Presidente progressista da Fiesp sofre ameaça de “golpe”

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Foto: Luis Ushirobira/Valor

Em uma reunião tensa, marcada por críticas contundentes à atual gestão da maior entidade de indústrias do país, Josué Gomes da Silva, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou ontem que não há razões jurídicas para a convocação de uma assembleia para discutir seu desempenho à frente da federação patronal paulista.

Com o apoio do ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf, sindicatos ligados à entidade reuniram, em outubro, 78 assinaturas para convocar uma assembleia para pedir a destituição de Josué Gomes, de acordo com fontes. Ao todo, a entidade tem cerca de 130 sindicatos patronais.

Presidente da Coteminas, Josué Gomes foi eleito presidente da Fiesp, indicado por Paulo Skaf, em chapa única pela maioria dos representantes patronais. Ele assumiu o cargo no início do ano.

Após as eleições do primeiro turno, Skaf, que ficou à frente da Fiesp por 17 anos, começou a se reunir com representantes de sindicatos que estavam descontentes com a gestão de Gomes à frente da entidade, segundo interlocutores ligados ao ex-presidente da Fiesp. Para esse grupo, formado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), o atual gestor da entidade não se dedica integralmente à Fiesp.

Em sua gestão, o presidente da Coteminas criou conselhos consultivos para descentralizar determinadas decisões e não reconduziu parte de representantes ligados a Skaf nesses comitês.

No encontro de ontem da diretoria da Fiesp, que durou duas horas e meia, o tema foi colocado em discussão. O presidente emérito da entidade, Nicolau Jacob, foi um dos presentes que puxaram o assunto para debate, segundo três fontes ouvidas pelo Valor. Procurado, Jacob não comentou.

Ao ser questionado pelo grupo de descontentes em relação à sua gestão, Josué Gomes disse que consultou juristas e não vê razões para convocar uma assembleia para discutir seu desempenho à frente da entidade, uma vez que o abaixo-assinado dos sindicatos não é específico em relação às críticas. Segundo ele, a assembleia não é o fórum adequado para discutir o desempenho do presidente da entidade.

Ao Valor, Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), afirmou que defendeu a permanência de Gomes e que o movimento desse grupo de descontentes não pode “rasgar o estatuto da entidade”, uma vez que o executivo foi eleito legitimamente por maioria.

Uma pessoa próxima ao grupo que questiona a gestão de Josué disse que o presidente da entidade não é unanimidade e isso ficou claro na reunião de ontem. Esse grupo ainda analisa como vai conduzir a questão.

Na prática, Josué Gomes teria até o dia 21 de novembro para convocar a assembleia – 30 dias após o registro do pedido pelos representantes patronais.

Filho do empresário José Alencar, vice-presidente da República na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, Josué Gomes também foi alvo de críticas por ter assinado um manifesto público da Fiesp ao movimento em defesa à democracia no dia 11 de agosto.

Procurada, a assessoria da Fiesp informou que não vai comentar assuntos internos da entidade. Skaf não retornou os pedidos de entrevista até o fechamento desta edição.

Valor Econômico