Marina tem concorrente para Meio Ambiente

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Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Em meio a todo o assédio a Luiz Inácio Lula da Silva na Conferência das Nações Unidas para o Clima, a COP-27, uma disputa chamou a atenção dos aliados que acompanhavam o presidente eleito: a “esgrima” entre Marina Silva e Izabella Teixeira pela atenção de Lula.

Ambas ex-ministras do Meio Ambiente e candidatas a voltar ao cargo no próximo governo, Marina e Izabella acompanharam o presidente em várias de suas atividades no Egito – mas na maior parte do tempo não ficaram juntas.

Segundo esses aliados de Lula ouvidos pela equipe da coluna, cada uma procurou demonstrar protagonismo na comunidade internacional de forma diferente.

“Marina andava para todos os lugares com um séquito e exibia seus contatos internacionais e prestígio, enquanto Izabella demonstrava conhecimento técnico e articulação política com a sociedade civil e os ambientalistas”, relatou um político que acompanhou Lula durante quase todo o tempo.

Nas palavras desse aliado, “as duas duelaram à luz do dia pela atenção de Lula”. Marina tomou a iniciativa de pedir uma reunião com o petista logo no início do evento e posou para fotos com ele. Depois, foi a única a ter passe livre para uma reunião de Lula com lideranças indígenas, que vetaram a presença de políticos e outras lideranças não-indígenas.

“A Marina tem um protagonismo fora do comum”, comenta um ambientalista que participou de toda a programação com Lula. “Ela anda pelos corredores e se formam filas de pessoas que querem tirar fotos com ela, Lula sabe disso”.

Já Izabella organizou e protagonizou a reunião com entidades da sociedade civil, em que fez um histórico de reuniões anteriores, mencionando nomes, datas e encontros do passado – além de exibir o inglês fluente em diversos momentos.

Marina e Izabella têm um histórico de atritos, escancarados na campanha eleitoral de 2014. Na época, Marina acusou a então presidente Dilma Rousseff de representar um “retrocesso” na área do desenvolvimento sustentável e acusou a gestão petista de ser “conivente” com o desmatamento na região amazônica – na prática, uma estocada em Izabella, que era a ministra.

Na época, Dilma levou Izabella para a Cúpula do Clima, em plena campanha, para mostrar que o seu governo priorizava a proteção ao meio ambiente. A então candidata à reeleição ainda aproveitou a passagem por Nova York para dizer que fez mais pela Amazônia que Marina.

As duas ex-ministras também já se chocaram em temas delicados da área ambiental, como a construção da usina de Belo Monte e o Código Florestal, ambos criticados por Marina.

Hoje, Marina e Izabella integram um grupo de WhatsApp que reúne ex-ministros do Meio Ambiente das eras Lula e Dilma. No dia do segundo turno, Marina compartilhou com os colegas um artigo de sua autoria, publicado no GLOBO, intitulado “O valor da promessa que une diferenças pela democracia”.

Se os atritos e as diferenças foram deixados de lado, a disputa por influência e poder continua. Tanto Izabella quanto Marina são cotadas para os dois cargos importantes na área de Meio Ambiente que Lula precisará preencher – o ministério do Meio Ambiente em si e o posto de autoridade climática que ele já anunciou que vai criar.

Essa autoridade deve ser um órgão que coordene ações para o combate às mudanças climáticas que envolvam todos os ministérios, e ainda represente o Brasil em fóruns internacionais. Assemelha-se à função criada pelo governo de Joe Biden para o ex-secretário de estado John Kerry, que se transformou no primeiro enviado especial para o clima do governo americano.

Um terceiro lulista corre por fora por uma posição nessa área do governo: o senador Randolfe Rodrigues, que também foi a COP e participou de reuniões com Lula.

Segundo aliados, qualquer das escolhas do presidente eleito terá custos, uma vez que Marina é da Rede, partido pequeno que tem outros ministeriáveis, como a deputada federal Joenia Wapichana para a pasta dos Povos Originários e o próprio Randolfe, que deixou de disputar a reeleição e virou coordenador de campanha de Lula.

Já Izabella é considerada um quadro técnico de alto nível e uma ótima negociadora, mas não é unanimidade no PT.

Apesar da expectativa de que o presidente eleito anunciasse o escolhido para o ministério na própria COP, Lula saiu do Egito em silêncio. A disputa entre Marina e Izabella, porém, já forneceu assunto suficiente para aliados de Lula e ambientalistas atentos.

O Globo