Kassab, como sempre, põe um pé em cada canoa
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fiador da campanha do governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-ministro Gilberto Kassab (PSD) deve ocupar uma secretaria estratégica no próximo governo e indicar um fiel aliado para comandar uma das pastas mais cobiçadas da administração paulista.
Fontes próximas a Kassab disseram ao Metrópoles que o ex-ministro repensou sua atuação política desde o segundo turno da eleição e optou por assumir um cargo no primeiro escalão do governo Tarcísio em vez de negociar um ministério no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O cargo mais provável, de acordo com os aliados, é a chefia da Casa Civil, posto-chave do governo para o qual Kassab já foi nomeado pelo ex-governador João Doria (PSDB), mas nunca assumiu de fato porque foi pressionado a se afastar após ser alvo de uma operação da Polícia Federal, no fim de 2018.
Hoje, Kassab articula para ter dois ministérios no governo Lula para o PSD, em troca de apoio da suas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado à administração petista. A meta é emplacar dois correligionários que, desde o início, fizeram campanha para o presidente eleito, a fim de vincular o apoio à bancada e não ao partido.
Por patrocinar a campanha de Tarcísio de Freitas, candidato lançado ao governo paulista pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), Kassab decidiu ficar neutro na eleição presidencial.
Em entrevista ao Metrópoles após a vitória nas urnas, no início do mês, Tarcísio disse que o presidente nacional do PSD preferia atuar nos bastidores em vez de assumir uma secretaria. O cenário mudou. Agora, o ex-ministro das Cidades no governo de Dilma Rousseff (PT) se credencia a homem-forte da gestão do ex-ministro bolsonarista.
Além da sua própria pasta, Kassab também pretende nomear um fiel aliado no comando da poderosa Secretaria de Transportes Metropolitanos, à qual estão vinculados o Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), responsáveis por obras bilionários de transportes sobre trilhos. O orçamento estimado para a pasta no ano que vem é de R$ 13,5 bilhões, o quarto maior da administração.
O cotado para a vaga é Elton Santa Fé Zacarias, que foi secretário de Obras da Prefeitura de São Paulo e secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovação e Comunicações no governo Michel Temer, durante as gestões de Kassab. Zacarias chegou a ser alvo de uma ação de improbidade administrativa, acusado de receber pagamentos ilícitos da Odebrecht, mas foi absolvido pela Justiça paulista.
Um nome certo do PSD no futuro governo Tarcísio é o do ex-ministro Guilherme Afif, que comandou a Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República do governo Dilma, entre 2013 e 2015, além de já ter sido vice-governador do atual vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB).
Logo no início do governo Bolsonaro, em 2019, Afif foi nomeado assessor especial do ministro da Economia, Paulo Guedes, e deixou o cargo em maio deste ano para coordenar o programa de governo da campanha de Tarcísio a governador.
Após a eleição, Afif foi nomeado coordenador da equipe de transição de governo, que começou a trabalhar nesta quarta-feira (16/11), em um hotel na zona sul de São Paulo. Apesar de ser filiado ao PSD de Kassab, a nomeação de Afif para uma secretaria, provavelmente a de Planejamento, tem sido vista por aliados como cota pessoal do governador eleito.