos proprietários.

Em suas redes sociais, Julio demonstra ter bom trânsito em Brasília. Posta fotos com o presidente Jair Bolsonaro, a primeira dama Michelle Bolsonaro e até com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

“As (sic) vezes com maus modos, mas com bons princípios, Deus, pátria e família”, escreveu ele em maio de 2021, ao postar foto ao lado de Bolsonaro no Instagram.

Procurada pela equipe da coluna, a defesa de Julio Augusto Gomes Nunes disse que ficou “surpresa” com a ação no TSE. Alegou, ainda, que a participação dos tratores no desfile foi um ato solicitado e autorizado pelo Ministério da Defesa, “tão somente para demonstrar a importância do agro”.

Sobre a participação do produtor rural nos protestos depois das eleições, a defesa informou desconhecer o relatório produzido pela Secretaria de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul.

A equipe da coluna procurou o Ministério da Defesa desde a última segunda-feira (14), mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

O Globo